Pesquisa revela que o coordenador não foca a formação

Para ser um bom coordenador pedagógico é preciso ter conhecimento teórico e prático e buscar aperfeiçoamento constante em cursos e palestras. É nisso que acredita a maioria dos educadores que exercem esse cargo nas escolas brasileiras, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope e pela Fundação Carlos Chagas (FCC) para a Fundação Victor Civita (FVC), divulgada em outubro. Contudo, apenas 9% acham que fazer o planejamento pedagógico e buscar melhorias constantes para o ensino e a aprendizagem estão dentro das atribuições de quem exerce bem essa função. "O principal papel dos coordenadores pedagógicos deveria ser a formação em serviço dos professores. Porém a pesquisa mostra que eles dedicam a maior parte do seu tempo a outras atividades", afirma Vera Maria Nigro de Souza Placco, coordenadora do programa de pós-graduação em Educação e Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e responsável pelo estudo.

Os pesquisadores pediram que os coordenadores indicassem os principais problemas que enfrentam na escola. O questionário permitia múltiplas escolhas e, mesmo assim, as frases relativas à gestão da aprendizagem foram escolhidas por apenas 14%. O item mais citado é a falta de disciplina dos alunos (47%), seguido da não-participação dos pais e da comunidade (43%), como se pode ver em detalhes na ilustração abaixo.

A falta de prioridade nas ações voltadas à formação de professores se confirma também quando são investigadas a frequência e a adequação das atividades dos coordenadores:

- 50% atendem a ligações de pais, da Secretaria de Educação e de pessoas da comunidade todos os dias.
- 72% fazem, também diariamente, o acompanhamento da entrada e de saída dos alunos.
- 55% conferem a organização das salas.
- 62% respondem a solicitações do sistema de ensino todo dia ou mais de uma vez por semana.
- 19% substituem os professores que faltam.

O que mais chama a atenção é que grande parte dos entrevistados afirma que o tempo gasto com esses itens é adequado (tanto que a falta de tempo aparece em quinto lugar no ranking dos problemas cotidianos). "Acreditamos que ele esteja conformado e acomodado com essa rotina porque, com ela, deve estar atendendo às expectativas que a direção da escola tem em relação à sua atuação", diz Vera Placco.

Alguns, porém, expressam sua insatisfação: 34% dos entrevistados afirmam querer ter mais tempo para olhar o caderno das crianças e verificar se elas comunicam o que estão aprendendo, 29% gostariam de se dedicar mais a atividades de formação e 26%, de ter mais tempo para o projeto político-pedagógico.

O estudo foi realizado em 13 capitais brasileiras e ouviu 400 profissionais no primeiro semestre deste ano. Trata-se da parte quantitativa de uma pesquisa sobre o perfil do coordenador pedagógico no Brasil, com foco na prática e na importância de seu papel na Educação, prevista para acabar em maio de 2011.

Os problemas do dia a dia
Respostas de múltipla escolha revelam as questões que mais preocupam o coordenador pedagógico

43% reclamam da falta de participação dos pais

47% apontam questões ligadas aos alunos

Dificuldades relacionadas aos jovens
Falta de disciplina	31%
Baixo desempenho escolar	12%
Alunos agridem colegas ou professor	11%
Ausência/falta dos alunos	7%
Falta de motivação/interesse dos alunos	4%
Progressão continuada	4%
Aluno envolvido com drogas ou outros delitos	3%

35% dão respostas relativas à infraestrutura

Implicações da falta de investimentos
Tem menos professores do que deveria	16%
Falta de conservação das instalações	9%
Falta de material didático	8%
Falta de funcionários	6%
Salas muito cheias	5%
Falta de equipamentos	5%

14% indicam aspectos da gestão da aprendizagem

Aspectos que prejudicam a gestão
Faltam objetivos e metas de aprendizagem	7%
Indefinição do papel do coordenador	4%
Falta de preparo do coordenador	2%
Não consigo exercer minha autoridade	2%
Falta de planejamento pedagógico	1%

31% citam problemas com os professores

Preocupação com os professores
Falta de motivação dos docentes	13%
Professores faltam ao trabalho	12%
Docentes com pouca didática	5%
Professores resistem a ideias novas	5%

15% apontam a falta de tempo

Queixas quanto à rotina
Falta de tempo para planejar	10%
Questões administrativas competem com as pedagógicas	7%
Excesso de relatórios	1%