Como fazer o PPP da escola
Segundo especialistas, a elaboração do projeto político-pedagógico precisa contemplar a missão, a clientela, dados sobre aprendizagem, relação com as famílias, recursos, diretrizes pedagógicas, plano de ação da escola
POR: Noêmia LopesPortanto, se o projeto de sua escola está engavetado, desatualizado ou inacabado, é hora de mobilizar esforços para resgatá-lo e repensá-lo.
Dicas práticas para elaborar o PPP
Certas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o acesso da equipe ao projeto político-pedagógico:
- Não é preciso refazer a missão todo ano. Geralmente, ela dura de dois a cinco anos. Deve ser alterada quando a equipe percebe que os princípios já não correspondem às suas aspirações (os objetivos iniciais foram alcançados ou precisam ser modificados), a clientela é outra (aconteceram mudanças na comunidade) ou o contexto escolar teve alterações (introdução do Ensino Fundamental de nove anos ou a chegada da Educação Infantil ou de Jovens e Adultos). Esse trecho deve ser respaldado nos planos municipal ou estadual de Educação.
- Clientela, dados sobre a aprendizagem, recursos, relação com as famílias, diretrizes e plano de ação devem ser revistos e atualizados ao longo do ano - e isso pode ser feito durante as reuniões pedagógicas e institucionais, nos encontros do Conselho Escolar e na semana de planejamento. Para tanto, a cada encontro, defina quem será o responsável por sistematizar os dados e inseri-los
no PPP.
- A linguagem usada deve ser simples.
- O ideal é que o PPP seja montado em um arquivo eletrônico, no computador, e, depois de impresso, colocado em uma pasta arquivo para facilitar o acesso e as alterações durante o ano.
- Professores e funcionários podem receber cópias do documento, quando possível, para que consultem sempre que surgirem dúvidas.
- É interessante elaborar uma versão resumida para entregar aos pais no ato da matrícula.
- Organizar o PPP em um fichário facilita o manuseio, a conservação e a revisão ao longo do ano.
Nas próximas páginas, você vai conhecer detalhes de cada um dos tópicos indispensáveis do PPP e saber onde obter as informações e a melhor forma de organizá-las.
O que é?
Conjunto dos valores nos quais a comunidade escolar acredita e das aspirações que tem em relação à aprendizagem dos alunos. Precisa responder a perguntas como: "Para nós, o que é Educação?" e "Que aluno queremos formar?" Também pode ser chamado de marco referencial.
Por que é importante?
Define a identidade da instituição e a direção na qual ela vai caminhar. Se um dos objetivos é formar pessoas críticas e autônomas, deve-se investir na gestão participativa e em projetos em que todos os segmentos tenham voz e assumam responsabilidades.
Onde buscar informações?
Duas boas referências são os planos municipal e estadual de Educação, quando existirem na rede. Contudo, usá-los como base não exime a escola de detalhar os próprios valores. É preciso que a equipe gestora ouça a comunidade para estabelecer com ela os princípios desejados.
Como fazer?
Os princípios e valores da escola devem ser discutidos em reuniões pedagógicas ou institucionais (com os funcionários) e assembléias do conselho escolar, do conselho de classe e do grêmio estudantil. É papel do diretor participar de todos esses encontros, levar material bibliográfico que possa embasar as discussões e registrar o que foi debatido. Depois disso, a direção também deve fazer a redação deste trecho do PPP - levando em consideração o que dizem os planos municipal ou estadual de Educação, quando existirem -, compartilhá-lo com toda a comunidade escolar e acolher sugestões e críticas.
Como apresentar no PPP?
Em um texto sucinto e objetivo, que comunique a identidade da escola com clareza a qualquer leitor do documento, seja ele professor, funcionário, pai ou aluno.
Quem faz bem feito?
A EMEF Mario Quintana, em Porto Alegre, fica em um bairro sem saneamento básico e com altos índices de desemprego. "Fizemos um levantamento com as famílias para saber as expectativas em relação ao ensino dos filhos", conta a vicediretora, Silvana Conti. Com base nele, foi definido que o PPP seria construído sobre três bases: a Educação popular, para estimular o protagonismo e a participação política; a Educação ambiental, para formar alunos preocupados com o ambiente em que vivem; e o respeito à diversidade, a fim de ter uma comunidade centrada no respeito às diferenças. Os docentes formaram grupos de trabalho que, semanalmente, planejam ações que contemplam esses eixos.
O que é?
Breve histórico da comunidade e da fundação da escola e um levantamento detalhado sobre as condições social, econômica e cultural das famílias.
Por que é importante?
Oferece informações para que a instituição elabore as diretrizes pedagógicas e defina a maneira pela qual vai se relacionar e se comunicar com a comunidade.
Onde buscar informações?
A melhor fonte é a ficha de matrícula (leia mais na reportagem), mas podem ser preparados questionários específicos ou feitas entrevistas com os pais.
Como fazer?
Paralelamente ao processo de elaboração da missão, o diretor deve reunir as informações de todas as fichas de matrícula (e de possíveis questionários complementares preenchidos pelas famílias), organizando-as em tabelas e gráficos por assunto (renda, escolaridade e profissão dos pais, cidade de origem, entre outros).
Para um resultado mais detalhado, pode-se dividir as informações sobre cada assunto também por séries e turmas. Tabulados e analisados os dados, é preciso apresentar o resultado parcial aos demais gestores e aos professores - ainda que faltem etapas para a conclusão do PPP -, de modo que todos conheçam a clientela atendida e possam pensar na melhor forma de desenvolver projetos pedagógicos e institucionais e se relacionar com as famílias.
Como apresentar no PPP?
Em tabelas ou gráficos que organizam os dados e ajudam na visualização das características importantes (como cidade de origem, faixa de renda, grau de instrução e profissão dos pais, religião e hábitos que cultivam). Eles devem estar acompanhados de textos analíticos. Vale lembrar que esta é uma parte do PPP que precisa ser revista periodicamente, pois pode haver mudanças na caracterização do público.
Quem faz bem feito?
A equipe da EMEF Ezequiel Fraga Rocha, em Aracruz, a 79 quilômetros de Vitória, tem cerca de 10% dos alunos morando em aldeias indígenas ou próximo a elas. Os demais vivem em outras áreas rurais e também na cidade. "A diversidade é tanta que reformamos nosso currículo e mudamos as diretrizes no PPP para contemplar de maneira mais ampla a história e a cultura das etnias aqui presentes. Com isso, visamos elaborar projetos que valorizem a origem dos alunos e os conhecimentos que trazem de casa, tornando a aprendizagem mais significativa", relata a diretora, Solange Siqueira Magalhães.
O que são?
Informações quantitativas sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade/série, transferências e resultados de avaliações.
Por que são importantes?
Compõem um retrato da aprendizagem na escola e permitem aferir a qualidade do ensino. "Por trás de cada número de evasão ou repetência, está um problema de ensino que precisa ser solucionado", diz Regina Celi Oliveira da Cunha, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Onde buscar informações?
Nos quadros de aprovação, reprovação e movimentação de alunos preparados para enviar ao Ministério da Educação (MEC) e à Secretaria de Educação, nos relatórios das avaliações externas e nas avaliações internas.
Como fazer?
Enquanto os dados sobre a clientela são tabulados (ou mesmo antes ou depois disso, caso julgue melhor), o diretor, junto com o coordenador pedagógico, deve reunir e tabular as informações sobre matrículas, aprovação, reprovação, evasão, distorção idade-série e transferências, e resultados de avaliações internas e externas. Aqui, também é necessário separar os dados em gráficos e tabelas (por assunto, séries e turmas), produzir textos analíticos sobre eles e depois compartilhar o material com o restante da equipe, a fim de permitir a localização de possíveis problemas e a definição de metas e ações.
Como apresentar no PPP?
Em tabelas ou gráficos por tema (como evasão e aprovação) e por disciplina (para mostrar a aprendizagem de uma área ao longo do tempo), acompanhados de análises.
Quem faz bem feito?
Uma das primeiras medidas que a equipe da EM Bernardo Ferreira Guimarães, em Rio Piracicaba, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, tomou ao começar a elaborar o PPP foram as planilhas de notas. "Detectamos baixo desempenho em Matemática e incluímos no PPP um projeto de apoio pedagógico no contraturno", conta Marisa Bueno de Freitas, diretora da escola, que especificou também os recursos necessários. Os primeiros resultados já aparecem: a maioria dos alunos que participam do projeto está com 70 a 90% de aproveitamento.
O que é?
A definição da maneira como os pais podem contribuir com os projetos da instituição e participar das tomadas de decisões.
Por que é importante?
A escola existe para atender à sociedade e a integração das famílias no processo pedagógico é garantida tanto pela LDB como pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Onde buscar informações?
Cada projeto deve prever um tipo de participação (entrevista com os pais, ajuda na pesquisa etc.). Porém é preciso consultar os instrumentos de identificação da clientela para analisar a viabilidade das propostas.
Como fazer?
Enquanto realiza os três primeiros levantamentos, o diretor também já pode ficar atento à maneira com que a escola se relaciona com as famílias dos alunos, por meio dos instrumentos de identificação da clientela e de conversas com as famílias - seja nas reuniões de pais, no conselho escolar ou mesmo em eventos. Já nos encontros com a equipe, o gestor deve conversar sobre como está a parceria hoje e o que se espera construir no futuro, reflexões que, em seguida, o próprio diretor formaliza em um texto escrito.
Como apresentar no PPP?
Descrição do vínculo que se pretende construir, estabelecendo metas para o fortalecimento do Conselho Escolar e a presença nas reuniões de pais.
Quem faz bem feito?
Um dos desafios que a UE Doutor José Ribamar de Matos, em Vitória do Mearim, a 178 quilômetros de São Luís, enfrentou na formulação do PPP foi afinar a relação com as famílias. Havia dois obstáculos: as reuniões de pais tinham baixa frequência e não havia resposta quando a direção requisitava ajuda nas tarefas de casa. O primeiro foi superado com a mudança na pauta dos encontros. "Em vez de falar só de problemas, passamos a informar sobre os projetos e os avanços das crianças", relata o diretor, João Teixeira de Carvalho Neto. Já o segundo deixou de ser um impedimento para um relacionamento quando, ao analisar os dados da clientela, constatou-se que 65% dos pais têm escolaridade baixa - deixando claro que a pouca ajuda nos deveres não tem relação com a falta de interesse.
O que são?
Descrição da estrutura física da escola (prédios, salas, equipamentos, mobiliários e espaços livres), dos recursos humanos (composição da equipe, qualificação e horas de trabalho) e financeiros (Programa Dinheiro Direto na Escola, via Secretaria de Educação etc.) e dos materiais pedagógicos.
Por que são importantes?
Os inventários deixam explícitas as condições do espaço de que a escola dispõe para desenvolver os projetos, a formação atual da equipe e as necessidade de capacitação e quanto está disponível para reformas, construções, cursos, compra de material pedagógico etc.
Onde buscar informações?
É preciso fazer um levantamento de campo detalhado a respeito de cada uma das áreas - o que pode ser dividido com outros membros da equipe - e solicitar ajuda da secretaria da escola para coletar os dados sobre os funcionários (quantos são, o que fazem e a formação que têm).
Como fazer?
Para reunir todos esses números e informações, é recomendável solicitar ajuda dos colegas, como os profissionais da secretaria da escola (que podem ajudar com dados sobre composição da equipe, qualificação e horas de trabalho) e coordenadores pedagógicos (que sabem a estrutura e os recursos utilizados e almejados para os encontros de formação). O material coletado por eles deve ser somado às pesquisas que o próprio diretor conduz sobre os recursos físicos e financeiros e relatados também pelo gestor em um texto descritivo.
Como apresentar no PPP?
Por meio de relatos escritos sobre a estrutura física, de tabelas mostrando a quantidade e a qualidade dos recursos pedagógicos e humanos e de gráficos com as informações financeiras.
Quem faz bem feito?
Os espaços da EMEI Francisca Pinheiro Teixeira, em Cantagalo, a 182 quilômetros do Rio de Janeiro, ainda não são como a equipe gostaria, mas todos sabem que é importante relatar no PPP a estrutura atual e definir metas para o futuro. "Fizemos uma pesquisa com gestores, professores e funcionários sobre o que funciona e o que falta para melhorar o nosso atendimento. Temos uma sala de multimeios bem montada, mas nos falta uma sala de informática. Para consegui-la, definimos no PPP que vamos buscar ajuda na Secretaria de Educação", diz a orientadora pedagógica, Cássia Ravena Mulin de Assis Medel. Também são descritos os recursos pedagógicos e humanos, em especial a formação continuada e os cursos feitos pelos docentes, a fim de acompanhar a atualização profissional.
O que são?
Formam o currículo da escola e descrevem os conteúdos e os objetivos de ensino, as metas de aprendizagem e a forma de avaliação, por série ou ciclo e por disciplina.
Por que são importantes?
É baseado nelas que a equipe formula planos para implantar programas e projetos e produz indicadores sobre o impacto das ações. "As estratégias devem ser mantidas ou reformuladas de acordo com os objetivos da escola", esclarece Regina Célia Lico Suzuki, diretora de Orientação Técnica da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Onde buscar informações?
Nos dados de aprendizagem da escola, nos referenciais curriculares de Secretarias estaduais e municipais, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), nos indicadores de qualidade e no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Como fazer?
Esta é uma seção do PPP que deve ser conduzida pela coordenação pedagógica e pelos professores da escola, que mantêm contato mais estreito com as necessidades de aprendizagem dos alunos. Assim, o levantamento sobre a situação atual e o cenário desejável pode começar já no início do processo. Depois, cabe ao coordenador responsável pela pesquisa redigir os objetivos e conteúdos de cada área ou disciplina, bem como as expectativas e metas de aprendizagem por série e ciclo, e compartilhar e ajustar o texto com toda equipe.
Como apresentar no PPP?
Em forma de planilha, contemplando todos os itens (conteúdos, metas etc.) por série ou ciclo e por disciplina.
Quem faz bem feito?
Todo início de ano, a equipe da EMEF Conde Pereira Carneiro, em São Paulo, retoma os registros sobre a aprendizagem dos alunos e os compara com os resultados da rede municipal. Assim, nascem as primeiras propostas para o próximo período, contemplando projetos da Secretaria de Educação e os desenvolvidos pela escola. "Incluímos no PPP o que não consta nas diretrizes da rede. Depois da Prova São Paulo (exame de avaliação da rede paulista), recebemos devolutivas sobre o desempenho dos estudantes. Com base nelas, ajustamos nossas diretrizes e elaboramos materiais didáticos internos para trabalhar os conteúdos essenciais", destaca a coordenadora pedagógica, Maria da Conceição Marques Ferreira.
O que é?
Lista completa com todas as ações e os projetos institucionais da escola para o ano letivo.
Por que é importante?
Com base em tudo o que foi pesquisado e estudado nas etapas anteriores do PPP, estabelece o que será feito (na prática) em benefício dos processos de ensino e de aprendizagem para atingir os objetivos definidos inicialmente.
Onde buscar informações?
Em projetos que deram certo em anos anteriores, na própria escola ou em outras unidades com as mesmas necessidades de ensino, em livros de didáticas específicas e junto à equipe técnica da Secretaria de Educação.
Como fazer?
Esta parte do PPP deve, em especial, ser debatida com a equipe de gestores e professores. Assim, todos podem opinar sobre os projetos necessários ao processo de ensino e aprendizagem, conhecer o conjunto do trabalho que entrará em vigor na escola e oferecer ajuda e contribuição naquilo que for possível. Ao final dos debates, fica com os gestores a tarefa de redigir o texto que constará no projeto político pedagógico.
Como apresentar no PPP?
Os tópicos necessários em cada um dos projetos descritos são: objetivos, duração, profissionais responsáveis, parceiros, encaminhamentos, etapas e avaliação.
Quem faz bem feito?
À medida que surgem novas demandas, a EM Parque Piauí, em Teresina, revê o plano de ação do PPP e desenvolve projetos específicos. "Houve um período", conta o diretor, Julinho Silva dos Santos, "em que tínhamos problemas de baixa frequência. Em reuniões de equipe, elaboramos um projeto institucional para acompanhar de forma mais eficaz a presença dos alunos, além da tradicional chamada feita pelos professores. Passamos a entrar nas salas de aula todos os dias e a procurar as famílias." Também há projetos com ações pedagógicas, como um programa de rádio voltado ao aprimoramento da leitura e da oralidade - que, nos últimos anos, melhorou o desempenho das turmas em Língua Portuguesa e na compreessão dos textos em todas as disciplinas.
Comunicação à comunidade escolar
O documento final, com trechos de todas as etapas anteriores, deve ser enviado e submetido ao conselho escolar, para que os representantes de todos os segmentos possam sugerir possíveis alterações. Em seguida, o PPP deve ser divulgado a todos - uma cópia fica acessível na secretaria da escola, tanto para consulta como para atualizações ao longo do ano, e uma cópia é entregue à Secretaria de Educação.
Quer saber mais?
CONTATOS
EM Bernardo Ferreira Guimarães, tel. (31) 3854-3037
EMEF Conde Pereira Carneiro, tel. (11) 5631-9575
EMEF Ezequiel Fraga Rocha, tel. (27) 3296-1075
EMEF Mario Quintana, tel. (51) 3250-5021
EMEI Francisca Pinheiro Teixeira, tel. (22) 2555-4982
EM Parque Piauí, (86) 3215-7962
UE Doutor José Ribamar de Matos
BIBLIOGRAFIA
Planejamento Dialógico: Como Construir o Projeto Político-Pedagógico da Escola, Paulo Roberto Padilha,
160 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 28 reais
Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico, Celso dos Santos Vasconcellos, 208 pág., Ed. Libertad, tel. (11) 5062-8515, 40 reais
Projeto Político-Pedagógico: Construção e Implementação na Escola, Cássia Ravena Mulin de Assis Medel, 128 págs., Ed. Autores Associados, tel. (19) 3249-2800, 29 reais
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