O reforço que funciona
Realizar um trabalho constante ao longo do ano é a melhor forma de lidar com os diversos níveis de aprendizagem em sala de aula
POR: Verônica FraidenraichNenhum aluno gosta de ficar de recuperação. Além de ter de enfrentar um possível rótulo - "criança com dificuldade de aprendizagem" -, os estudantes nessa situação encaram a pressão de serem obrigados a fazer uma única prova, decisiva, para saber se serão aprovados ou não. Hoje, porém, sabe-se que não é recomendável esperar o fim do ano para ajudar os que não têm o desempenho esperado. Isso porque em uma turma sempre existirão diferentes níveis de aprendizagem - e isso não quer dizer que os alunos não tenham capacidade de aprender, apenas que cada um avança com ritmo próprio. À escola cabe, portanto, detectar a diversidade presente nas salas de aula e criar condições para que os conteúdos trabalhados, quando não são bem compreendidos, sejam retomados em classe com novas atividades e estratégias
de ensino.
Esse é o tema da reportagem de capa da edição de setembro de NOVA ESCOLA, que responde a 11 dúvidas que os professores enfrentam sobre o assunto - do diagnóstico à lição de casa. "A recomendação é avançar e retroceder ao mesmo tempo, fazendo com que quem atinge o conhecimento esperado continue aprendendo, enquanto os demais trabalham as dúvidas assim que elas surgirem", diz Maria Celina Melchior, professora de pós-graduação em Educação e coordenadora pedagógica da Faculdade Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre.
Para saber com que alunos é possível ir adiante e com quais é preciso retomar os conteúdos, é necessário usar bem as ferramentas de avaliação. O diagnóstico inicial, as provas, a observação de sala de aula, as atividades de sondagem, as tarefas de casa e a análise de cadernos e portifólios são alguns dos instrumentos que ajudam a ter um panorama da turma. O que não vale é olhar apenas as notas das provas. "As avaliações bem feitas têm questões e atividades que já foram trabalhadas em sala de aula e não criam 'pegadinhas' para o aluno", afirma Cipriano Luckesi, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Com os resultados, a coordenação pedagógica pode orientar a equipe docente a organizar as informações. As dificuldades apresentadas em determinada disciplina podem ser classificadas de acordo com o conteúdo e a frequência com que aparecem. Isso dará mais clareza em relação aos pontos que devem ser retomados. Quando um ponto não foi entendido pela maioria do grupo, o melhor é procurar com o professor uma abordagem diversificada da usada até então e orientá-lo a retomar o tema com a classe toda. Caso a conclusão seja de que a turma apresenta dificuldades diferentes, o ideal é formar grupos e oferecer atividades específicas para cada um. Pode ser também que apenas um aluno esteja com problema em determinado ponto. A sugestão, então, é oferecer a ele um conjunto de atividades que podem ser feitas em casa e depois corrigidas pelo professor.
Também é função dos gestores ajudar na organização dos agrupamentos de trabalho em sala de aula. Rose Maria Antunes de Barros, coordenadora pedagógica da Escola Castanheiras, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, e autora de um estudo sobre grupos de apoio em escolas, dá algumas sugestões. Para atender os diversos grupos ao mesmo tempo, o professor tem de fazer um bom planejamento das aulas, com sequências didáticas ajustadas às necessidades de aprendizagem. O interessante é que o coordenador pedagógico colabore na construção de um banco de atividades variadas, que o docente deve ter no seu arquivo, para usar quando necessário e contemplar o maior número possível de alunos. Também é importante orientá-lo a alternar o uso de materiais pedagógicos - como vídeos, músicas e revistas - e estratégias diversificadas - aulas expositivas, estudos de campo, pesquisas e trabalhos em grupo - como uma maneira de atender às diferentes formas de os estudantes aprenderem.
Se as atividades de reforço precisarem ser realizadas em horários no contraturno, cabe aos gestores garantir um espaço ideal para que elas aconteçam. O professor titular da turma necessita ainda de um tempo reservado para a troca de informações com o colega responsável pela recuperação. Na pauta do encontro, devem estar as necessidade dos alunos e a maneira com que eles serão acompanhados e avaliados para ter a garantia de que possam continuar avançando.