Ser gestor é muito mais do que estar gestor
As decisões de um gestor não são passageiras. Suas ações se refletem na escola e em toda a comunidade
POR: Terezinha Azerêdo RiosTerezinha Azerêdo Rios é graduada em Filosofia e doutora em Educação.
Alguns educadores dizem que são profissionais da Educação. Outros preferem se apresentar como trabalhadores dessa área. Há diferença entre as denominações? Em busca de resposta, vale explorar o significado guardado em cada um dos conceitos que dizem respeito ao universo do trabalho.
O ser humano é definido pelo trabalho. É por meio dele que se constrói a história e se configuram as sociedades, na medida em que é com os outros que cada um de nós trabalha, cria e transforma a cultura. Nessa relação, se estabelecem formas peculiares de associação, são criados sentidos e a vida e a realidade se revestem de valor. Pelo trabalho, com base na ação criadora, transitamos de uma natureza humana (concebida como algo de caráter imutável) para uma condição humana. E só assim ultrapassamos o determinismo da natureza e definimos não só um espaço de vida mas também um estilo de vida. Em outras palavras, construímos um mundo do jeito humano.
E como o trabalho se transforma em profissão? Isso acontece quando há uma conjugação de saber e fazer no contexto social e são definidos os papéis para os indivíduos, de acordo com determinadas expectativas da sociedade. Embora desempenhemos inúmeros papéis em nossa vida, o profissional é aquele que, de forma orgânica e sistemática, serve como uma referência para nossa identificação na sociedade. Se me perguntam quem sou, aqui e agora, digo que sou professora. Meu ofício me define.
Os papéis sociais são análogos aos dramáticos. A diferença é que esses últimos são representados por atores e, nos primeiros, são as pessoas que ocupam o próprio espaço na cena social. As coisas não são diferentes quando se trata do cargo que se tem na escola. Diretor, coordenador pedagógico e supervisor - sejam eles efetivos ou temporários - não estão representando outras pessoas ao assumir essas posições. Eles desempenham o papel de educadores, numa posição que exige um comportamento específico pela função exercida.
Para todos os papéis sociais, seja na vida particular ou no espaço público, há prescrições e deveres e uma espécie de script, que devemos seguir, a que temos de responder. É por isso que a responsabilidade é o núcleo da ação moral e do posicionamento ético. Respondemos sempre por nossas ações e assumimos compromissos. Por isso, soa estranho para nós, educadores, dizer que não somos um determinado profissional, mas que apenas estamos num cargo. Na verdade, quando estamos sendo, somos. Quando exercemos a função de gestor, nossa responsabilidade não é transitória, como pode ser a passagem pelo cargo. O compromisso nunca é passageiro: sempre tem implicações que dizem respeito a todos os que fazem parte do contexto em que exercemos a função.
O trabalho de gestor pode ser realizado por diversos profissionais. Na escola, os gestores são trabalhadores cuja ação ganha especificidade em virtude da posição que ocupam. Mas não são "profissionais transitórios". Eles são, sim, gestores e terão mais êxito quanto mais consciência tiverem de sua responsabilidade e se comprometerem - permanentemente - com a ampliação da qualidade do trabalho de todos.
É graduada em Filosofia e doutora em Educação.
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