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Renovação após tragédia

A diretora Quitéria Alves Calado de Melo conta como a inundação na EE Manoel de Matos motivou a reaproximação com a comunidade

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Quitéria Alves Calado de Melo
Quitéria (ao centro) conseguiu adesão de alunos e pais para reconstruir a escola. Foto: Marco Antonio Barros
União e trabalho Quitéria (ao centro) conseguiu adesão de alunos e pais para reconstruir a escola

"Era junho de 2010 quando o Rio Mundaú transbordou. Nossa pequena cidade, Santana do Mundaú, foi parcialmente destruída. Na EE Manoel de Matos, apenas as paredes resistiram. Ninguém morreu, mas móveis e documentos foram perdidos, e as redes elétrica e hidráulica ficaram comprometidas.

A tragédia atingiu a todos, muitos funcionários e alunos perderam suas casas. Eu era diretora adjunta e assumi a direção quatro meses depois, então ajudei a coordenar o processo de reconstrução da escola. Para conseguir recuperar parte da documentação, contatamos a Secretaria Estadual de Educação, que nos enviou cópias do que possuía. Também foi preciso usar uma bicicleta com som para convocar as famílias para renovar as matrículas.

Para a primeira limpeza, organizamos um mutirão e conseguimos a adesão de funcionários, pais, alunos e até mesmo vizinhos sem filhos em idade escolar. Depois, a secretaria enviou ajuda para retirar o entulho. Tivemos que refazer toda a parte elétrica e hidráulica e os móveis foram emprestados de instituições de outras cidades.

A ajuda da comunidade foi fundamental. Acho que o sofrimento nos uniu. A Manoel de Matos é a única que oferece Ensino Médio no município e sempre fomos referência, mas após a enchente aumentou a valorização e a confiança em nosso trabalho. Um indicador é o fato de termos ficado dois anos sem muro e, ainda que muitos alertassem para o risco que corríamos, não fomos assaltados.

Outro fator representativo é o aumento da frequência nas reuniões de pais. Conseguimos envolvê-los mais no acompanhamento da Educação das crianças e dos jovens. Criamos o projeto Dia da Família na Escola, que ocorre a cada dois meses. Nessas ocasiões, fazemos a acolhida dos responsáveis e organizamos palestras ou debates com coordenadores, psicólogos, assistentes sociais e profissionais da saúde, de acordo com o tema escolhido para ser abordado. Depois, todos são levados para as salas de cada turma, onde é apresentado o desenvolvimento pedagógico dos estudantes, e sempre reservamos um momento para que os pais expressem o que esperam da instituição.

Também recebemos um apoio importante de nossos ex-alunos. Um grupo que cursava a Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) se prontificou a dar palestras aos jovens que estão no Ensino Médio e mostrar a importância de terem estudado na EE Manoel de Matos. Foi um incentivo essencial, porque, após a inundação, muitos queriam parar de estudar ou mudar de cidade.

A parceria com esses ex-alunos ainda rendeu a criação de um curso pré-vestibular. Eles se ofereceram para dar aulas voluntariamente para preparar os estudantes dos últimos anos para os exames de ingresso nas universidades. Muitos professores se animaram a colaborar e dar aulas.

A postura dos gestores e docentes é outro aspecto que mudou após a enchente. Antes, nos mantínhamos distantes dos conflitos entre estudantes e dos motivos que levavam à evasão. Agora, estamos mais participativos e estimulamos o diálogo, promovendo debates e conversas particulares com os alunos para tentar resolver o problema. Isso tem sido possível porque, durante o processo de recuperação, criamos laços mais fortes. Ao perceber os resultados positivos dessa maior aproximação, resolvemos mantê-la com os novos, que não estavam na escola naquela época. Percebi a importância de atitudes simples como saber o nome de cada criança e jovem.

O maior conhecimento sobre a realidade das famílias que atendemos nos levou a criar um programa para alfabetizar pais e mães. São 23 pessoas que irão integrar a primeira turma.

Hoje temos 726 alunos do 7º ao 9º ano, do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Até dezembro, devem ser concluídas as obras do nosso novo prédio, para onde devemos nos mudar no início do próximo ano. A transferência é necessária porque o risco de outro desastre permanece, uma vez que a escola atual fica muito próxima da margem do rio que derrubou nossas paredes, mas que também nos uniu."

Quitéria Alves Calado de Melo é diretora da EE Manoel de Matos, em Santana do Mundaú, a 100 quilômetros de Maceió.

Resolveu um problema em sua escola de forma eficiente? Conte para nós.

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