Por um planeta em equilíbrio
Para formar cidadãos conscientes, a escola deve atualizar conceitos e modificar práticas em relação às questões ambientais
POR: Noêmia LopesDiariamente, os noticiários divulgam reportagens sobre a situação ambiental em diferentes regiões do planeta, revelando o impacto das ações humanas sobre o equilíbrio da Terra. A temática dessas notícias já está presente nas escolas e nas salas de aula brasileiras. Sabe-se, porém, que não basta falar sobre elas. É preciso que a equipe escolar tenha informações atualizadas, alie o discurso à prática e dê oportunidades cotidianas para que os alunos, os funcionários e a comunidade incorporem novas atitudes voltadas à preservação da natureza. Para ajudar professores e gestores a cumprir essas tarefas, a revista NOVA ESCOLA lançou a edição especial Meio ambiente (nas bancas até 24 de julho) com reportagens, artigos e infográficos que mostram o que há de mais recente sobre água, energia, clima, consumo e sustentabilidade.
Os especialistas consultados são unânimes em afirmar que a abordagem de tais conteúdos deve ser feita sempre de maneira contextualizada. "O professor não tem de trabalhar em sala algo discutido em termos mundiais, mas aquilo que possa fazer diferença na vida dos estudantes e da comunidade", afirma Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora da área de Geografia do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Isso não quer dizer que nunca serão feitas abordagens mais abrangentes sobre a questão ambiental. O desafio é pensar globalmente e agir localmente. Por exemplo, participar de um projeto de reflorestamento do entorno da escola pode tornar a discussão sobre o desmatamento da Amazônia mais significativa para crianças e adolescentes que moram no sul do país. O problema da diminuição das áreas verdes no planeta fica, assim, mais próximo ao cotidiano dos alunos, que aprendem a importância de combatê-lo e descobrem, na prática, como ajudar.
Conhecer os recursos naturais para ensinar novos valores e atitudes
Além de apostar na contextualização dos temas ambientais, é preciso estudar e manter-se atualizado - o que, vale lembrar, não é responsabilidade apenas dos professores de Ciências e Geografia. Pesquisas sobre a água mostram que é preciso diminuir o consumo no curto prazo para barrar a ameaça de escassez e que mesmo o Brasil, dono de grandes reservas, precisa redobrar seus cuidados. "Há muito desperdício. A distribuição não combina com as necessidades da população e a poluição é um problema", diz José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, no interior de São Paulo.
Já em relação ao aquecimento global, os pesquisadores alertam que o impacto das ações humanas sobre o clima ultrapassou os limites aceitáveis e, por isso, é mais do que hora de mudar nosso estilo de vida. "Atualmente, somos 6,6 bilhões de habitantes consumindo o que existe sobre a superfície terrestre a um ritmo superior ao da capacidade de reposição do planeta. Estima-se que consumimos 25% além do que o meio ambiente consegue repor", alerta Emerson Galvani, geógrafo e professor da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A abordagem desses e outros assuntos em projetos implantados na escola requer alguns cuidados:
- Tratar os recursos naturais principalmente pela ótica do consumo consciente.
- Explicar que os fenômenos da natureza só provocam tragédias em áreas ocupadas pelo homem, em vez de mostrá-los como vilões.
- Abordar as questões ambientais de maneira interligada e não falar sobre elas isoladamente.
- Promover a redução do consumo e a reutilização de produtos, e não somente o processo de reciclagem (nem sempre é vantajoso).
- Fazer discussões com base no conhecimento científico e integrar os alunos nas decisões da escola, sem impor ações sem contexto nem significado para eles.
Ficar atento a tais pontos e implantar um projeto político pedagógico que privilegie o cuidado com o meio ambiente pode parecer uma atitude pequena diante das consequências que a humanidade já causou à vida na Terra. Porém provoca um grande impacto na aprendizagem dos alunos e muda a maneira como eles se relacionam com a natureza - uma esperança para recuperar o equilíbrio do planeta.