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Leitores e escritores em formação

Para escrever com qualidade, os alunos precisam ler bem e saber o que querem comunicar, para quem e com qual finalidade

POR:
Noêmia Lopes
Ilustrações: Daniella Domingues e Otávio Silveira
GÊNEROS EM FOCO As crianças precisam trabalhar com contextos reais para aprender de verdade.
Ilustrações: Daniella Domingues e Otávio Silveira

Durante muito tempo, trabalhar a escrita na escola era sinônimo de propor a produção de narrações, descrições e dissertações. Hoje, sabe-se que isso não basta para que as crianças aprendam a escrever. É imprescindível levar em consideração, antes da produção textual, quem serão os leitores e qual é a mensagem a ser transmitida - só assim é possível decidir as estratégias mais eficientes para colocar as ideias no papel.

Na edição especial Produção de Texto, da revista NOVA ESCOLA, estão reunidos os conteúdos e procedimentos necessários para que todos os alunos aprendam a redigir com qualidade. De acordo com Mirta Torres, pesquisadora argentina entrevistada no especial, isso só é possível quando o escritor tem um propósito claro. A sua produção será lida por crianças menores ou pelos pais? Estará em um livro ou em um mural? "Embora em muitas situações escolares, o texto não tenha outra finalidade a não ser escrever para aprender a escrita, é fundamental gerar condições didáticas com sentido social. Elas devem garantir a construção de produções contextualizadas, que ultrapassem os muros da escola."

Isso quer dizer que composições de tema livre e redações devem ser substituídos por textos com objetivo, suporte definido e meio de veiculação próprios. O ponto de partida para essa mudança é colocar as turmas em contato com os mais variados gêneros, como notícias de jornal e revista, receitas, cartas para órgãos públicos, bilhetes para amigos, regras de jogos, poemas, instruções, livros de ficção e críticas literárias, entre tantos outros. Porém, durante o processo de ensino desses conteúdos, é preciso oferecer oportunidades reais de utilizá-los no dia a dia e não apenas enumerar as características de cada um.

Apostar em atividades de leitura estimula o desenvolvimento de comportamentos leitores, importantíssimos na tarefa de escrever bem. "A familiaridade com vários textos fornece modelos e conhecimento sobre outros gêneros e estruturas. Devemos ler como escritores: voltar ao texto para verificar de que maneira um autor resolveu um problema semelhante ao que todos temos na hora de escrever", diz Mirta.

Com isso, fica claro que, no desenvolvimento da habilidade da escrita, o foco não deve estar somente em questões gramaticais e ortográficas. Elas realmente são importantes no ensino de Língua Portuguesa, mas a maneira de elaborar o discurso também deve receber uma atenção especial.

O papel do gestor na melhoria da produção de textos dos alunos

Quem aplica as atividades de produção de texto em sala de aula é o professor, mas você, diretor, também tem grandes responsabilidades nessa área. Faz parte de seu papel dar condições de acesso a materiais de leitura que contemplem gêneros variados e acompanhar o processo de aprendizagem.

Para verificar a eficácia da proposta vigente em sua escola, é importante fazer um levantamento abrangente, que envolva perguntas como: os professores leem para as turmas? Os alunos têm chance de conhecer diferentes suportes de texto e aprimorar sua familiaridade em relação a eles? Esse trabalho é desenvolvido com todas as classes, independentemente da série? Crianças e jovens sabem que a revisão é parte fundamental do processo de escrita? Na hora de revisar, os computadores são usados como ferramenta de aperfeiçoamento? Os alunos têm acesso à biblioteca e ela guarda exemplares de todos os gêneros necessários? Em cada faixa etária, o resultado em ortografia e pontuação condiz com o esperado?

Além disso, o diretor deve verificar com o coordenador pedagógico se os textos das turmas são elaborados dentro de contextos reais e se passam por cada uma das etapas essenciais da produção. Segundo Mirta, "a escrita propriamente dita leva tempo: se escreve e se relê para saber como prosseguir, o que falta, se está indo bem, se convém substituir algum parágrafo ou reescrever tudo. O processo de leitura e correção não é posterior à escrita, mas parte dela. Ao considerá-lo terminado, o passo seguinte é reler ou dar para outro leitor fazer isso e opinar. Só então, passa-se o texto a limpo com o formato mais ou menos definido. Contudo, as etapas não devem ser enumeradas porque não são fixas e sucessíveis".

É também com o coordenador pedagógico que o diretor pode discutir falhas existentes no processo de ensino e conversar sobre projetos de formação para a melhoria da aprendizagem em leitura e escrita - da elaboração de enredos à forma final.