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Monitoria aluno-aluno: uma conversa paralela positiva

Colaboração entre estudantes é uma boa ferramenta para aprimorar a aprendizagem

POR:
Caroline Ferreira
Docentes discutem atividades com tutores na EREM Professor Trajano de Mendonça. Foto: Agência Lusco
Trabalho de equipe Docentes discutem atividades com tutores na EREM Professor Trajano de Mendonça

Um dos grandes desafios dos educadores é lidar com as diferenças nos níveis de conhecimento da classe. Entre as atividades que podem ser planejadas para atender às necessidades de aprendizagem de todos está a chamada monitoria aluno- aluno, quando os próprios estudantes colaboram com os colegas. "Essa prática sai da rotina tradicional em que o professor fala e a turma escuta. Com ela, os mais experientes em determinado conteúdo podem colaborar com os demais, o que agiliza e facilita o aprendizado", destaca o pesquisador Fernando Rezende da Cunha Júnior, doutorando em Tecnologias Educacionais pela Universidade Livre de Amsterdã.

A atividade pode ser aplicada a qualquer disciplina dos ensinos Fundamental e Médio, desde que as diretrizes para a realização dela estejam muito claras, como indica o projeto institucional que acompanha esta reportagem. "Se as regras não forem conhecidas pela equipe pedagógica e pelos alunos, corre-se o risco de ter apenas um trabalho em conjunto em vez de grupos tutorados por monitores", alerta Júnior.

Assim, a gestão tem de se comunicar bem e de maneira constante com todos os envolvidos. "A coordenação pedagógica precisa promover uma série de encontros para a discussão das regras e para a operacionalização das ações", explica Mara Pavani, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).

Pode-se organizar a monitoria de diferentes maneiras. Há escolas em que os tutores acompanham os colegas durante as aulas e outras em que são reservados horários no contraturno para isso. Geralmente, a escolha dos participantes é feita pelos professores, pois eles têm mais condições de saber quem poderá colaborar na compreensão dos conteúdos. Pode-se, também, realizar uma organização mais participativa e deixar que as crianças e os adolescentes contribuam com a definição dos detalhes do processo.

Simone Carvalho da Silva, professora da EM Ivo Silveira, em Capinzal, a 378 quilômetros de Florianópolis, uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10 em 2013, criou um projeto de monitoria para a disciplina de Matemática com critérios bem claros (leia mais sobre o trabalho dela aqui). Para ser monitor, o aluno deveria demonstrar comprometimento com a iniciativa, gostar de compartilhar conhecimento, ter um bom desempenho nessa disciplina e estar disponível para comparecer às reuniões de orientação no contraturno.

Formar para cooperar

Depois que o grupo de tutores é formado, o trabalho do docente não termina. Ele precisa continuar atento aos desdobramentos e contar com o apoio da gestão para planejar e implementar melhorias. A escola também precisa tomar cuidado para que não haja rótulos para quem é monitor ou não. A atividade tem de ser vista como algo colaborativo e não como uma disputa. O rodízio constante de integrantes do grupo ajuda a evitar esses problemas.

Independentemente do formato, um aspecto essencial para o sucesso dessa prática é a preparação dos alunos, tanto no que diz respeito aos conteúdos quanto ao entendimento sobre o que é ser monitor. "Deve-se promover reuniões periódicas de estudo para fornecer subsídios aos participantes, além de estabelecer a dinâmica para ações como a correção de tarefas e a divisão de quem ficará sob a responsabilidade de cada um", destaca Mara. Além disso, de acordo com Júnior, os estudantes precisam entender a função dessa iniciativa, que vai além de uma simples ajuda a um colega de classe. "Quando se colabora, há um exercício de dedicação mútua, ou seja, todos trabalham juntos para resolver um problema", diz o pesquisador.

É nessa perspectiva, acrescida da ideia de incentivar o protagonismo juvenil, que a EREM Professor Trajano de Mendonça, em Recife, tem estruturado a monitoria desde o início de 2014. O coordenador pedagógico da instituição, Paulo Alexandre Filho, conta que é importante acolher e valorizar iniciativas que colocam os alunos na condição de participantes ativos. "Ao se ver como um agente relevante, o jovem percebe que a gestão, a equipe pedagógica e os estudantes ensinam e aprendem juntos", considera.

Algumas ações sistematizadas na instituição são a revisão de conteúdos em grupos, realizada no contraturno, os estudos preparativos para as avaliações e o acompanhamento durante a aula, todos monitorados por alunos, com orientação prévia dos professores. Em reuniões periódicas, os docentes ajudam os alunos-tutores a elaborar as atividades de apoio, sugerem materiais e explicam o que será realizado em classe. "Com algumas dessas ações iniciadas há quatro anos, nossos resultados vêm sendo progressivamente melhorados em avaliações externas e em metas pactuadas com a Secretaria de Educação", comemora o coordenador.

Acompanhamento e avaliação

Durante a implantação da monitoria, é indispensável seguir de perto o processo, mensurar os resultados e garantir a continuidade, com as mudanças que forem necessárias. Seguindo esses princípios, a EE Dom Orione, em Curitiba, completa quatro anos dessa iniciativa. "Os alunos-monitores têm uma reunião mensal com a direção, os docentes e os pais para relatos, sugestões e críticas", conta a diretora Maria Ivonete Favarim Vendrametto. "Os apontamentos feitos são analisados e avaliados para ver o que deu certo ou não e, assim, melhorar o que for necessário. Além disso, recolhemos informações desse encontro para levar ao conselho de classe."

Na instituição, há várias modalidades de monitoria. Em uma delas, os estudantes servem de apoio para o professor na organização da sala de aula. Na iniciativa voltada à melhoria de aprendizado, os monitores são chamados de padrinhos e os demais são os afilhados. No início do segundo bimestre, os que querem ser tutores se candidatam e passam a receber orientação e acompanhamento da gestão da escola.

O atendimento é individualizado (um padrinho é responsável por um afilhado) e há uma troca intensa entre os dois todos os dias. É comum que a dupla chegue antes do horário da aula para conversar sobre algum conteúdo e que mantenha contato quando está fora da escola para lembrar de prazos e estudos importantes. A prática faz parte do projeto político-pedagógico (PPP) da instituição. O resultado, segundo a diretora, foi muito positivo: a média de aprovação, que era em torno de 60%, alcançou, após a implantação do projeto, em 2010, o índice de 94,6%.