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É preciso atrair os melhores candidatos a professor

Estudo revela: poucos jovens querem ser professores. Saiba o que você, gestor, pode fazer para mudar essa situação

POR:
Fernanda Salla, Ivan Paganotti, GESTÃO ESCOLAR, Rodrigo Ratier
gráficos
Uma profissão desprestigiada: carreiras ligadas à docência aparecem mal colocadas na lista de preferências dos jovens do Ensino Médio

Quando se fala em escolha profissional, uma impressão parece ter se espalhado pela sociedade: cada vez menos jovens querem ser professores. A julgar por uma pesquisa encomendada pela Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC), essa ideia - infelizmente - está correta. De acordo com a sondagem, somente 2% dos estudantes do Ensino Médio tem a Pedagogia ou alguma licenciatura (as duas carreiras mais ligadas à sala de aula) como a opção principal no vestibular.

Patrocinado pela Abril Educação, pelo Instituto Unibanco e pelo Itaú BBA, o estudo ouviu 1.501 alunos de 3º ano do Ensino Médio em 18 escolas públicas e privadas de oito cidades do país. Nos dois tipos de instituição, as profissões da área educacional estão longe dos primeiros colocados no ranking de escolhas para a faculdade (leia os gráficos acima). Nas públicas, a Pedagogia surge no 16º lugar e, nas particulares, em 36º. "Essas informações confirmam que a carreira tende a ser procurada por jovens vindos da rede pública, que em geral pertencem a nichos sociais menos favorecidos", afirma Bernardete Gatti, da FCC e coordenadora da pesquisa.

É um perfil semelhante ao dos atuais universitários da área. Segundo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), 80% dos graduandos em Pedagogia cursaram o Ensino Médio em escola pública (68% fizeram todo esse segmento nesse tipo de instituição). O pior: 30% deles são recrutados entre os alunos com piores notas. Ou seja, os poucos que querem ser professores são mal qualificados.

Para entender melhor as razões da baixa atração, a pesquisa montou grupos de discussão que reuniram 193 alunos. Para a maioria dos jovens, a docência é desgastante, desvalorizada socialmente e mal remunerada. Os baixos salários foram apontados pelos 40% que chegaram a cogitar a docência como razão para não considerá-la como uma opção de carreira.

O Brasil já sente as consequências dessa percepção: apenas no Ensino Médio e nas séries finais do Ensino Fundamental, o déficit de professores com formação adequada à área em que lecionam chega a 710 mil, de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). "Nossos pais não querem que sejamos professores, mas esperam que existam bons professores. Assim, fica difícil", afirmou em um dos grupos de discussão uma estudante de escola pública em Feira de Santana, na Bahia, resumindo o problema com espantosa clareza.

Os caminhos para atrair bons profissionais para as salas de aula

Com o quadro mapeado, o estudo optou também por propor alternativas para reverter a situação. A FVC e a FCC convidaram 17 especialistas de diversas áreas da Educação para um debate em novembro do ano passado. O resultado foi um rico conjunto de ideias para selecionar bons professores e manter os melhores na sala de aula. O consenso é de que deve-se atacar o problema por diversas frentes, oferecendo salários iniciais mais altos (os atuais ainda se encontram em patamares inferiores aos de outras profissões que exigem curso superior), propondo bons planos de carreira (substituindo uma progressão que hoje é baseada quase exclusivamente no tempo de serviço), melhorando a formação inicial (muitos docentes largam a carreira por estar despreparados para ensinar), resgatar o valor do professor na sociedade (por exemplo, noticiando mais as boas experiências em sala) e tratá-lo como profissional (a matéria-prima de seu trabalho é o conhecimento didático e não algum tipo de dom, como pensam muitos jovens).

Implementar a maioria dessas proposições está sob a responsabilidade da União, dos estados e dos municípios. Mas existe outro conjunto de medidas que diz respeito diretamente ao cotidiano na sala de aula. É o caso, por exemplo, do planejamento da formação continuada. Entender o que os professores de cada escola precisam aprender - não apenas para fazer os alunos avançar, mas também para que permaneçam satisfeitos e atuando com qualidade - é algo que deve estar no radar dos gestores escolares. Quase sempre, a melhor alternativa é realizar esse trabalho dentro da própria escola. "Um coordenador pedagógico que discute com os docentes suas necessidades específicas dá mais segurança à equipe. Os cursos externos em universidades e instituições de treinamento nem sempre são suficientes para atacar os problemas localizados", explica Bernadete. O papel do diretor, por sua vez, aparece com força quando se trata de melhorar as condições de trabalho tanto em relação à estrutura material da escola quanto à convivência no ambiente escolar - combatendo, por exemplo, a violência, um dos fatores que mais afugentam docentes em atividade e potenciais candidatos. Nesse ponto, a integração com a comunidade é essencial para que o papel social da escola e seu espaço sejam respeitados.

O investimento na gestão para a convivência pode ajudar - e muito - para que se crie outro fator de atração para a docência. É o que os especialistas chamam de "oferecer uma boa experiência escolar". A ideia é simples: se durante a vida acadêmica o estudante realmente aprendeu e desenvolveu uma boa relação com professores e colegas, tenderá a pensar mais na possibilidade de escolher a docência quando chegar a hora do vestibular. "Atualmente, isso é importante sobretudo na rede pública, pois é de lá que vem a maioria dos professores. É lá que mais precisamos de bons exemplos", afirma Marli Eliza de André, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Trilhando esse caminho, você pode ajudar a atrair os bons candidatos de que o país tanto precisa para melhorar a Educação.