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Aprendizagem o dia todo

Experiência em Belo Horizonte mostra como vencer os desafios do período integral

POR:
Gustavo Heidrich
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
CHEGADA COM CAFÉ Mateus entra na escola às 8h30 com os colegas, que também estudam em período integral. Fotos: Pedro Mota e Ilustrações: Erika Onodera
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
QUEBRANDO A CABEÇA Às 9 horas, ele tem oficina de jogos matemáticos, na qual aprende conteúdos na prática
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
HORA DO DEVER Às 10 horas é a vez do auxílio pedagógico, com uma professora que ajuda nas dúvidas da lição de casa
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
COMER, COMER Hora do almoço, uma das três refeições do dia. Depois, um tempo para brincar no pátio
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
LIVROS E CADERNOS Às 13 horas é a entrada em classe para o turno regular. A partir daí, são quatro horas e meia de aulas
Fotos: Pedro Mota/Ilustrações: Erika Onodera
PAUSA CIRCENSE No meio da tarde, um intervalo para a oficina de circo, que combina brincadeiras com atividades físicas

Mateus Damasceno, aluno de 9 anos do Colégio Municipal Belo Horizonte, na capital mineira, chega todos os dias pontualmente às 8h30 na escola. Depois do café da manhã, ele tem várias opções de oficina para frequentar, dependendo do dia da semana. Em um deles, por exemplo, a atividade é com jogos matemáticos. O estagiário responsável pela oficina distribui brinquedos que ajudam os estudantes a desenvolver noções de Geometria e raciocínio lógico. A cada 15 dias, ele tem uma reunião com os professores da área para saber em quais conteúdos os estudantes das diversas turmas precisam de reforço. Em seguida, Mateus vai para a sala do acompanhamento pedagógico, onde uma professora especialista aguarda os estudantes para tirar dúvidas e ajudar com a lição de casa que os alunos terão de entregar para os professores do período regular logo mais à tarde.

No total, Mateus faz 11 atividades diferentes durante a semana. Ele aprende técnicas teatrais e de dança, joga futebol e capoeira, faz textos na oficina de letramento digital no laboratório de informática, aprende sobre alimentação saudável na oficina de nutrição, aprecia obras na atividade de arte contemporânea e participa de atividades em grupo nos encontros de apoio psicológico. Depois do almoço, ele tem as aulas regulares do 4º ano. Incluídas no currículo estão também as aulas de circo.

A rotina do Colégio Belo Horizonte é essa desde junho. A escola foi fechada em 2006 por problemas de violência e foi reaberta este ano. Para recuperar a credibilidade e a confiança dos pais, os gestores que assumiram a unidade resolveram adotar o regime integral de trabalho, procurando assim atender melhor às necessidades da comunidade (leia mais sobre a história da escola no quadro abaixo).

Relação com o currículo

O maior desafio das escolas que ficam com o aluno no mínimo sete horas por dia é fazer com que as atividades extras não sejam apenas um passatempo. "A essência do trabalho com o ensino integral é repensar a organização do tempo, dos espaços e das oportunidades educativas", diz Jaqueline Moll, diretora de Educação Integral do Ministério da Educação (MEC), que, no decorrer de 2010, investirá 450 milhões para dobrar o número de escolas integrais no país (passando dos 5 mil hoje existentes, em 192 municípios, para 10 mil, em 324 cidades).

A escola mineira dividiu quatro das oito horas de atendimento aos cerca de 300 alunos em oficinas. São três por dia para grupos de até 25 crianças. Excursões a parques, museus e teatros também são organizadas periodicamente. Nas outras quatro horas e meia, acontecem as aulas regulares.

O espaço oferece ambientes diversificados. O colégio tem salão de dança, quadra poliesportiva, sala de informática, auditório com palco e camarim, ateliê de artes e refeitório para 100 crianças. A equipe de gestão conta com oito pessoas, e a docente, com 24. No total, são 15 funcionários de apoio. Para as atividades extracurriculares, existem uma coordenadora e cerca de 20 estagiários e monitores.

Para garantir a conexão entre as atividades de dentro e fora de sala de aula, os professores se reúnem a cada 15 dias com os responsáveis pelas oficinas. Nesses encontros, há a troca de informações pedagógicas. Exemplo: o professor de Língua Portuguesa e o responsável pelo teatro planejam juntos maneiras de trabalhar a oralidade e a leitura. 

Ajuda da Secretaria

A implantação do regime integral teve o suporte do Programa Escola Integrada da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, que oferece assessoria para outras 98 escolas da cidade. "Pelo regulamento do programa, 60% das oficinas têm de contemplar conteúdos curriculares, e os outros 40%, atividades culturais e esportivas", explica Regina Costa, coordenadora do período integral do colégio.

A rede mantém um convênio com 11 universidades para garantir a presença dos estagiários para dirigir as oficinas, remunera os monitores e oferece transporte e acesso livre para os passeios.

Levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com 1,2 mil professores, familiares e alunos participantes do programa indicou que, após a inserção no período integral, os alunos desenvolveram gosto pela leitura e melhores hábitos de higiene e alimentação. "Comprovamos que a escola integral cria condições melhores de aprendizagem", diz Neuza Macedo, coordenadora do programa.

Reconstrução integral

Fundado em 1948, o Colégio Municipal Belo Horizonte foi criado para educar a elite mineira e o acesso dependia da aprovação em um complicado teste seletivo. Com o fim da prova de acesso, há 20 anos, a unidade passou a receber também as crianças da comunidade da Pedreira Prado Lopes. Convivendo há décadas com problemas como o tráfico de drogas e disputas de gangues locais, a região é habitada por famílias carentes. Contudo, o despreparo dos professores e gestores para lidar com os novos alunos e a exacerbação do clima de insegurança levou a escola a um beco sem saída. Após episódios que incluíram agressões entre docentes e alunos, inúmeras depredações e bombas em suas dependências, o colégio foi fechado, em 2006. A reinauguração, este ano, contou com o espaço renovado e uma equipe especialmente designada para resgatar a credibilidade da escola e implantar o regime integral. "O entorno continua problemático e percebemos que muitos alunos chegam agitados à escola. Temos que trabalhar com muito diálogo, estabelecendo com eles combinados e regras e montar um planejamento consistente para que a escola seja mais interessante que a rua", conta Maria do Carmo Ferreira, coordenadora pedagógica. O trabalho mais próximo com a comunidade é outro trunfo que o colégio usa para vencer as dificuldades. "Conhecer e ouvir a comunidade, criar uma cultura de tolerância e respeito, dispor de verbas e pessoal e unir o que acontece dentro e fora da sala de aula são os segredos para o bom funcionamento de uma escola integral", finaliza Regina Costa, coordenadora.

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CONTATOS
Colégio Municipal Belo Horizonte, Av. José Bonifácio, 189, 31210-690, Belo Horizonte, MG, tel. (31) 3277-6221
Programa Mais Educação, SGAS - Av. L2, quadra 607, lote 50, sala 106, 70200-670, Brasília, DF, tel. (61) 2104-6280