Falar em falta de motivação
Assim não dá!
POR: Daniela AlmeidaUma parábola conta que um homem olhava uma construção. Curioso, perguntou a um dos operários o que ele estava fazendo. Triste, ele respondeu: "Erguendo uma parede". Em seguida, questionou outro trabalhador, que disse: "Estou fazendo um prédio". Percebendo que havia um homem alegre e envolvido com os afazeres, não resistiu e repetiu a pergunta. Ouviu: "Estou construindo uma escola e, com isso, ajudando a acabar com o analfabetismo e fazer com que as pessoas sejam mais felizes".
Muitos gestores reclamam da "falta de motivação" da equipe. Alguns até buscam justificativa para essa postura na remuneração insatisfatória e na indisciplina dos alunos. Esses fatores - que podem funcionar como um atrativo -, além de estarem longe do alcance do gestor escolar, não são os que mobilizam as pessoas para o trabalho. "O envolvimento de fato decorre de uma dinâmica interna que tem a ver com o sentido que os homens dão às próprias ações", explica Bernard Charlot, filósofo francês e professor visitante da Universidade Federal de Sergipe. Para ele, não há desejo se o indivíduo não vê sentido no que faz: "As pessoas conseguem trabalhar juntas quando estão envolvidas no mesmo propósito, mesmo que cada uma atribua um sentido diferente ao que realiza." Ou seja, para mobilizar a equipe, o gestor precisa descobrir qual o aspecto do trabalho que desperta o desejo em cada professor e em cada funcionário. Para alguns, talvez seja se sentir inserido em um grupo. Para outros, o desafio de melhorar o mundo por meio da Educação.
Vale lembrar que muitas vezes as atitudes dos funcionários são reflexos da insatisfação dos gestores. Afinal, tanto em empresas como em escolas, é muito comum que os diretores e os responsáveis pelas diversas áreas imprimam o clima dominante na instituição. Então, como virar o jogo e envolver a equipe para canalizar os esforços para a mesma meta?
A saída não é promover eventos especiais e dinâmicas mirabolantes. A solução está no dia a dia: fazer com que todos percebam a importância da sua função para o objetivo final da escola, que é a aprendizagem dos alunos. Um profissional sempre se sente valorizado quando é chamado a participar da elaboração de propostas que tragam resultados. Ouvir as sugestões que ele tem para dar nos diversos projetos e na dinâmica da escola é uma forma de respeitá-lo e envolvê-lo nos resultados. "Dessa forma, todos se sentem responsáveis", afirma Lino de Macedo, professor titular de Psicologia do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Os gestores precisam estabelecer metas compartilhadas e promover a comunicação efetiva, criando uma cultura produtiva na instituição. É necessário modificar as estruturas que dificultam o cotidiano e criar processos de colaboração para que os ambientes valorizem os que ali trabalham, imprimindo um tratamento profissional à equipe.