Uma escola que trocou a sirene por música
Eu fiz assim
POR: GESTÃO ESCOLAR"Hora da entrada e da saída dos alunos: toque de sirene por cinco segundos. Hora do recreio: sirene. Intervalo: sirene. Nós todos, na escola, levávamos um susto pelo menos sete vezes durante um período do dia. Isso quando ela não disparava no meio de provas e atividades, desconcentrando estudantes e professores, e nos fins de semana, incomodando a vizinhança. Muitos franziam a testa. Outros tapavam os ouvidos. Alguns já tinham se acostumado. Ninguém gostava, mas esse era o padrão das escolas da rede municipal e nunca ninguém havia questionado.
Até que nas reuniões de pais as reclamações ficaram frequentes. Uma mãe afirmou: 'Esse tipo de som não condiz com o ambiente da escola. Parece toque de fábrica para a entrada de operários'. O movimento tomou corpo: os alunos se organizaram para pedir o fim do barulho e o assunto foi pauta em todas as reuniões. A gota d'água foi o resultado de uma pesquisa de clima que fazemos semestralmente entre os funcionários: a sirene apareceu no topo da lista do que era preciso mudar.
Colocamos a questão no conselho de escola e não foi preciso muita discussão para chegar à conclusão de que a música soaria melhor aos ouvidos. A mudança não foi fácil. Primeiro conectamos um tocador de fita cassete às caixas do velho aparelho de som, porém a cada 50 minutos alguém tinha de apertar o 'play'. Depois conseguimos um aparelho de CD, mas a operação ainda era manual. Posteriormente, uma parceria com a comunidade permitiu montar um sistema informatizado. A fiação dos autofalantes foi trocada com o dinheiro arrecadado em festas e hoje tudo funciona automaticamente, na base do sistema de MP3.
O mais divertido foi a seleção musical. Optamos inicialmente por peças clássicas e infantis. Ninguém gostou. Os pequenos da primeira fase do Ensino Fundamental preferiam os hits pop que ouviam no rádio, e os mais velhos, rock. Com o tempo, fomos acertando e tentando agradar a todos. Agora temos um DJ que mora no bairro e periodicamente vem aqui atualizar o arquivo musical - para a escola não ficar fora da parada de sucessos. Contudo, estamos sempre de olho nas letras: não toca nada que seja ofensivo.
Foi impressionante como uma coisa simples ajudou a melhorar o clima. A sirene remetia a um ambiente de produção em série e não de aprendizagem. As trocas de sala ficaram menos estressantes. Nunca mais ouvimos por aqui aquele som estridente, que, além de fazer mal aos ouvidos, parecia estar mandando todo mundo parar de pensar."
Mônica Camargo é orientadora pedagógica da EMEF Luzia Levina, em São José dos Campos,SP.
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