Um espaço democrático
Eu fiz assim
POR: GESTÃO ESCOLARequipe de Eda Luiz, alunos, professores e
funcionários debatem e decidem.
Foto: Carol Saches
"Um dos grandes desafios da minha carreira de diretora foi transformar o CIEJA Campo Limpo num lugar em que os alunos se sentissem acolhidos e seguros para se expressar sem medo. Há dez anos, quando assumi o cargo, a maior parte dos estudantes vinha da extinta Fundação para o Bem Estar do Menor, a Febem, órgão do governo do estado de São Paulo que abrigava menores autores de atos infracionais em regime de liberdade assistida. Por isso, e pelo histórico de violência a que estavam acostumados, eles viviam em clima de medo e não estavam acostumados a ser ouvidos. Até hoje o perfil do estudantado é semelhante, mas, acreditando no papel da Educação como transformadora da realidade por meio da aprendizagem e da vivência cidadã, nossa equipe gestora conseguiu estabelecer um espaço de convivência democrática dentro da escola.
O projeto que elaboramos foi ambicioso. Abrimos as portas para a comunidade, oferecendo atividades esportivas e culturais e convidando os familiares para acompanhar o processo de ensino e aprendizagem. Para isso, promovemos reuniões e outros eventos. Treinamos funcionários para receber os pais e ouvi-los a qualquer hora (e encaminhar as demandas para a equipe gestora). No meio de tantas mudanças, tivemos uma ideia: construir no pátio um lugar específico e simbólico em que todos tivessem vez e voz. Quando há descumprimento de uma norma ou quando ela é questionada pelo grupo, é nesse espaço que discutimos a questão, de forma democrática. Ali são realizadas assembleias de alunos para fazer combinados, reuniões de funcionários quando eles querem discutir assuntos relativos ao trabalho, encontros periódicos da comunidade escolar para decidir sobre a aplicação de recursos e, de vez em quando, até reuniões de professores para elaborar projetos. E, como o lugar é pintado de azul, o batizamos de Piso Azul. É ali que discutimos valores, ética e responsabilidade.
A criação desse espaço democrático teve um impacto positivo em toda a comunidade. Porém são principalmente os alunos, que não estavam acostumados a ser ouvidos, os que mais usufruem. A cultura da discussão saudável contagiou a escola e os jovens se tornaram muito mais participativos: expressam opiniões e estão sempre dispostos a conversar entre eles, com os professores e com os pais, sem repressão e intolerância."
EDA LUIZ é coordenadora geral do CIEJA Campo Limpo, em São Paulo.