Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Professores de Taboão da Serra visitam alunos em casa

Visita de docentes às casas dos alunos melhora a aprendizagem na rede municipal de Taboão da Serra, em São Paulo

POR:
Gustavo Heidrich
RELAÇÃO COM A FAMÍLIA A professora Juliana Oliveira visita Dandara em casa, conhece seus brinquedos e conversa com a mãe, Tula. Foto: Tatiana Cardeal
RELAÇÃO COM A FAMÍLIA  A professora Juliana Oliveira visita Dandara em casa,
conhece seus brinquedos e conversa com a mãe, Tula. Fotos: Tatiana Cardeal

Irrequieta, Dandara corre com uma boneca na mão. Ela faz questão de buscar uma caixa de brinquedos, que tem dificuldades para arrastar do seu quarto até a sala de estar da casa, onde sua professora, Juliana Oliveira, a espera. A menina estuda na EMEI Anjinho, em Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, e é a segunda vez que recebe a visita da professora. "Conversamos sobre como minha filha é em casa, do que gosta de fazer e brincar e como vivemos aqui. E ela me orienta sobre como acompanhar melhor as aprendizagens de Dandara", diz a mãe, Tula Pilar Ferreira.

Desde 2005, o Programa de Interação Família Escola da Secretaria de Educação de Taboão da Serra incentiva os 600 professores da rede municipal a visitar os estudantes. A ele é creditada boa parte do crescimento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos últimos dois anos (aumento de 8,9% da nota da 4ª série e de 14,3% da 8ª). Um cruzamento de dados feito pelo governo local indica que quem recebe o professor em casa tem desempenho em média 20% melhor do que aqueles cujos pais não estão inscritos no programa. Além disso, em levantamento do Movimento Todos Pela Educação, feito com base nas notas da Prova Brasil de 2007, a cidade ficou à frente de 22 capitais. "Quando alguém fala em interação com a comunidade escolar, logo se pensa em associações de pais e mestres, conselhos e reuniões, que são importantes, mas a maioria esquece que um contato mais próximo também é fundamental para a Educação",  afirma César Callegari, o secretário de Educação local.

A participação no programa é facultativa, mas já superou a taxa de 90% do total de 32 mil matriculados na rede. Os encontros são agendados com antecedência e ocorrem fora do horário de aulas. Cada professor recebe 45 reais por visita. Na pauta da conversa, nada de boletins e outros assuntos que normalmente fazem parte das reuniões de pais (que continuam sendo realizadas periodicamente). "Não queremos burocracia nem que pareça uma entrevista ou prestação de contas. É um bate-papo para nos aproximarmos das famílias, identificar problemas que possam interferir na aprendizagem e buscar informações para que a equipe docente tenha subsídios e planeje maneiras mais eficientes de fazer com que o aluno melhore seu desempenho", explica Glaucia Moraes, coordenadora pedagógica da secretaria.

Antes das visitas, os professores se reúnem com os gestores para elaborar o roteiro: observar as condições de vida, o acesso à cultura, o relacionamento que pais e filhos têm com o bairro e com a escola e as habilidades e potencialidades dos pequenos, entre outras coisas. Tudo o que é percebido vai para um relatório. Com os registros em mãos, a equipe aprofunda as discussões. Os coordenadores pedagógicos ganham elementos para elaborar pautas de formação que atendam às necessidades dos professores e dos alunos. Os diretores, por sua vez, podem usar as informações para pensar em eventuais mudanças no projeto pedagógico e no plano de gestão. "Se as crianças têm pouco contato com livros em casa, sugerimos a montagem de um projeto de leitura. Se há pais alheios à aprendizagem, é hora de estimular a participação deles por meio de eventos e encontros de diversas naturezas", conta Dirce Takano, responsável pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação de Taboão da Serra.

Professor não é assistente social

JUNTAS NAS CONQUISTAS Soraia (à esq.) e Rosana, mãe de Leonardo, observam os cadernos e conferem a aprendizagem do garoto. Foto: Tatiana Cardeal
Soraia (à esq.) e Rosana, mãe de Leonardo, observam
os cadernos e conferem a aprendizagem do garoto.

Apesar de alguns professores constatarem que seus alunos vivem expostos à violência social e doméstica ou passam por algum tipo de dificuldade, o programa não se propõe a fazer assistência social. "Quando detectamos casos assim, encaminhamos para instituições especializadas que possam ajudar ou interferir", explica Patrícia dos Anjos, diretora da EM de Educação Infantil Anjinho.

Professora há 15 anos, Soraia Balmant era contra o projeto de visitas por acreditar que isso não fazia parte de suas atribuições como educadora. Mesmo assim, resolveu experimentar. "Logo nos primeiros encontros, percebi que, durante a conversa, tenho a chance de falar sobre a maneira como eu trabalho. Ao mesmo tempo, gostei de ouvir sugestões dos pais", relata.

As visitas servem ainda para aproximar os familiares, que, por um motivo ou outro, não têm o hábito de ir à escola com a frequência desejável. Soraia conta que já era professora de Leonardo da Silva havia três anos e nunca havia conversado com a mãe dele. "Depois que nos conhecemos, aqui em casa, passei a entender a importância do trabalho conjunto da família e da escola e agora sei que só essa cumplicidade vai ajudar o Leonardo a ter sucesso nos estudos. E ele sabe que eu, o pai e a professora estamos acompanhando de perto cada conquista", afirma a mãe, Rosana Ribeiro.

Projeto premiado

A iniciativa de Taboão da Serra já ganhou prêmios internacionais. Um deles é o Desenvolvimento do Milênio Brasil, em 2007, dado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Este ano, ele será levado a oito municípios brasileiros graças a uma parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Outra iniciativa com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo transformará o programa em um curso de pós-graduação para 400 professores de Taboão, já no segundo semestre. A ideia é que os relatórios e as impressões dos docentes virem objeto de monografias e, assim, possam ser disseminados para outros profissionais da Educação. "Muitos pais consideram uma conquista os filhos estarem na sala de aula e terem acesso à merenda e ao uniforme. Mas, para darmos o salto de qualidade de que o país precisa, temos de fazer com que eles se sintam corresponsáveis pelo sucesso da aprendizagem", afirma Callegari. 

Quer saber mais?

CONTATO
Secretaria Municipal de Educação de Taboão da Serra, R. Elisabetta Lips, 66, 06763-190, Taboão da Serra, SP, equipeeduc@yahoo.com.br, tel. (11) 4788-5822

Tags