Como lidar com a rotatividade de professores
Seis sugestões para que a rotatividade não prejudique o andamento da escola e a aprendizagem dos alunos
POR: Iracy Paulinarecém-chegado começará a se
sentir parte da equipe se for incluído
nos encontros de formação.
Ilustrações Thiago Cruz
É uma realidade da Educação pública brasileira: o quadro docente está sempre mudando. Alguns professores ficam pouco tempo na escola porque podem pedir transferência para outra unidade e outros passam pelas salas de aula para substituir colegas que estão de licença. Mas essa rotatividade está longe de ser positiva. Quem fica apenas alguns meses com uma turma não cria vínculos com os alunos - o que compromete a aprendizagem pela falta de interação e continuidade no trabalho pedagógico - nem com a comunidade, prejudicando assim a construção da identidade escolar.
"Ao ingressar na rede, o docente ocupa a vaga que está disponível, que, em geral, é numa escola longe de casa. Com o passar do tempo, graças aos concursos de remoção, ele pode escolher uma mais perto de onde mora. É um direito que ele tem", justifica Elisane Fank, coordenadora de gestão escolar da Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
O ideal, porém, seria as redes exigirem uma jornada de dedicação exclusiva. "Índices elevados de rotatividade transformam a escola num espaço sem alma, por onde circulam pessoas sem relação com a coletividade", diz Maria Helena Guimarães de Castro, professora da Universidade de Campinas, que enfrentou esse problema quando foi secretária de Educação do Estado de São Paulo (conheça algumas medidas implementadas na rede paulista no quadro da abaixo).
O contexto é complexo e difícil de mudar. Porém a escola não pode partir do zero toda vez que chega um novo membro. A seguir, algumas medidas que você, como gestor, tem condições de implementar para que o entra-e-sai de docentes não prejudique o bom andamento de sua equipe.
APRESENTAR E ACOLHER A hora do
cafezinho e as reuniões de pais são
bons momentos para integrar o novo
docente com a equipe.
1. Apresentar e acolher
O novo professor precisa ser acolhido desde o primeiro dia. Apresente-o aos colegas, aos futuros alunos e aos pais para que ele comece a se sentir membro da comunidade escolar. Analise quais espaços você pode abrir para que ele possa contar as experiências profissionais que teve anteriormente.
2. Compartilhar o projeto
O projeto pedagógico é a cara da escola. Por isso, forneça uma cópia do documento ao novato. A EE Rio Branco, em Curitiba, propõe que os professores que chegam mergulhem no documento, leiam tudo e depois conversem com os gestores. "Com isso, eles têm uma noção de como somos e estamos estruturados e podem tirar dúvidas e dar opiniões e sugestões", afirma a diretora, Ana Claudia Michelin. Ela conta ainda com a Semana Pedagógica, que é realizada no início de cada semestre. São três dias de formação que a Secretaria Estadual da Educação promove em cada unidade da rede. "Começamos discutindo os projetos e depois trabalhamos especificamente a implementação das diretrizes curriculares estaduais para todas as disciplinas", explica Elisane Fank, da Secretaria de Educação do Paraná. "Assim, fortalecemos os princípios comuns que movem todas as escolas e procuramos minimizar o impacto da remoção do professor de uma escola para outra", explica ela.
3. Incluir na formação
Chame sempre o recém-chegado para participar das reuniões de planejamento e formação. Essa é uma das maneiras de ele se aprofundar nas diretrizes do projeto pedagógico e no currículo. "Os encontros pedagógicos, nesse momento inicial, são um espaço privilegiado para a integração, e a formação continuada funciona como uma mola propulsora de inserção do novo colega", afirma Elisabete Monteiro, coordenadora pedagógica da EM Barbosa Romeu, em Salvador. Essa foi uma das estratégias usadas por ela depois que um concurso para diretor provocou a troca de 60% de sua equipe docente. Para amenizar o impacto das mudanças na aprendizagem, uma das providências foi intensificar o trabalho de formação continuada: as reuniões por segmento de ensino, antes mensais, passaram a ser semanais.
chega sempre tem o que ensinar
e o que aprender, e quem ganha
com isso é a aprendizagem.
4. Socializar as práticas
Dos 60 professores da EE Rio Branco, 40 são fixos e 20 são os chamados volantes (estão sempre mudando). "É sempre um desafio trabalhar com uma equipe praticamente nova todo ano", diz a diretora, Ana Claudia Michelin. "Temos nossos planejamentos e estratégias de ensino e quem chega também traz os seus. Então estimulamos a troca de informações e a análise do material. Geralmente, aparecem ideias para melhorar o que já estava traçado", afirma. O mesmo ocorre na EE Doutor Luis Arrobas Martins, em São Paulo, que atende o primeiro ciclo do Ensino Fundamental e tem 24 professores. Desse total, 17 são concursados. Os outros sete mudam ano após ano. "Estimulamos o grupo de professores mais antigos a trocar experiências com os novos", diz a diretora, Aparecida Deise de Almeida Wakim Tannous.
5. Formar pares
Na organização e distribuição das turmas, procure estabelecer um trabalho de parceria entre os professores antigos e os novos. Essa estratégia foi usada na EM Barbosa Romeu e deu certo. Ao colocar um profissional mais experiente e conhecedor da proposta da escola ao lado de um novato em turmas da mesma série, ambos podem compartilhar o planejamento, os planos de aula, os projetos e as sequências didáticas - e um pode ajudar o outro quando as dúvidas e dificuldades aparecem.
das boas-vindas, o novato pode
conhecer os registros dos colegas
para entender melhor a escola.
6. Fornecer os documentos
As escritas profissionais funcionam como um valioso instrumento. Ofereça-as para que o novo docente as consulte. Relatórios, diários, planos de aula, projetos e sequências didáticas - assim como registros do desempenho dos alunos em anos anteriores, portfólios e mapas de classe - devem fazer parte desse arsenal de pesquisa, que possibilita ao novo professor identificar o que os alunos já sabem e os mecanismos de avaliação adotados pela escola. Nesse caso, é necessário que o coordenador tenha os registros - construídos, discutidos, compartilhados e revisitados coletivamente - sempre atualizados e organizados.
Medidas paliativas
Como secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro constatou uma rotatividade de 40% na rede estadual.
Como foi possível diminuir o problema?
Em 2008, um decreto determinou que um docente só pode pedir remoção depois de ficar 200 dias numa escola, o que garante que ele permaneça pelo menos um ano letivo no mesmo lugar, o mínimo para desenvolver um trabalho efetivo. Os concursos foram regionalizados para evitar que um docente que more no norte do estado assuma uma vaga em escola da região sul e, em seguida, solicite remoção para sua cidade.
Como a rotatividade pode ser evitada?
A única saída é implantar carreiras com regime de 40 horas e dedicação exclusiva. Professores fixos numa mesma escola têm tempo para fazer a formação em serviço, atender os alunos fora da sala de aula, desenvolver projetos pedagógicos consistentes, discutir com os pares e conhecer melhor os pais e toda a comunidade.
Quer saber mais?
CONTATOS
EE Doutor Luis Arrobas Martins, R. João Elias, 80, 04726-070, São Paulo, SP, tel. (11) 5641-4739
EE Rio Branco, R. Bispo Dom José, 2426, 80440-080, Curitiba, PR, tel. (41) 3224-1812
EM Barbosa Romeo, R. São Paulo, s/nº, 41500-140, Salvador, BA, tel. (71) 3611-7205