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Diversidade em debate

Eleita para integrar a equipe gestora, Laysa Carolina Machado levou a comunidade a refletir sobre preconceitos

POR:
Laysa Carolina Machado
Laysa é transexual e incentiva discussões sobre gênero na CEEFM Chico Mendes. Foto: Marcelo Almeida
Respeito na prática Laysa é transexual e incentiva discussões sobre gênero na CEEFM Chico Mendes

"Em 2004, entrei na CEEFM Chico Mendes, em São José dos Pinhais, como professora concursada de História. Já cheguei como Laysa Carolina Machado e desde o início fiz questão de não me identificar como transexual. De certa maneira, essa foi uma posição política: afinal, se um docente heterossexual não precisa explicitar isso ao se apresentar, por que eu precisaria fazê-lo?

Apesar disso, as pessoas notavam minhas características masculinas. Houve muito burburinho e os primeiros dois anos foram bem difíceis. O preconceito, geralmente, é velado, mas isso não quer dizer que não exista discriminação. Alguns colegas, por exemplo, procuravam me deixar no canto quando íamos tirar uma fotografia e, anos depois, quando fui olhar as imagens desse período, descobri que eu não estava em nenhuma delas.

Minha impressão é de que, como eu era concursada, eles não tinham o que fazer, senão me tolerar. Mas, aos poucos, fui me fortalecendo, conquistando o apoio dos estudantes e abrindo espaço para discutir a diversidade com eles.

Cinco anos depois da minha chegada, resolvi concorrer a um cargo na gestão. Achei que assim poderia intervir mais diretamente para diminuir o preconceito. Convidei dois professores para compor uma chapa comigo. Eu e a Gisele Dalagnol de Oliveira seríamos as diretoras auxiliares e o Ivan da Silva Araújo o diretor-geral. Disputamos com outras duas chapas e vencemos com uma pequena vantagem. Em 2011, um novo pleito foi convocado e dessa vez nos reelegemos com 98% de apoio de toda a comunidade.

Hoje, vejo que avançamos significativamente em algumas discussões e a escola ficou mais aberta. Por meio do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), que prevê o desenvolvimento de atividades com base em diversas áreas do conhecimento, passamos a discutir como a imprensa aborda a questão de gênero. Isso nos levou a outros debates sobre como o homossexual é visto e quais as formas de preconceito que ele sofre. Também trabalhamos com o material sobre diversidade enviado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná e incluímos essa temática no projeto político-pedagógico (PPP) da instituição.

Apesar disso, desde que fui entrevistada por jornais, blogs e programas de TV e minha história ganhou destaque no ano passado, notei um retrocesso. Parte da comunidade interna não quer que o nome da escola esteja associado ao de uma transexual e já há um movimento para que eu não me candidate novamente - o atual mandato acaba no final de 2014.

Por todas essas questões, sei que não posso desistir do meu trabalho como educadora. Os meninos e as meninas que estão hoje na sala de aula precisam ter a oportunidade de discutir dilemas tão prementes e, mais ainda, de serem acolhidos no ambiente educativo, que também é um espaço de cidadania."

Laysa Carolina Machado é diretora auxiliar da CEEFM Chico Mendes, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

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