Vamos imaginar uma situação nada rara: João e Felipe têm 14 anos e foram a uma festa em que havia bebida alcoólica. Felipe bebeu e passou muito mal. Surge uma dúvida: João deve ligar ou não para os pais do amigo? Esse é um grande drama para João:
- Se ligar, o amigo pode achar que foi traído, porque levará bronca dos pais.
- Se não ligar, o amigo pode ficar sem atendimento e, no limite, correr risco de morte…
João está diante de um dilema, definido pelo dicionário Aurélio como “situação embaraçosa com duas saídas difíceis ou penosas”. Para nós, adultos, parece não haver qualquer dúvida: por muitas vezes nos colocarmos no papel dos pais, julgamos que é preciso buscar ajuda e ponto final. Para crianças pequenas, a resposta também é simples: “chamar mamãe e papai para ajudar”. Mas, para os adolescentes a lealdade aos amigos é tão forte que surge a dúvida entre qual caminho escolher: preservar a amizade acima de tudo? Ou optar pela segurança de avisar aos pais reconhecendo na situação um perigo de vida?
Na escola, trabalhar com dilemas morais é uma excelente estratégia para a aprendizagem ética e a formação moral dos alunos. A ideia é fazê-los enxergar com mais clareza os valores envolvidos em cada escolha e prepará-los para lidar com situações parecidas.
Esse trabalho deve compreender quatro etapas. Vamos ilustrá-las com o exemplo da “bebedeira”:
1. Apresentar a situação oralmente ou por escrito: contar o caso e pedir que eles reflitam por alguns instantes sobre as atitudes possíveis para cada um dos personagens.
2. Pedir que eles deem respostas para a situação de maneira individual. Nessa etapa, é útil ter uma lista de perguntas para organizar a reflexão:
- O que você faria em uma situação como essa se fosse o João?
- João deve ligar ou não para os pais do amigo? Por quê?
- Se você fosse o Felipe gostaria que ligasse para os seus pais? Por quê?
- Se você fosse os pais do Felipe o que pensaria da situação?
- Se você fosse os pais do João o que diria a ele?
- Se você fosse o dono da festa, o que faria?
3. Discutir a situação em grupos ou com a classe toda. Novamente, a lista de perguntas pode ajudar. Nesse debate, seu papel é garantir que todos os pontos de vista estejam presentes.
4. Retomar as respostas individuais: nessa etapa de fechamento, cada um pode modifica-las (ou não) de acordo com a conclusão individual com base no debate.
Na escolha de situações, você pode levar em conta os seguintes critérios:
- A situação apresentada deve fazer com que os alunos se identifiquem;
- Envolver dois ou mais valores e pessoas;
- Propor que o aluno faça uma decisão entre agir de uma maneira ou outra
Importante: nesse tipo de atividade, não há saídas certas e erradas, mas com diferentes níveis de complexidade e diferentes consequências. Da nossa experiência, acreditamos que é bem mais produtivo levar a esse tipo de reflexão do que sucumbir à tentação de dar uma “lição de moral”.
Preparamos algumas fichas de trabalho que você pode utilizar para conduzir atividades semelhantes: Você pode baixa-las clicando aqui. Abaixo, um aperitivo dos dilemas tratados:
“Quem matou as minhocas?” Na distribuição das tarefas com os alunos do 2º ano, coube a Maria a responsabilidade de dar comida aos animais que vivem no terrário. Na sexta-feira a professora observa que os animais não estão bem e pergunta o que aconteceu a eles. Com medo de ser castigada, Maria não conta que se esqueceu de dar comida durante a semana toda. A professora diz que a classe toda deve ser punida, a menos que alguém conte o que aconteceu com os animais. Paulo sabe que Maria não alimentou os animais.
“Achado não é roubado?” Leandro estava andando pelo clube e achou uma nota de 50 reais. Ficou muito feliz, se sentindo o menino mais sortudo do mundo. Logo pensou que com o dinheiro compraria um presente de aniversário para o pai. Leandro contou aos amigos e disse: “achado não é roubado, então o dinheiro é meu”.
“Quem roubou meu lápis?” João esqueceu o lápis no dia da prova de Matemática. O único colega que tinha um lápis extra era Pedro. Como Pedro não gostava de João, não quis emprestar o lápis para ele. Então, Mariana pegou o lápis de Pedro, sem ele ver, e deu a João. Ao descobrir que João estava com o seu lápis, Pedro contou para professora e exigiu que a ela punisse João.
“Atropelei um cara. Não conte a ninguém.” Um amigo quer lhe contar um segredo e pede que você prometa não contar a ninguém. Você dá sua palavra. Ele conta que atropelou um pedestre e, por isso, vai se refugiar na casa de uma prima. Quando a polícia o procura querendo saber do amigo, o que você faz: conta ou não conta? Explique a sua resposta. (Fonte: revista Superinteressante).
Deixem seus comentários: na sua escola, existe algum trabalho sobre o assunto? Quais outras situações podemos apresentar aos alunos? Participem do debate!
Boa semana, educador. Boa semana, educadora!