Nesta segunda-feira, celebra-se o Dia Nacional de Combate ao Bullying. Esse que é nosso tema da semana tem tomado significativo espaço nas mais diversas mídias. Entretanto, o que verificamos é ainda enorme desinformação acerca do que realmente caracteriza tal fenômeno. Frequentemente testemunhamos visões reducionistas que colocam no mesmo balaio ou consideram similares as situações de indisciplina, de falta de polidez e os atos de violência, como o bullying.
Se no senso comum essa confusão acontece, entre nós, educadores, ela precisa ser abolida. Portanto, é preciso fazer algumas importantes distinções entre os problemas mais recorrentes de convivência no contexto escolar, buscando compreender as características e possíveis consequências desses tipos de violência.
Primeiramente, é necessário reconhecer no ambiente escolar a existência de dois grandes grupos de manifestações que geralmente causam inúmeros problemas de convivência: as perturbadoras – ou indisciplinadas – e as de caráter violento.
Manifestações perturbadoras
O primeiro grupo refere-se aos confrontos existentes entre pares ou entre aluno e professor, em que muitas vezes há a violação de normas consideradas como justas e necessárias. Refere-se, também, ao desrespeito às regras elaboradas coletivamente, às atitudes de desordem e aos comportamentos irritantes, como o enfrentamento, o desinteresse, a desmotivação e a apatia. São exemplos típicos: a conversa durante a explicação, a falta de pontualidade, o envolvimento com objetos impróprios à atividade do momento, andar pela sala, incomodar os outros, ter atitudes indelicadas, fazer barulho, dar apelidos, fazer fofoca, demonstrar indiferença, interromper frequentemente, faltar sem justificar, usar o celular fora do contexto pedagógico, cabular aula, se atrasar e recusar-se a participar das propostas.
Essas são situações em que há uma visível ruptura do contrato social da aprendizagem, tanto dos conteúdos curriculares como também da boa Educação. Embora se tratem de microviolências cotidianas, essas situações, em que é violado o respeito ao outro, diferenciam-se de condutas criminosas ou delinquentes. As manifestações indisciplinadas causam mais incômodo pela frequência com que ocorrem do que propriamente pela gravidade dos atos. São feridas as regras de boa convivência e não a lei ou o regimento interno do estabelecimento. Portanto, há uma decepção quanto às expectativas do que se espera como boa conduta social.
O bullying e as manifestações violentas
Já nas manifestações de caráter violento, o que impera é uma relação de imposição em que se contrastam dois lados: o da dominação e o da submissão. Nesse caso, são frequentes os danos à dignidade pessoal, com visível atentado à integridade física, moral e psicológica dos sujeitos. São exemplos dessas manifestações: lesões, extorsão, tráfico de drogas na escola, agressões físicas, furto, depredação, porte de arma, abuso sexual e atos que visam humilhar – como apelidos pejorativos, difamação, ameaças e exclusão. Há nesse grupo claro propósito em atingir diretamente a instituição ou as pessoas que fazem parte dela ou, ainda, que a representam. As principais características são os atos agressivos e intencionais que supõem força, coerção, provocando danos e destruição. Tais manifestações são reguladas pelo Código Penal por se tratarem de ações que atacam a lei com ou sem o uso da força física. Nesse grupo, portanto, estão incluídos eventos em que há diferença na intensidade da violência, manifestada em ações reativas ou não (em que houve ou não algum motivo disparador)
E é nesse domínio, de caráter violento, que se enquadra o bullying escolar. Trata-se de um fenômeno multicausal e, portanto, não é legítimo considerar que problemas familiares, por exemplo, sejam causas exclusivas de tal violência.
O bullying possui seis características principais: só ocorre entre pares, havendo, assim, simetria de poder; a agressão é intencional e sem motivo aparente; há uma recorrência nos atos; a preferência é por uma vítima frágil; há visível desigualdade de poder físico ou psicológico; e, finalmente, demanda a presença de um público (espectadores).
Os prejuízos às vítimas de bullying – também chamadas de “alvos” – são enormes e comprometem desde a sua vida escolar até a sua saúde mental. Como apresentam uma fragilidade psicológica acentuada, tendem a pensar que são merecedores de toda a crueldade impingida por seu “algoz” – o agressor ou autor. Sendo assim, sofrem em silêncio. Geralmente não buscam ajuda nem compartilham os episódios constantes de horror pelos quais passam com ninguém. Como consequência, costumam manifestar sintomas que podem servir de pistas: queda no desempenho escolar, mal-estar antes de ir para a escola, desejo sistemático de faltar às aulas, marcas no corpo, sumiço recorrente de objetos ou dinheiro. É necessário que os adultos – pais e professores – estejam atentos e não menosprezem essas pistas. As cicatrizes físicas deixadas pelos atos violentos de bullying podem até desaparecer com o tempo. Porém, cicatrizes morais e psicológicas são indeléveis da alma.
Nosso próximo post trará sugestões de leitura que poderão contribuir em sua prática no combate ao bullying e outras manifestações que comprometem a convivência escolar.
Cumprimentos mineiros e até a próxima semana!