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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Segurança sob medida: como evitar a violência na escola, da escola e à escola?

POR:
Flávia Vivaldi

Um fato que nos chama a atenção quando tratamos da segurança escolar é perceber que a escola foi, durante muito tempo, um espaço seguro e sagrado, imune e imaculado de todo e qualquer tipo de violência vinda de fora. Um grande questionamento feito por pais e educadores é: como e por que isso se perdeu?

É impossível falar sobre segurança nas escolas sem antes pensar nas origens da chamada violência escolar. E pensar sobre isso implica considerar, no mínimo, dois contextos distintos: o extramuros, em que a violência vem de fora, e o intramuros, que se refere aos casos que ocorrem dentro da instituição.

Quando ela vem de fora, na maioria das vezes, trata-se de um tipo de violência que reflete as desavenças e disputas que, na verdade, nada têm a ver com a instituição. A escola é frequentada por grupos que buscam acertar contas com desafetos ocorridos fora daquele lugar e, portanto, a os problemas, nesse caso, poderia acontecer em qualquer outro local.

Nesse contexto, há discussões acirradas quanto à utilização de equipamentos como câmeras externas, identificadores eletrônicos e catracas que, teoricamente, inibiriam ou impediriam a violência. Há estudos que mostram o enorme interesse mercadológico em difundir a ideia de que somente blindando o local é possível afastar a violência. Além disso, evidentemente, nossas instituições, vocês sabem disso, sofrem forte pressão das famílias para garantir a segurança de seus filhos e protegê-los do mundo externo. Nada contra a aquisição, na medida do possível, de equipamentos que possam amenizar a preocupação dos educadores e das famílias com possíveis invasões. Mas podemos pensar também em outros caminhos e estreitar a relação da escola com seu entorno pode ser um deles.

Independentemente de pertencer a uma região de maior ou menor poder aquisitivo, a escola, como instituição social, deve (ou deveria) se aproximar da comunidade local: comerciantes, prestadores de serviços, vizinhos, lideranças comunitárias, etc. A proposta de conhecer e reconstruir a história da instituição e do bairro em que ela está é uma boa estratégia. Nessa direção, convidar representantes da comunidade para uma conversa com alunos é o início para a construção de uma relação de corresponsabilidades e de pertencimento. Há, certamente, nos depoimentos dos comerciantes e moradores mais antigos, uma riqueza cultural e de informações relevantes tanto para o trabalho pedagógico quanto para a prevenção da violência externa. Desde os alunos pequenos até os adolescentes, a oportunidade de conhecer e trabalhar questões referentes à realidade daquela comunidade enriquece as relações e favorece um trabalho em rede.

A experiência de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, é um bom exemplo do que estamos falando. A EMEF Campos Salles, com base em seguidos episódios de violência e ameças externas, construiu sua rede de proteção contando com a participação efetiva da comunidade. Houve intenso trabalho por parte da gestão e de todos da equipe em envolver os moradores daquela região no processo de Educação. Acertadamente, o gestor clareou para a comunidade que Educação não é responsabilidade somente da escola. O processo envolve outros setores, outros personagens. E o resultado foi um espaço sem muros e cuidado por todos os atores daquela comunidade. Não estou aqui defendendo que seja possível ou viável reproduzir na íntegra a experiência de Heliópolis. Porém estou afirmando que estreitar as relações com o entorno, num processo dialógico e cooperativo, contribui para a prevenção da violência associada às invasões do mundo externo. Por exemplo, um simples telefonema do senhor Carlos, da padaria, compartilhando com a escola que alguns sujeitos estranhos à comunidade estão rondando a região, pode antecipar um evento inesperado. Ainda sobre a segurança necessária contra a violência externa, antes da exigência de investimentos financeiros por parte das escolas em equipamentos, há que se expandir a discussão acerca de políticas públicas nessa área. Mas essa já é outra discussão…

Outro tipo de violência também presente e motivo de grande preocupação é a violência intramuros. Ou seja: a violência da escola e à escola. Ambas relacionam-se entre si e também com o clima presente na instituição. A violência da escola é representada por atitudes muitas vezes arbitrárias e autoritárias que algumas instituições adotam. Simbolicamente, diz respeito às relações coercitivas estabelecidas pelos adultos/autoridades, bem como à imposição de regras que possam ferir o sentimento de justiça, necessário a um clima escolar favorável. Embora simbólica, trata-se de uma violência que, aos poucos, mina todo o processo de construção do conhecimento e de relações interpessoais saudáveis.

E, por último, há o tipo de violência à escola. Pensemos juntos: os atos intencionais de depredação ao patrimônio ou de agressão aos profissionais da instituição permitem pensar na hipótese de que são manifestações negativas contra a instituição ou contra as pessoas que ali trabalham. E surge a pergunta: quais razões inspiram tamanha violência? Muitas vezes a resposta se encontra naquelas ações ligadas às arbitrariedades que ocorrem no espaço educacional. Ou seja: há entre esses dois tipos de violência possíveis relações de causa e consequência. E aí? O que fazer para garantir a segurança de nossos alunos, professores, funcionários, enfim, de toda a escola? Continuaremos essa discussão na próxima semana e nosso foco será a segurança contra a violência da e à escola.

Não se esqueça: esse é nosso espaço. Participe. Deixe seu comentário.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!

Para aprofundar: A Violência na Escola: Como os Sociólogos Franceses Abordam essa Questão. Bernard Charlot. Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 432-443.