Durante as comemorações da semana da criança, uma escola municipal organizou algumas atividades diferenciadas e, dentre elas, a ida a um clube onde os alunos teriam inúmeros brinquedos montados especialmente para recebê-los: pula-pula, futebol de sabão, piscina de bolinhas, etc. Toda saída da escola deve ser formalmente autorizada pelas famílias e, para tanto, são encaminhados bilhetes que devem ser lidos e assinados pelos responsáveis.
Nessa ocasião, justamente um daqueles alunos considerados dos mais “ardidos” chegou sem a autorização para a esperada tarde especial. O resultado foi: uma professora aliviada, principalmente porque se tratava de um aluno que ‘não merecia mesmo o passeio uma vez que havia dado muito trabalho durante a semana’, um aluno desesperado e em prantos e uma supervisora desorientada pelo choro do menino e pela cobrança das educadoras de que fosse cumprido o que havia sido previamente combinado a respeito desses casos…
A escola, com base em inúmeras discussões anteriores que envolveram todas as partes interessadas – família, alunos e educadores – havia firmado um acordo coletivo de que bilhetes sem assinatura implicariam a permanência do estudante na instituição. Houve a concordância por parte de todos de que, nesses casos, não seriam feitas ligações telefônicas na hora da saída para as atividades. A decisão foi tomada tanto por razões organizacionais da escola, quanto para estimular o exercício da responsabilidade por parte das famílias e dos alunos. Sendo assim, sem autorização, nada de saídas. A intenção era de que cada um cumprisse sua parte: escola envia bilhete, aluno mostra e entrega para a família, família autoriza (ou não) e devolve para a escola. Problema solucionado? Doce ilusão!
Diante da situação e depois de longos minutos testemunhando o desalento do garoto, a supervisora resolveu ligar para a mãe e pediu autorização para levá-lo ao passeio. Chegando ao clube com o menino atrasado, a supervisora recebida friamente por algumas educadoras que a olharam como traidora, entregou a criança e retornou para a escola. Foi então que a professora, pressionada por algumas colegas, decretou: “Você veio sem bilhete, então ficará sentado, assistindo às brincadeiras. Só assistindo, viu?”. E cumpriu-se o decreto.
Numa outra escola em que havia a regra de não permitir o uso de bonés, a direção foi procurada pela mãe de um garoto que passava por um tratamento de quimioterapia e, com a queda dos cabelos, além de todo o sofrimento com a doença, tinha vergonha de sua aparência. Sendo assim, a mãe pedia que o menino pudesse frequentar as aulas usando boné. A autorização foi dada. Porém, antecipando os prováveis conflitos que enfrentaria, a direção reuniu os alunos e declarou, em alto e bom tom: “Saibam que a regra do boné será mantida. Somente abrimos uma exceção para ele – referindo-se ao garoto de boné ao seu lado – porque trata-se de um caso especial”. E, assim, o aluno em sua já fragilizada condição, foi exposto publicamente.
É melhor prevenir do que remediar
Faço, então, duas perguntas: esses são ou não exemplos de violência da escola? Serviriam ou não como explicações (e não justificativas) para possíveis casos de violência à escola? A verdade é que não são raras situações como essas.
Não há dúvida de que nada justifica depredações ao patrimônio, agressões físicas ou morais aos educadores e profissionais da escola, independente de suas atitudes muitas vezes injustas, arbitrárias, desastrosas e desrespeitosas. Entretanto, não é difícil imaginar que em muitos casos de violência à escola há claramente a intenção de se vingar por algum tipo de sofrimento vivido na ou pela instituição.
O que fazer? Devemos retomar os princípios morais que devem sustentar nossa prática. Embora a resposta seja simples, envolve um trabalho complexo e de longo prazo, porque demanda uma mudança de paradigma. Explicando melhor:antes de investir no trabalho terapêutico, ou seja, em remédios para combater a violência escolar, envolvendo os métodos de terceirização – equipamentos de segurança, polícia, Conselho Tutelar –, a escola precisa investir no trabalho preventivo, isto é, nas vacinas contra a violência. E isso implica estudos sistemáticos dos educadores sobre temas tão distantes de sua formação, como o da violência, por exemplo. Somente por meio do conhecimento, e não por crenças e repetições de modelos superados, é possível que a escola desenvolva práticas em que os valores morais sejam vivenciados e legitimados. Práticas em que prevaleça o respeito mútuo e não a obediência cega. Práticas pensadas e construídas com objetivos orientados a uma convivência harmoniosa e democrática.
E, para encerrar o tema da semana, fica a nossa reflexão: a segurança da e na escola serão alcançadas quando tivermos uma sociedade constituída por pessoas mais humanizadas. Portanto, como educadores, façamos bem a nossa parte!
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!