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Assim não dá! Restringir espaços para a EJA

Impedir o acesso a salas e laboratórios utilizados pelos outros alunos prejudica a aprendizagem e faz com que o estudante não se sinta parte da escola

POR:
Karina Padial
Impedir o acesso a salas e laboratórios utilizados pelos outros alunos prejudica a aprendizagem e faz com que o estudante não se sinta parte da escola. Ilustração: Olavo Costa

Não importa se a disciplina é Língua Portuguesa, Ciências, História ou Arte. Todas elas são ministradas no mesmo local (a sala de aula) e com os mesmos recursos. A situação se repete em muitas escolas que oferecem a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Laboratórios de Ciências e de informática, sala de vídeo e biblioteca costumam não estar disponíveis para os alunos dessa modalidade.

A restrição prejudica a qualidade do ensino ofertado a esse público. "Quando se debate as lacunas da Educação Básica, sempre se levanta a questão da infraestrutura. Entende-se como fundamental para um bom processo de aprendizagem o acesso a recursos físicos e materiais. Na EJA, parece que esse discurso é ignorado e muitas escolas que já oferecem condições adequadas às turmas regulares não as estendem a esses estudantes, como se eles não precisassem disso", afirma Roberto Catelli, coordenador de EJA da Ação Educativa, em São Paulo.

Na dissertação Terceirização da EJA, Segregação Espacial e Aprendizagem: Um Estudo de Caso numa Escola Particular de Belo Horizonte, Cássio Francisco Lima, mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC- MG), em Belo Horizonte, mapeou os espaços de uma escola e identificou que os alunos dessa modalidade se concentravam apenas na sala de aula e no pátio coberto. A portaria, a cantina, a biblioteca e as quadras poliesportivas não eram frequentadas por eles. "Havia uma exclusão muito grande que era agravada pelo fato de o ensino ser terceirizado. Ou seja, outra instituição utilizava o espaço físico e era responsável pelas aulas e pela contratação de professores. Os estudantes definitivamente não se sentiam parte daquele lugar", explica Lima.

Destrancar as salas, no entanto, é só o primeiro passo. Elas precisam ser adequadas a esse público. Uma sala de vídeo com carteiras infantis impõe não só um problema funcional mas também constrange os adultos. Da mesma maneira, uma quadra com gols pequenos e almofadados dificilmente servirá como um local de integração, lazer e descanso para os alunos mais velhos.

Os problemas não acabam aí. É comum encontrar escolas que não dão merenda para os estudantes, não garantem a oferta de aulas de Educação Física nem sequer tratam sobre a modalidade no projeto político-pedagógico (PPP). "As dificuldades, decorrentes muitas vezes da falta de funcionários e estrutura, mostram como é baixo o investimento das redes públicas nesse segmento. Mas isso não quer dizer que os gestores não possam fazer algo para mudar essa realidade", diz Catelli. Segundo ele, além de debater o funcionamento da EJA, os conteúdos trabalhados, o sistema de avaliação adotado e os objetivos - aspectos que fazem parte do PPP -, é possível canalizar algumas verbas para adequar o espaço físico, buscar parcerias para melhorar as condições oferecidas a esse público e reivindicar recursos na Secretaria de Educação, que pode se inscrever em programas como o Brasil Alfabetizado e o Programa Nacional do Livro Didático para a EJA (PNLD -EJA).

Na EMEF Professora Nancy Ferreira Pancera, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, os 120 alunos da EJA, que têm entre 15 e 65 anos, não só frequentam todo e qualquer ambiente como também são incentivados a utilizá-los. Jairo Moreira da Silva, coordenador da modalidade na escola, conta que eles têm duas aulas de Educação Física por semana na quadra, onde praticam esportes como vôlei, futebol e atletismo. "Os estudantes também vão semanalmente à biblioteca com a professora de Literatura, que seleciona livros adequados à idade", diz Jairo.

O uso dos espaços é valorizado por Caroline Paré Benites, 18 anos, aluna do segundo segmento de EJA. Ela conta que além de ter acesso aos recursos utilizados pelas turmas regulares, eles fazem atividades extraclasse. "A última vez que saímos foi para ir ao teatro", conta. Dessa maneira, a escola amplia a bagagem cultural dos estudantes, estimula a socialização, desenvolve as potencialidades de todos, favorece a sensação de pertencer àquele lugar e garante que tenham acesso de fato ao ensino.

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