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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Como orientar os professores sobre as conversas de porta de sala com os pais?

POR:
Flávia Vivaldi

Ilustração: Vilmar Oliveira

Se tem um espaço na escola que não deveria ser um local de conversas é a porta da sala de aula. Mas como é difícil evitar que isso aconteça!

Em muitas instituições, é na porta das classes que os pais se encontram com os professores nos horários de entrada e saída da criançada. Nesses momentos, são quase inevitáveis falas como: “Posso falar com você só um minutinho?” e “Como foi o dia? Meu filho se comportou bem?”. O professor precisa ser bem orientado e estar atento para conseguir escapar dessas armadilhas. E uso essa expressão por ter vivido e testemunhado inúmeras (e desastrosas) situações, que, naturalmente, teriam sido evitadas se alguns protocolos tivessem sido seguidos.

Relato a seguir um desses momentos, certamente o mais danoso e traumático. Em turmas do 1º ano, com crianças de 6 e 7 anos, momentos de descoberta e exploração da intimidade entre meninos ou meninas é algo natural. Durante um recreio, alguns alunos, dentro do banheiro, se exibiram uns aos outros, mostrando seus órgãos genitais. Rapidamente, colegas que testemunharam a cena procuraram a professora da classe para resolver a situação. Insegura em relação a que atitude deveria tomar, ela pediu ajuda. A diretora, conhecendo sobre o desenvolvimento infantil, fez a intervenção apropriada com as crianças. Ela se preocupou mais com as questões de preservação da intimidade – o que é da dimensão do privado e do público –, do que com as de apelo sexual.

Informada sobre como o caso tinha sido encaminhado, a professora retomou normalmente o trabalho. No entanto, em vez de dar o assunto como encerrado, ao ser questionada por um familiar sobre o comportamento de um dos garotos envolvidos no episódio do banheiro, a docente relatou todo o caso, ali mesmo na porta da sala. Pronto, o estrago estava feito! Para resumir, no dia seguinte fomos informados de que o menino havia sido brutalmente espancado pelo pai que, avaliando a situação sob sua perspectiva, buscou dar um corretivo no filho, a fim de garantir que a atitude não se repetisse.

Façamos o difícil exercício de não julgar esse pai e foquemos em como evitar situações como essa. É compreensível que os professores, buscando atender às famílias, acabem dando respostas de maneira improvisada e não profissional. Há na escola, ou deveria haver, momentos específicos para o atendimento aos familiares, com hora marcada, em local apropriado e com a presença dos profissionais diretamente responsáveis pelo aluno. Sempre, o coordenador pedagógico ou o orientador educacional deve estar junto com o professor.

É importante que antes de qualquer conversa com os responsáveis, a coordenação oriente o professor e alinhe com ele os pontos a serem tratados e a abordagem adequada, considerando os aspectos relevantes para que o atendimento tenha sucesso: linguagem apropriada, acolhimento das dúvidas, respeito e reconhecimento da fala dos pais e limites a serem respeitados. Comunicações improvisadas, como nos casos dos papos de porta de sala, dão espaço para incidentes evitáveis.

Mas e quanto às indagações de porta de sala? O que responder aos pais? O melhor é dar respostas claras e objetivas que não possibilitem margem a outras interpretações. Veja alguns exemplos: “Foi um dia de muitas aprendizagens e de novos desafios” ou “o comportamento do seu filho está dentro do esperado”. Aos pedidos de conversa em particular, por sua vez, é possível se posicionar da seguinte maneira: “Será que poderíamos combinar um outro momento? Na entrada e saída é fundamental que eu esteja atento e disponível para as outras crianças”. Uma resposta difícil? Não. Uma resposta profissional!

Voltando ao episódio que relatei acima, embora essa orientação já tivesse sido dada aos nossos professores, não pudemos evitar o desfecho da história. Portanto, coube à professora e a todos nós da escola convivermos com aquele que, para mim, é o pior dos castigos: o sentimento de culpa.

E você, já viveu alguma saia justa causada por esses bate-papos de porta de sua sala? Conte como lidou com a situação. Sua participação enriquece esse espaço.

Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!