Entre todos os nossos desafios diários talvez o maior e mais importante seja o de acender nos alunos o desejo pela busca do conhecimento. Apesar disso, com o passar dos anos, o envolvimento deles com os estudos se fragilizou e isso tem provocado angústia em todos os educadores!
Quando partimos do pressuposto de que o homem é, por natureza, um ser curioso e sedento por descobertas, a desmotivação da garotada é ainda mais incômoda e preocupante. No entanto, é preciso considerar que, ao contrário do que ouvimos em repetidos discursos e lamentos sobre a Educação nos dias de hoje, o problema está relacionado diretamente a fatores externos aos alunos.
Tecendo um paralelo entre a realidade atual da escola e a de 30 anos atrás, nos chama a atenção como mudou o envolvimento que os alunos tinham com os estudos antes e têm agora. Mas o que mudou? E por que mudou?
Há explicações para essas questões. Pensemos no aluno de antigamente. Ele era movido predominantemente pela moral da obediência – heteronomia – e jamais questionava se o conteúdo proposto pela escola faria ou não sentido para sua vida. Ele era fruto de uma Educação familiar muito mais autoritária, em que a obediência à autoridade dos mais velhos estava acima de qualquer questionamento, independente da sua própria opinião. O cumprimento de regras e deveres se dava em nome de quem os ditava, e não por consciência de sua necessidade.
Já ouvi educadores dizendo que esse receptor passivo de tempos atrás seria melhor para o bom andamento das aulas. Considero isso totalmente questionável. Afinal, que aluno queremos ajudar a formar? O que obedece e cumpre integralmente toda e qualquer ordem? Evidente que não. Nosso desejo é – ou deveria ser – formar um ser humano mais justo e consciente, crítico e responsável. Nosso trabalho deve, acima de tudo, favorecer a autonomia moral e cognitiva de nossos alunos. E sua construção parte do princípio de que o ser humano precisa se sentir desafiado a reagir, ou seja, deve se incomodar, ficar intrigado, duvidar e até “querer pagar para ver”.
Com as transformações nas relações familiares e em toda a sociedade, o perfil do aluno é totalmente diferente daquele anteriormente descrito. E, por não mais aceitar passivamente o que lhe é imposto, não podemos contar que ele irá se comprometer com algo que não faz sentido para ele. Por isso, não há mais razão em conquistar o envolvimento do aluno somente lembrando-o das notas que deverá alcançar, da aprovação no final do ano ou do seu ingresso na universidade.
Provocar a participação da garotada é possibilitar também que eles desenvolvam projetos individuais e coletivos, busquem conhecimento a partir de suas inquietações e do que quer descobrir e façam perguntas sobre o que está aprendendo, assim como defendia Jean Piaget (1896-1980) e como, atualmente, defende o pesquisador espanhol Josep Maira Puig. Hoje, os makers space (espaços de criação) retomam esse discurso e preveem, justamente, o estabelecimento desse equilíbrio entre o que o aluno quer e o que ele precisa aprender ao contemplar momentos em que as metas a serem alcançadas são estipuladas ora pelos próprios alunos ora pelos professores. Quando fazemos isso, garantimos o exercício de autorregulação necessária para o alcance da autonomia, tiramos o foco dos resultados e passamos a considerar mais o processo. E ele, certamente, exigirá envolvimento, responsabilidade, trabalho coletivo e outros aspectos imprescindíveis para a formação dos estudantes.
O desenvolvimento de um trabalho pedagógico que aproxime as crianças e os jovens de seus projetos de vida implica diretamente em alimentar sua motivação para buscar conhecimento. No lugar do medo e da obediência cega aos professores que caracterizava os alunos do passado, devemos inspirar em nossas crianças e nossos jovens a admiração, semente do respeito à autoridade, algo tão necessário e desejado por todos nós.
E você? Como desafia seus alunos? Suas experiências certamente podem incentivar novas práticas. Compartilhe conosco.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!