“Fulana é a queridinha da diretora!” “Beltrana é a santinha da classe!” “Ciclano é o preferido dos professores!” Escutamos com muita frequência comentários em relação à possível preferência de alguns educadores por determinados alunos. Mas, quando são questionados sobre isso, logo se esquivam: “Não tem essa de eu gostar mais de um do que do outro. Tenho o mesmo sentimento por todos eles! É que tem alguns estudantes que agem de forma provocativa e querem tumultuar”.
É hipocrisia, no entanto, afirmar que gostamos igualmente de cada menino e menina. Isso não é natural do ser humano! Todos nós, é evidente, temos afinidades com uma ou outra pessoa, tanto no ambiente profissional quanto no pessoal. Por isso, independente de nossas inclinações, nosso foco deve estar em agir com todos tendo como base os mesmos princípios, em especial o respeito, a justiça e a generosidade. Assim, devemos ter o cuidado de lidar e conviver da melhor forma possível com aqueles que não atraem nossa total simpatia.
Afinal, é fácil ter um bom relacionamento com quem tem uma postura positiva frente as suas responsabilidades como estudante e, acima de tudo, atitudes respeitosas na convivência diária. Bem mais desafiador é ter afinidade com quem nos desafia ou se omite do papel de aluno. A tendência é sempre perceber primeiro o que é negativo e o que não se enquadra às nossas expectativas. Mas não podemos nos esquecer de que todos nós temos boas e más qualidades. Isso significa que aquele que tenta nos tirar do sério também tem características positivas que devem ser identificadas, reconhecidas e, inclusive, potencializadas.
Para tanto, basta que, conscientemente, analisemos o que ele faz, quais as atitudes dele e o que nos provoca sentimento negativo e separar quem ele é de como ele age. Mas como fazer essa separação tendo em vista que nossas atitudes mostram mais de quem somos do que as nossas palavras? Diante dessa questão, temos que ter claro que o aluno é um ser em formação e que a construção da sua personalidade depende também da qualidade de interação que terá com os adultos que servem de referência.
Um ensino orientado para a formação de personalidades éticas necessita de coerência entre o discurso e a ação. Assim como facilmente identificamos as incoerências nas atitudes dos outros, também nossos alunos as identificam em nossa prática. Ou seja, embora possamos nos permitir ter sentimentos diversos, nossas ações devem ser filtradas para garantir o exercício do respeito mútuo, da tolerância e do trabalho com as diferenças – temas esses tão presentes nas propostas curriculares, mas nem sempre concretizados nas práticas do dia a dia.
Ao considerar todos os sujeitos como iguais de direito, a Educação para a autonomia moral preserva justamente o direito do aluno de se tornar um ser humano melhor. Isso pressupõe propostas de reflexão sobre as atitudes indispensáveis para o bom convívio social nas quais eles possam identificar em si características e atitudes positivas, bem como negativas.
Tais momentos permitem também ao professor pensar sobre si, buscando sempre identificar a natureza do que o desagrada: trata-se de uma atitude que compromete a aprendizagem ou simplesmente que fere meus padrões de comportamento? Essa autoanálise por parte do docente pode favorecer, inclusive, a sua prática, pois favorece que ele encontre um caminho para uma relação respeitosa sem que os favoritismos sejam considerados.
O importante é perceber que não há nenhum demérito em sentir mais ou menos afeto por um aluno. O que é inadmissível é que nossas atitudes privilegiem uns em detrimento dos outros porque são exatamente “os outros” que necessitam ainda mais de nossa coerência e tolerância.
E você, tem seus alunos preferidos? Compartilhe conosco. É sempre muito gratificante conhecer quem assume os sentimentos e reflete sobre as ações.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!