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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Resultado nas avaliações não pode ser medida para premiar os alunos

POR:
Flávia Vivaldi

Foto: Shutterstock

Final de ano, escola encerrando o calendário letivo, muitos alunos ainda inseguros quanto aos resultados e outros tantos já entrando de férias por terem alcançado as médias necessárias. Nesse período, não faltam as festas de encerramento, cerimônias de formaturas e a famosa premiação dos melhores do ano. Aqui está nosso tema de hoje: os melhores alunos recebem medalhas e certificados por serem melhores em quê? Normalmente, em notas. Pois é esse o ponto.

Coerência é fundamental quando se busca um trabalho voltado para a autonomia dos estudantes. E aqui vale retomar o conceito de autonomia, que pressupõe autogoverno e capacidade de fazer as escolhas mais justas para si e para o grupo em que está inserido, ou seja, agir pautado em princípios morais universalizáveis. Levando isso em conta, os reguladores externos – recompensas e punições – em nada contribuem. Ao contrário, são eles que mais ancoram nossos meninos e nossas meninas em acentuado grau de heteronomia, incentivando-os a agir conforme as consequências.

No primeiro semestre deste ano, ouvi o seguinte comentário do renomado cientista político Alberto Carlos Almeida no programa Na Moral, da Rede Globo: “Estar certo ou errado não é algo absoluto, depende de quem está do outro lado do balcão. O jeitinho [brasileiro] é também uma porta aberta para você quebrar a virtude”. Sua fala estava relacionada aos dados de uma pesquisa que mostrou que 82% da população do nosso país acredita que a maioria dos brasileiros age de maneira a levar alguma vantagem sobre o outro. É ou não assustador? E quando relaciono isso a algumas atitudes da escola quando o assunto é premiação isso me preocupa ainda mais. Calma, vou esclarecer melhor! É que não dá para separar essa triste característica do nosso povo – de agir pensando somente em causa própria – do tipo de Educação oferecida por nossas escolas. Quem somos e como agimos reflete muito a qualidade das relações que tivemos (e temos) nos mais diferentes grupos sociais – aqui, em especial, das relações que os alunos estabelecem na escola entre os seus pares, os adultos e o conhecimento. Agora pensemos: se o conhecimento é mensurado e festejado pela melhor nota, ele dificilmente se tornará valor para uma parcela significativa dos estudantes, principalmente para aquela que jamais será premiada justamente por não alcançar os melhores resultados.

Com frequência, escuto de professores e gestores que defendem as premiações o argumento de que “é uma maneira de estimular os alunos, afinal, quem não gosta de ter seu resultado reconhecido?” Claro que todos nós gostamos e precisamos nos sentir valorizados. Entretanto, por trás da ideia de premiar somente as melhores notas está uma concepção de que somente nossa dimensão cognitiva é importante. O ser humano é só isso? Outras características virtuosas não são relevantes? Se o objetivo é estimular os estudantes, precisamos ampliar nosso olhar.

Trabalhei em uma escola na qual foi adotada uma prática simples, porém, extremamente significativa para todos – educadores, alunos e familiares. Semanalmente, durante a cerimônia cívica de execução do Hino Nacional, os professores escolhiam um estudante de cada turma – desde os pequenos da Educação Infantil até os adolescentes do Fundamental II – para segurar e hastear a bandeira. Porém, a escolha era pautada na virtude apresentada por ele em seu dia a dia: companheirismo, respeito, responsabilidade, dedicação, generosidade etc. Dessa maneira, todos tinham oportunidade de se sentir reconhecidos e valorizados publicamente, cada qual por qualidades próprias e relevantes para o ser humano. Vocês não podem imaginar o efeito que essa prática causou! As crianças ficavam na maior expectativa de quem seria a escolhida e por qual motivo. Naturalmente, os homenageados recebiam aplausos calorosos dos demais. As famílias que levavam os filhos esperavam a cerimônia acabar e participavam junto conosco daquele momento, sempre na expectativa de ver o filho em uma posição de destaque por ter uma virtude reconhecida e legitimada pelos professores. Aos poucos, outras pessoas – funcionários, professores e familiares – também participavam como homenageados por algum motivo da mesma natureza: uma atitude ou característica louvável. Percebem a diferença? O prêmio simbólico era direito de todos uma vez que todos temos boas (e más) qualidades.

E você, o que pensa sobre a premiação aos melhores alunos? Deixe seu comentário. Nosso espaço é de troca!

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!