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Foto: Shutterstock
Sem mudar nosso foco – o aluno –, o convite de hoje é para pensar em como auxiliar o professor quanto ao próprio desenvolvimento moral. Sobre isso, o pesquisador em psicologia moral Yves de La Taille levanta uma questão: será que professores heterônomos conseguem formar alunos autônomos?
Refletir sobre isso é importante porque a maioria dos educadores tem como objetivo contribuir para a formação da autonomia dos alunos. Entretanto, para alcançar a autonomia é imprescindível o exercício do respeito mútuo e da cooperação e nem sempre a realidade educacional aponta para essa direção. O mais sério é que, geralmente, a formação do professor não contempla o conhecimento sobre as implicações da qualidade da relação – com o conhecimento e com os alunos – e o desenvolvimento moral.
Como orientadores educacionais, temos, então, esse grande desafio: como ajudar na formação moral dos professores? A resposta é curta, porém, carregada de complexidade. É preciso auxiliar o educador a conhecer a teoria do desenvolvimento moral e isso pode ser feito pormeio de estudos coletivos sobre o tema. Afinal,sereducador também nos torna eternos estudantes, o que nos permite o exercício da humildade, tão necessária para duvidar de nossas convicções e empreender nossos esforços na busca por mais conhecimentos.
À orientação cabe, portanto, investigar junto à equipe de docentes quais as representações que eles têm sobre autonomia, conhecimento e valores. Ao fazê-lo, é possível reconhecer em que direção o trabalho do educador tem caminhado e se está indo contra ou a favor do desenvolvimento moral dos alunos. Esclareço melhor: vamos imaginar que o professor conceba autonomia como a capacidade do sujeito conseguir fazer algo sem o auxílio de outras pessoas; o conhecimento como algo alcançado pela capacidade de atenção que se dá a uma atividade e pela reprodução/repetição que se faz de algo; e os valores como conteúdos importantes para a vida em sociedade que devem ser passados inicialmente pela família e depois pela escola. Ao saber disso, a orientação poderá reconhecer a que paradigma as respostas estão vinculadas – no caso, elas estão baseadas nas ideias do empirismo, ou seja, na concepção de que a formação do sujeito se dá principalmente por conta de fatores externos a ele. Tal concepção induz o profissional à adoção da pedagogia diretiva, na qual o papel do professor é central e superior, a metodologia mais comum é a da abordagem transmissiva e os espaços de trocas e debates são escassos.
Bom, mas o que isso tem a ver com o desenvolvimento moral? Tudo! Quanto mais hierárquica, autoritária, coerciva e unilateral forem as relações estabelecidas, mais se legitima e fortalece a heteronomia em vez da desejada autonomia. No entanto, além dos conhecimentos trazidos pela psicologia do desenvolvimento, com o avanço dos estudos sobre o funcionamento do cérebro, cada vez mais temos as comprovações científicas de que é a ação e interação do sujeito com o meio físico e social que faz, qualitativamente, toda a diferença no seu processo de desenvolvimento – cognitivo, afetivo ou moral. Portanto, estamos diante de outro paradigma, que se baseia em uma pedagogia relacional,que concebe o conhecimento como a construção do sujeito com base no que ele já traz da sua experiência e da sua interação com “o novo” e com as pessoas. Sendo assim, tal visão pedagógica prioriza a metodologia das trocas entre pares, da relação por reciprocidade e das descobertas – estratégias totalmente favoráveis ao desenvolvimento da autonomia.
É papel da orientação promover a formação centrada na escola, criando momentos de estudos e reflexão em que toda a equipe possa analisar crítica e teoricamente suas práticas, o que fortalece o olhar científico a fim de neutralizar crenças e “achismos”. Tudo isso, sem dúvida, favorece também o desenvolvimento moral de todos. Afinal, reconhecer outras perspectivas e perceber nas atitudes indesejadas dos alunos pistas para um trabalho efetivo de Educação moral, só é possível estudando e conhecendo cada vez mais sobre o ser humano.
E você, o que pensa sobre isso? É possível formar para a autonomia sem refletir sobre a própria prática e postura de vida? Compartilhe conosco. Suas contribuições renovam nossas energias.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!