Na semana passada, li uma reportagem publicada na Folha de São Paulo que, além de emocionar, ilustra nitidamente nosso tema dessa semana. A matéria relata a experiência de Vidal, um estudante de uma escola pública localizada no bairro com maior taxa de criminalidade de Nova York. Não é difícil imaginar as dificuldades dos profissionais da instituição em lidar diariamente com um público vindo majoritariamente de um meio em que a violência e a marginalidade tornaram-se valores e ferramentas de sobrevivência. Pois bem! Em uma página de uma rede social que diariamente traz perfis de personagens da metrópole norte-americana, ao ser indagado sobre que pessoa mais teria influenciado sua vida, o garoto escolheu a diretora da sua escola.
Ele contou que nos momentos em que um aluno se envolve em uma confusão, em vez de levar suspensão, ele recebe orientação da diretora. A atitude é correta e esperada – apesar de muitas escolas, diante de situações de conflitos, ainda hoje recorrerem às advertências e suspensões acreditando que esses recursos são suficientes para reverter os problemas. Mas o que me chamou atenção foi o conteúdo das orientações e conversas protagonizadas pela diretora. Vidal enfatiza que além de refletir com os meninos sobre as dificuldades que enfrentam por conta da realidade socioeconômica em que estão inseridos, ela também destaca a importância de cada um como ser humano e as possibilidades de realização pessoal e profissional que os estudos – o conhecimento – podem oferecer a cada um deles. Ou seja, a diretora se importa e valoriza cada um dos alunos. O fechamento da história de Vidal vai ficar para o final do post!
Então, vamos ao tema da semana: o conceito de profecia autorrealizadora. Em 1968, dois destacados psicólogos norte-americanos, Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, realizaram um trabalho pioneiro que tinha como objetivo testar a hipótese de que os alunos cujos professores tinham expectativas mais positivas em relação ao seu desempenho acadêmico realmente apresentavam melhores resultados. Para a pesquisa ser feita, os docentes foram informados sobre a necessidade de avaliar a eficiência de um novo tipo de teste de inteligência – que foi aplicado a todos os estudantes da escola. Os estudiosos, então, escolheram aleatoriamente 20% dos alunos, mas, para os professores, os estudiosos afirmaram que se tratavam dos estudantes potencialmente capazes de rápido desenvolvimento cognitivo. A diferença de desempenho entre eles, portanto, estava apenas na mente das professoras.
Todos os estudantes refizeram o teste após quatro meses do início das aulas e ao fim do ano letivo. A constatação foi assustadora. De maneira geral, o estudo indicou que os alunos dos quais os professores esperavam melhores desempenhos mostraram de fato melhores resultados. Segundo os autores, os que eram vistos de maneira positiva pelos docentes, ou seja, que são estimulados e reconhecidos por suas boas qualidades, tendem a conquistar mais avanços. Por outro lado, aqueles que não têm reconhecido nenhum valor positivo têm seu desempenho acadêmico comprometido negativamente.
Percebam o tamanho da nossa responsabilidade! Reconhecer as qualidades dos alunos considerados “bons” é muito fácil. Porém, buscar valores positivos – que certamente existem, ainda que escondidos pelas performances desviantes – naqueles que se destacam por comportamentos inadequados e baixo desempenho é bem mais complexo. A maior tendência é que essas meninas e esses meninos caiam no esquecimento ou que sejam constantemente avisados de que não fazem nada certo. E aí, considerando tudo o que já refletimos sobre construção de personalidade e a teoria de Rosenthal e Jacob, ajudamos os nossos alunos mais difíceis a concretizar nossas próprias profecias. Mas é claro que podemos e devemos fazer o contrário disso e sempre lembrar que todo ser humano precisa se sentir valorizado e ter sua importância reconhecida.
Voltando ao Vidal. O depoimento do garoto, descrevendo suas dificuldades e apontando a diretora como sua figura de referência esua autoridade moral,comoveu os leitores. O dono da página onde o relato foi publicado criou uma “vaquinha online” para ajudar a escola e até o momento já foram arrecadados mais de 1 milhão de dólares. O dinheiro será destinado para uma viagem dos alunos a Harvard e para pagar o curso daqueles que forem aceitos por alguma universidade. Deixando de lado os ganhos financeiros – não é esse nosso foco –, a história de Vidal ilustra o quanto nosso papel de educador pode contribuir para transformar a perspectiva de vida de nossos alunos e influenciá-los por escolhas mais éticas.
Deixe aqui seu comentário. Conte uma experiência inspiradora que possa complementar nosso tema!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!