No post desta semana, quero contar uma história real que aconteceu recentemente com uma colega. No primeiro contato com a turma do 9º ano, ela fez sua apresentação esclarecendo que as aulas daquele dia da semana seriam destinadas para um trabalho novo da escola, voltado para a convivência social, com espaços para discussões e diálogos sobre temas diretamente ligados ao dia a dia dos alunos. Sendo assim, questionou aos estudantes – volto a frisar, de 9º ano – se eles gostariam de rever a disposição das carteiras para que pudessem ver os rostos uns dos outros. Primeiro veio o silêncio. Depois, uma garota respondeu: “Tanto faz!”. A professora, respeitando a opinião da aluna, sugeriu que a turma pudesse votar nas opções de organização da classe e as registrou na lousa:1 - fileiras (como sempre foi), 2 – círculo ou semicírculo, e 3 – tanto faz. Só que para a surpresa da professora, a alternativa mais votada foi a “tanto faz”.
A professora não se conformou com o resultado da votação e perguntou se era isso mesmo que os alunos queriam: delegar para ela a decisão. Então, a mesma aluna que falou o primeiro “tanto faz” sugeriu que tal alternativa fosse retirada da votação. Agora só com duas possibilidades – fileiras ou círculo – a turma fez uma nova votação. E pasmem! Qual delas foi a mais votada? Sim, as fileiras. Ou seja, permanecer tudo exatamente como sempre foi.
Eu não podia deixar escapar essa rica oportunidade para propor uma reflexão: Por que será que quando damos aos alunos oportunidades para que façam escolhas, opinem e participem ativamente do processo somos surpreendidos por episódios como o que acabo de relatar? Será que a Educação tem garantido espaço para o exercício sistemático da democracia? Fazer escolhas é algo simples?
Respondo primeiro a última pergunta: não, fazer escolhas é muito complexo porque, em princípio, escolher é saber lidar também com a perda. Em outras palavras: se escolho isso, abro mão daquilo. Tomar uma decisão demanda intenso exercício cognitivo e moral. Comparar, analisar os pontos positivos e negativos, estabelecer relações entre o que deve ser escolhido e os próprios princípios, considerar que é preciso pensar não só em si próprio mas também no coletivo não são tarefas simples. É algo que, desde muito cedo, precisa ser exercitado nas relações e em situações aparentemente corriqueiras, como dar às crianças a oportunidade de escolher, por exemplo, entre o casaco verde ou o azul (e não ficar ou não com o casaco em um dia de muito frio); ou se prefere comer antes a salada ou a carne (e não se quer comer ou não). Saber escolher é também se responsabilizar pelas consequências da própria escolha, o que significa se sentir satisfeito principalmente por ter vivido a experiência de tomar uma decisão, por si mesmo, independente do que os outros vão pensar.
Também respondo à outra questão: será que a Educação tem garantido espaço para o exercício sistemático da democracia? Ou melhor, “durante as aulas os alunos sistematicamente têm a oportunidade de fazer escolhas?”. Infelizmente sabemos que não. O episódio relatado demonstra o quanto já está cristalizada nos alunos a postura de aceitar e se conformar com o que é decidido pela autoridade, a tal ponto que quando aparece uma oportunidade de mudar esse cenário, os alunos, em um primeiro momento, não conseguem sair do lugar comum. Isso é muito triste e sério! Mas vale pensar: como favorecer a formação de um sujeito crítico, autônomo e consciente sem viver a democracia, sem propor o exercício das escolhas? Assim, é praticamente impossível!
E você, como lida com as escolhas? É um exercício fácil e presente em sua vida? Deixe sua contribuição.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira.