Algumas situações que ocorrem entre os professores, por serem delicadas, exigem muito profissionalismo. Alertar um colega que está tendo uma atitude inadequada é uma delas. Aqui, por inadequada, entendamos aquelas que ferem qualquer princípio moral – dignidade, justiça, respeito, etc. Portanto gritar, humilhar, duvidar, rebaixar e expor estão entre as atitudes que não devem fazer parte do repertório do educador, ou melhor, de ninguém.
Educadores que testemunharam cenas em que um colega ultrapassou os limites do respeito costumam dizer: “Ah! Fiquei quieta porque não quis me indispor!”, “Não quero que ele pense que estou me intrometendo, que sou dedo duro…” ou “Não falei nada porque não é minha função”. Não é mesmo fácil agir com assertividade, mas sair da zona de conforto é necessário quando nos envolvemos com a formação dos seres humanos, sejam eles as crianças, os jovens e os adultos que fazem parte da comunidade escolar.
Vamos partir do princípio de que as justificativas apontadas nos exemplos anteriores indicam um acentuado grau de heteronomia por parte de quem as usa. Afinal, agir, ou deixar de agir, em nome do que o outro vai pensar é considerar que manter a imagem de bom companheiro é mais importante do que se implicar com o trabalho formativo – e essa é uma das fortes características de pessoas que agem movidas por uma moral convencional. Mas minha pergunta é: desejamos ou não contribuir para a formação de pessoas autônomas? Se a resposta é sim – e desejamos que seja –, precisamos cuidar para que as convenções não se sobreponham aos princípios morais. A omissão do adulto frente a uma situação grave de intimidação é tão ou mais grave quanto o ato em si.
Temos que ter claro que existem diferentes maneiras de nos posicionar diante de situações delicadas. Um bom caminho é demonstrar empatia pelo sentimento gerador da cena – fúria, descontentamento, cansaço, desânimo etc. – e não pela atitude. Todos os sentimentos são permitidos, mas não todas as ações. Claro que temos momentos em que nossa indignação e nossa raiva são tamanhas, que nossa vontade é de explodir ou abandonar definitivamente uma turma. Isso é legítimo e humano, mas colocar o desejo em prática é inadmissível no papel de um educador comprometido com o desenvolvimento de seus alunos.
Descrever para o colega a cena testemunhada, permitindo que ele possa refletir por alguns segundos sobre o que aconteceu também é uma forma de alertá-lo sobre seu comportamento. Essa atitude pode ajudar o professor a retomar a postura mais racional e menos passional. Com os ânimos mais calmos, é hora de defender a ideia de que nada justifica ações desrespeitosas, humilhantes e intimidadoras. Isso ganha ainda mais importância, se considerarmos que a sociedade brasileira tem, nos últimos tempos, se mostrado favorável a estilos disciplinares mais rigorosos, com as crianças indisciplinadas sendo educadas seguindo modelos militares.
Em casos muito graves, além da conversa com o colega, é recomendável incentivá-lo a compartilhar o episódio com a equipe gestora, colocando-se disponível para acompanhá-lo, caso isso o faça se sentir mais seguro. O importante é zelar para que todo processo aconteça com discrição e clareza para que os episódios não se transformem em fofocas de corredor.
Vale frisar que as ideias aqui apresentadas não devem ser interpretadas como sermão, mas, sim, como pautas de reflexão. Afinal, é esse o nosso maior objetivo: refletir sobre o desenvolvimento e formação de nossos alunos.
Já presenciou algum comportamento inadequado de um colega? Que atitude você tomou em relação a ela? Compartilhe conosco! Seus comentários são sempre bem vindos!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!