Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Blog

Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

5 4 3 2 1

Novas disciplinas e novos materiais são suficientes para trabalhar cidadania?

POR:
Flávia Vivaldi

Foto: Shutterstock

Há evidências de que a Educação vive um momento delicado, ou, melhor dizendo, de desequilíbrio – entendido aqui, como uma sensação momentânea de se deparar com algo novo, que deve ser devidamente assimilado e reorganizado. É um período propício, portanto, para reflexões e tomada de consciência.

No início do mês, a Fundação Lemann publicou uma pesquisa intitulada Conselho de Classe, que reafirma a dificuldade da escola, mais especificamente do professor, em lidar com os problemas de convivência. O levantamento mostra que para 14% dos professores a indisciplina dos alunos é o problema mais grave e urgente a ser enfrentado. Ela só perde para a falta de acompanhamento psicológico para os estudantes que dele necessitam, apontada como a maior dificuldade para 21% dos docentes. Mas como mudar esse cenário?

Municípios de todo o país estão aderindo a novas metodologias que garantem aos alunos o aumento da aprendizagem emocional. Ao mesmo tempo, os senadores analisam um projeto de lei que obriga as escolas de Ensino Médio a ministrar a disciplina Cidadania – o prazo para os parlamentares enviarem as emendas encerrou-se no último dia 4 de março. Ou seja, estão sendo dados tiros para todos os lados, que correm o risco de se tornar somente balas perdidas.

O que deve ser discutido, no entanto, não é somente a introdução de novas disciplinas ou a implantação de um material didático inovador. Nossa urgência é compreender que o desenvolvimento humano não se dá por mera transmissão ou doutrinação. Se assim fosse, as gerações passadas que tiveram aulas de Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política do Brasil (OSPB) seriam cidadãos exemplares, movidos preferencialmente pela autonomia moral. Mas não é o que constatamos: 79% dos entrevistados de um levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no ano passado, afirmam acreditar que sempre que possível, o brasileiro opta pelo “jeitinho” em vez de seguir o que determina a legislação.

Maria Suzana Menin, professora da pós-graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em seu livro Projetos Bem-Sucedidos em Educação Moral: Em Busca de Experiências Brasileiras, pontua as razões pelas quais muitos trabalhos não alcançam bons resultados – o que levou a equipe de pesquisadores a desconsiderar boa parte das iniciativas inicialmente mapeadas. Entre elas estão a curta duração do trabalho com valores; a contradição entre o clima relacional da escola e os objetivos do projeto; o caráter doutrinador; e o fato de serem ações isoladas de alguns professores. Outro grande equívoco é acreditar que o trabalho de Educação moral ou de cidadania é destinado somente aos alunos!

A preocupação com a convivência é legítima, mas o trabalho dentro da escola precisa ultrapassar a fronteira dos modismos e das mudanças curriculares impostas por uma nova lei e ser norteado por estudos e pesquisas.  Algumas delas, inclusive, têm buscado conhecer o impacto do clima escolar na vida não só dos alunos como de todos os agentes da comunidade interna. Afinal, a partir de um raio X de como as pessoas percebem as diferentes dimensões da instituição, é possível identificar seus principais desafios e agir sobre eles.

Um projeto de construção de valores morais é mais do que propostas de atividades que abordem temas sociais. Para ele acontecer, é preciso criar espaços institucionais para as práticas de convivência – e a criação de novas disciplinas é uma possibilidade – mas não só. A qualidade das relações estabelecidas entre as pessoas e o trabalho com o conhecimento também devem ser revistas e orientadas para que os momentos de expressão e diálogo sejam garantidos a todos.

Minha eterna defesa será a de uma Educação sustentada muito mais por argumentos científicos do que por crenças e modismos. Fica aqui, mais uma vez, o convite para que isso se torne uma realidade.

Compartilhe conosco suas ideias sobre esse tema! Somente novas disciplinas e novos materiais dão conta do trabalho com a formação e desenvolvimento de seres humanos melhores?

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!