“Se não parar com a conversa, vai ficar sem recreio!”. “Quando parar de fazer manha, eu te dou o brinquedo.” “Se não melhorar a letra, vou chamar seus pais”.
É com frases como essas que muitos educadores e pais têm tentado resolver os constantes conflitos presentes nas relações com os alunos e filhos. Muitos dizem que “assim funciona”. Ok, mas por quanto tempo? A que preço? Pensemos sobre isso.
Na resolução de conflitos, são muitas as intervenções que podem ser adotadas e a negociação é uma delas.Entretanto, como profissionais de Educação, precisamos ampliar nossa visão sobre as estratégias possíveis para que possamos agir positivamente na formação de nossos alunos. Nesse sentido, é fundamental refletir acerca dos efeitos que desejamos alcançar com nossas ações.
Ao escolher a moeda de troca como ferramenta para alcançar os comportamentos desejados, a obediência (ou não) do sujeito continua externa e condicionada pelos prêmios ou castigos. Ou seja, enquanto a criança ou o jovem se sentir seduzido ou intimidado poderá agir de acordo com o que a autoridade espera. Mas tanto a teoria quanto a experiência nos mostram que o poder pela sedução e pela intimidação provoca no sujeito uma ação movida pelo interesse (tanto em ter algo em troca, quanto para se ver livre do que se teme). Estamos falando, portanto, em fortalecer cada vez mais a heteronomia em nossos alunos. Nesse sentido, vale lembrar (novamente) daquele famoso objetivo presente em muitos projetos políticos-pedagógicos (PPP): “Formar alunos críticos e autônomos”, e perguntar: “Como? Agindo na contramão do objetivo?”.
Que fique claro: chantagens e ameaças controlam temporariamente a situação de conflito e precisam ser constantemente intensificadas para que continuem surtindo o efeito desejado. Com o tempo, deixam de intimidar e seduzir porque são reguladores externos. A autonomia se dá por autorregulação, ou seja, o sujeito escolhe agir corretamente pela adesão interna que tem aos valores socialmente desejáveis. Essa construção só é possível por meio de interações em que a relação não se dê pela coerção e sim pelo respeito mútuo, pela cooperação.
Então, como agir?
Uma resolução de conflito orientada para a construção da autonomia pressupõe mais a postura de um mediador do que de um negociador. Alguns cuidados precisam ser tomados para que esse momento seja também uma boa oportunidade no processo de formação. Vamos a eles:
- Evite falar pelos alunos, deixe que eles descrevam seus pontos de vista e sentimentos.
- Acolha as explicações sem, contudo, validar as ações.
- Evite propor uma resolução de imediato (a pressa é inimiga da perfeição!).
- Concentre-se no problema. Não “desviar”, nem traga episódios anteriores.
- Não tome partido, nem compare as crianças. Essas atitudes podem aumentar as hostilidades.
- Quando surgir um impasse, ofereça uma sugestão, pergunte se concordam com ela, se é justa e se alguém tem outra ideia. Defenda o valor do acordo mútuo e dê aos alunos a oportunidade de rejeitar as propostas, estimulando-os a buscar soluções cooperativas.
- E o mais importante e difícil para nós, educadores: não espere resultados rápidos e mudanças radicais em atitudes que, de certa maneira, precisam ser reconstruídas.
Em geral, as intervenções descuidadas e impulsivas contribuem para que os alunos, num outro momento, escondam situações de crise. Uma boa resolução atua sobre as causas do conflito e não sobre as consequências. O trabalho voltado para a formação e o desenvolvimento da personalidade considera como objetivo o processo e não somente os resultados.
Finalizando, o conflito tanto pode ser um terreno fértil para um trabalho construtivo, como também pode ser destrutivo para as relações. É nossa postura como educador que fará a grande diferença.
E você, como age diante dos conflitos do dia a dia? Compartilhe suas experiências e opiniões. Este espaço é nosso.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!
Flávia