Por incrível que pareça, já estamos em junho. Chegou o final do semestre e, com ele, os conselhos de classe, as avaliações finais, e, claro, as festas juninas e julinas, tão esperadas por alguns e nem tanto por outros. Os festejos dividem opiniões. Apesar de remeterem ao encerramento de um período escolar, principalmente para os professores, o semestre está longe de acabar. Ainda há tanto por fazer (trabalhos, conteúdos, avaliações…) e eles precisam arranjar tempo para os ensaios, confecção de cartazes, decoração, arrecadação de prendas etc. Essa é uma preocupação para muitos docentes. E verdade seja dita: uma preocupação mais do que legítima.
Antes de mais nada, quero deixar claro que não sou contra as festas juninas. Entretanto, minha defesa é que elas façam parte de uma proposta pedagógica que possa enriquecer o capital cultural dos alunos ou fortalecer os laços com as famílias e a comunidade. Isso é muito diferente de ser a melhor possibilidade de angariar fundos para o caixa escolar. Aí tudo muda de figura!
Na semana passada, soube de mais uma pérola junina que compartilho aqui para que possamos refletir seriamente sobre o tema. O cenário: sala dos professores, quase no final do intervalo. A supervisora entra e pergunta: “docentes, que tal se vocês reverterem as prendas que conseguirem arrecadar para o bingo em dias de folga?”. Sabe vergonha alheia? Pois é o que sinto quando tomo conhecimento de um fato como esse. Vergonha de haver educadores que usam prendas juninas como moeda de troca de dias letivos sem sequer pensar no compromisso primeiro da escola que é com o aluno e seu direito a uma Educação séria e de qualidade. Desculpem, colegas, mas isso é inadmissível!
Inúmeras vezes ouvi de gestores, principalmente da rede pública, o quanto o dinheiro arrecadado nos bingos e nas barraquinhas das festas era bem-vindo para a aquisição de material ou para fazer alguns reparos ou pequenas reformas na escola. Compreendo e admiro a preocupação que está por trás dessas falas, mas, se a escola é pública, de quem é o dever de mantê-la? Compreender que esse é o papel da festa junina é perder o foco de que a Educação deve estar orientada para o exercício crítico da cidadania. Por isso, não concordo que a escola seja invadida pelo comércio junino, assim como não concordo que esse evento seja prioridade, a maior preocupação e ocupação da comunidade durante o mês de junho. Por causa disso, são deixadas em segundo plano as reais necessidades desse período letivo que se encerra: atendimentos específicos e individuais aos alunos e aos responsáveis, compartilhando os êxitos e as metas a serem atingidas; avaliação do trabalho desenvolvido até o momento; ajustes de percurso e replanejamentos.
Também causa incômodo e indignação perceber que o trabalho com o conhecimento é totalmente desqualificado quando a própria equipe gestora delega para os docentes afazeres juninos, tirando-os de suas respectivas salas para se envolver em outras tarefas, como arrecadar prendas, decorar cartazes e contratar serviços diversos para o dia da festa. Costumo dizer que são sandices juninas, afinal, se quem trabalha com Educação não a prioriza, temos um grande contrassenso.
Que bom seria se em todas as escolas, a festa junina fosse o encerramento de um belo trabalho de pesquisa que permitisse aos alunos um mergulho na história, nas tradições e nas origens desses festejos! Com certeza, na escola que produziu esse relato não é assim e o que restou a um dos professores foi perguntar “quantos dias de folga vale uma caixa de ovo?”. Seria cômico se não fosse trágico.
E você, concorda com a maneira como a sua escola trabalha os festejos juninos? Compartilhe sua experiência que certamente poderá inspirar o trabalho de muitos colegas!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi