O ADOLESCENTE
A vida é tão bela que chega a dar medo.
Não o medo que paralisa e gela,
Estátua súbita.
Mas
Esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz
O jovem felino seguir para frente farejando o vento
Ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
As folhas contam-te um segredo
Velho como mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova…
A vida é nova e anda nua
-vestida apenas com o teu desejo
Mario Quintana
Olá, diretor,
Estamos conversando nas últimas semanas sobre como preparar uma escola para as diferentes etapas da Educação Básica, lembra-se? Já conversamos sobre a Educação Infantil e sobre o Ensino Fundamental, e nesta semana nossa missão é refletir sobre os jovens do Ensino Médio.
O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece em sua Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%. Porém, quem está no chão da escola sabe como é difícil essa tarefa de matricular e manter os jovens nos estudos. Neste link, encontramos mais dados que contribuem para saber mais sobre políticas públicas voltadas para esse segmento.
Muitas variáveis tornam o trabalho com essa faixa etária um grande desafio: a falta de professores especialistas, a espantosa evasão escolar, um currículo pouco atraente para a juventude e a inserção precoce no mercado de trabalho são alguns fatores que impactam a permanência e o aproveitamento desses alunos na escola.
Diretor, você que está inserido nesse contexto, sabe que mesmo quando conseguimos ultrapassar todas essas barreiras, começam os outros desafios, dessa vez relacionados ao atendimento a essa faixa etária. Como disse meu sempre querido poeta Mario Quintana no poema que abre esse post, “Adolescente, olha! A vida é nova… A vida é nova e anda nua – vestida apenas com o teu desejo”.
Muitos são os anseios, as curiosidades, a necessidade de afirmação de identidade, as dúvidas sobre inserção no mundo do trabalho e sobre sexualidade, as escolhas importantes que precisam ser feitas tão cedo. São tantas questões fervilhando na cabeça desses alunos que os educadores que convivem com eles ficam com muitas outras: como lidar com toda essa energia? Como ajudá-los em suas inseguranças? Como tornar produtivo esse jovem cheio de energia e desejos? Como conhecer e considerar a comunidade em que este jovem está inserido? Como dar visibilidade e valorizar o protagonismo juvenil?
A resposta é simples, mas ao mesmo tempo exige esforços e comprometimento: coloque a cultura juvenil dentro da escola (veja artigo de Paulo Cesar Carrano sobre o tema. Dessa maneira, você fortalece o vínculo da instituição com os jovens, que passam a ver mais sentido no ambiente, com reflexos de sua tão intensa vida fora da escola. O Todos pela Educação acredita nessa valorização do protagonismo do estudante como uma das principais atitudes em prol da Educação. Leia mais sobre isso neste link.
Assegurar espaços de convivência para esses jovens favorece a aprendizagem de todos e a construção de uma identidade de estudante, que pensa e constrói saberes. É necessário escutar e acreditar na capacidade de participação dos jovens nessa construção. Que tal fazer uma consulta para levantar palestras e oficinas que sejam do interesse deles e, com a ajuda dos próprios alunos, organizar esses eventos?
Os estudantes podem e querem ser protagonistas na transformação dos espaços escolares, com projetos culturais que propiciem suas manifestações, colocando em discussão as questões de seu cotidiano, ligadas aos mais diferentes assuntos: de esportes a questões políticas e escolares. Eles são capazes não só de identificar problemas e demandas, mas também de desenhar soluções, emitir opiniões, criar e transformar positivamente o meio em que vivem. Fazem uso competente das mídias sociais e da tecnologia, que podem ser colocadas a serviço da melhoria das condições dos ambientes escolares e da comunidade onde estão inseridos.
Sua escola pode trazer o jovem para repensar os espaços e pensar em soluções junto com a equipe. Valorize a organização dos grêmios, potencialize os representantes dos alunos, incentive a organização de eventos e a participação na vida escolar, promova debates e rodas de conversa sobre assuntos da atualidade, leve para dentro da escola o contexto no qual eles estão inseridos. Canalizando toda a energia da juventude em prol da aprendizagem, a escola ganha vida internamente e significado para seus alunos.
Gostaram das reflexões sobre cada etapa de ensino? Têm alguma experiência para contar, de algo que aprenderam ao observar o desenvolvimento de seus alunos? Escreva pra gente nos comentários!
Um abraço,
Maura