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O professor não pode participar das formações. Como planejar um atendimento individualizado?

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Homem e mulher conversam em sala de reunião (Foto: Shutterstock/Monkey Bussiness Images)

Sempre vale a pena encontrar uma brecha na rotina e planejar encontros formativos específicos para os professores que precisam (Foto: Shutterstock/Monkey Bussiness Images)

Nem sempre todos os professores da escola conseguem participar dos momentos de formação coletiva. Às vezes porque ele atua em outra instituição no contraturno e não pode participar do horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), outras vezes porque ele tem um contrato temporário que não prevê formação em serviço.

Seja por um motivo ou por outro, nós, coordenadores pedagógicos, precisamos nos organizar para incluir todos os profissionais, da maneira que for possível, na reflexão de aspectos pedagógicos indispensáveis para qualificar as práticas em sala de aula.

Mas não podemos apenas chamar o professor de canto, apontar o que deve ser mudado e dar um texto bacana para que ele leia. Essa atitude é ultrapassada e não cumpre o papel de impactar o ensino. Temos que pensar em algo que seja realmente formativo.

Está um pouco nebuloso o que eu quero dizer? Vou exemplificar com um caso real.

Valéria começou a trabalhar como professora eventual na escola em que eu atuava como coordenadora. Desde o início, eu já sabia que ela não conseguiria participar das formações, pois ensinava em outra instituição no período contrário. Então, para não a deixar por fora dos comunicados e instruções específicas, eu sempre ia à sala dela para informá-la. Nesses momentos, trocávamos algumas ideias enquanto as crianças estavam em atividade. E foi numa dessas conversas que ela comentou que estava querendo mais orientações sobre as propostas de Matemática. Passei a notar, então, que Valéria nunca colocava jogos de Matemática no momento de diversificado. Além disso, vi que ela executava algumas atividades que não faziam parte do planejamento elaborado no início do ano, tais como pedir aos alunos que circulassem os números ditados e fizessem atividades de ligar pontos com base em sequências de números, daquelas que formam desenhos no final.

Diante disso, fui conversar com ela para entender melhor quais eram os objetivos que ela tinha definido para a turma de 4 anos da qual era responsável. Foi nesse momento que ela compartilhou comigo que não compreendia como as crianças aprendiam qual era a sequência e a escrita dos números a partir dos jogos. Ela disse também que já tinha tentado ensinar como se jogava alguns deles, mas que os pequenos não gostavam muito. Percebi que ela tinha muitas dúvidas porque sua experiência maior era com crianças mais velhas, do 3º e 4º ano do Ensino Fundamental.

O que fiz nessa situação? Perguntei se ela toparia receber uma assessoria individual e ver algumas propostas de trabalho com Matemática na Educação Infantil. Ela topou e começamos a procurar algum tempo para nos encontrarmos. Como ela não podia chegar mais cedo à escola, o jeito foi viabilizar um horário no período de aula. Conversei muito com a diretora para acharmos um jeito de atender os pequenos na ausência da professora e a solução que nos pareceu mais adequada foi utilizar o horário de lanche e de parque às quartas e sextas e deixar as crianças sob responsabilidade de uma funcionária, uma estagiária e dos outros professores que estavam no local no momento. Assim, eu teria uma hora com Valéria em cada um desses dias.

Com encontros garantidos, separei duas filmagens de situações de sala de aula para discutirmos na primeira semana de atendimento. Na primeira, crianças de 3 anos se envolviam num jogo de percurso. Na segunda, a turma de 4 anos jogava coletivamente a guerra de dados na lousa, jogo que envolve registro de quantidades e contagem de pontos. A ideia era problematizar o que os pequenos que apareciam nos vídeos sabiam, o que estavam aprendendo e quais eram as intervenções das professoras, além de refletir sobre o quanto a criança faz e refaz procedimentos matemáticos com um propósito claro e lúdico no momento do jogo. Escolhi também alguns textos que embasariam discussões como a diferença entre recitar os números, contar e quantificar. A ideia era que Valéria pudesse consultá-los caso surgissem dúvidas pontuais ou quisesse se aprofundar ainda mais no assunto.

Aos poucos, a professora começou a compreender o papel dos jogos e das intervenções em sala de aula e passou a se preocupar se todos estavam participando das situações didáticas e de que maneira ela poderia propor novos desafios. Para os encontros seguintes, ela sugeriu que discutíssemos cada um dos jogos e atividades previstos no planejamento e pediu mais sugestões de leitura.

Com o tempo, percebi que Valéria começou a diversificar as propostas em sala. Quando as crianças não se interessavam tanto, ela ainda se desanimava, mas agora sabia que contava com meu apoio para qualificar sua prática. Ela podia socializar preocupações e ouvir os desafios dos colegas em situações muito parecidas de aprendizagem.

Todo esse processo foi muito estruturante para Valéria e ela conseguiu aprofundar muito os conhecimentos sobre a didática da Matemática. Valeu a pena insistir para encontrar uma brecha na rotina e planejar encontros formativos específicos para ela.

Você também se organiza para atender as demandas particulares dos professores? Compartilhe como você faz isso.

Um abraço, Leninha