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Conhecer a comunidade também faz parte do processo educacional

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Dia de inauguração do CEU Luiza Maria de Farias. Pessoas sentam em cadeiras para ouvir uma apresentação de música num palco (Foto: Muriele Massucato)

No dia da inauguração da escola, realizamos atividades culturais e atendimentos básicos de saúde para a comunidade (Foto: Muriele Massucato)

Olá, colegas

Com a inauguração do CEU Luiza Maria de Farias e a minha chegada a essa unidade escolar aqui, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, uma questão ficou muito forte para mim: eu precisava assumir o cargo de coordenadora pedagógica num novo espaço, entender e criar relações com a comunidade do entorno.

A meu ver, essa demanda era tão importante quanto qualquer outra porque acredito que, para ser bem-sucedida, a prática de um professor ou de um gestor precisa estar inserida e de acordo ao contexto em que ele trabalha. Então, desde as minhas primeiras ações, tenho buscado articular o projeto educacional da unidade e o plano formativo e de acompanhamento dos docentes à realidade que nos rodeia.

Mas antes de falar mais sobre as atividades que estou realizando com a minha equipe para entrar em contato e conhecer melhor os habitantes do bairro da periferia onde o CEU está localizado, queria destacar um conceito no qual me embaso para pensar nesse assunto e na minha prática. É a ideia de territorialidade, que significa, resumidamente, o laço afetivo que as pessoas que moram num determinado espaço constroem com ele. Nessa concepção, a identidade das pessoas está diretamente implicada ao território em que elas moram, pois é lá que elas vivem experiências importantes e criam memórias. Dá para entender porque, para mim – e para minhas parceiras gestoras –  não é à toa se preocupar em conhecer melhor a comunidade, entender e criar esse vínculo com o espaço e as pessoas que fazem parte dele, não é mesmo?

Nossa comunidade e a relação escola-família

O bairro onde a escola está é bastante urbanizado, tem vários serviços sociais, ampla rede comercial e muitos conjuntos habitacionais. A instituição foi construída justamente para atender as diversas famílias que passaram a morar na região nos últimos anos e reivindicavam a criação de uma unidade escolar.

Quando eu, a diretora e a vice-diretora do CEU começamos a conversar sobre o projeto político-pedagógico (PPP), vimos que, para ele ser realmente de qualidade, precisava priorizar o fortalecimento da relação entre a escola e as famílias que atenderíamos.

Para isso, planejamos e já começamos a colocar em prática algumas ações. Vou listar algumas delas para vocês.

Divulgar a inauguração da escola para a comunidade e realizar ações para ela e com ela Às vésperas de a instituição começar a funcionar, a equipe escolar distribuiu diversos convites para o dia da inauguração. Aproveitamos esse momento para conversar com os moradores e entender suas necessidades e anseios. No dia oficial de abertura da escola, realizamos várias ações sociais com base no que os habitantes locais nos disseram, entre elas oficinas profissionalizantes para apresentar as propostas da Educação de Jovens e Adultos do município e atendimentos básicos de saúde, em parceria com a Unidade Básica de Saúde. Esses atendimentos, inclusive, continuarão ao longo de todo ano. Também já combinamos com algumas famílias de elas contarem suas experiências e mostrarem suas habilidades e talentos em atividades culturais nos próximos meses. Queremos dar voz a nossa comunidade através de projetos como esses.

Observar o contexto em que a comunidade vive e garantir um atendimento bastante humano. Nas formações com a equipe, abordamos bastante o respeito à condição social e às necessidades dos pais e das crianças. Nesse sentido, realizamos algumas concessões em virtude do contexto. Posso citar dois exemplos. Um deles é a autorização que a diretora deu para as famílias armazenarem os carrinhos de bebês na escola, com o objetivo de evitar idas e vindas desnecessárias dos responsáveis transportando o carrinho nas ruas estreitas do bairro. Outro exemplo é a permissão para os pais circularem pelos espaços da instituição, dialogarem com os professores, auxiliares e funcionários e se aproximarem do contexto dos filhos. Um dia desses, presenciei uma criança da turma de 3 anos mostrando à mãe onde ela se sentou para comer no refeitório, como ela e os amigos desceram as escadas em fila e onde escovaram os dentes depois da refeição. Ações como essas ajudam a fortalecer a relação com a família.

Escutar as famílias e convidá-las a participar do conselho de escola. Acreditamos no papel da família no acompanhamento da gestão escolar. Por isso, organizaremos um cronograma de reuniões e as decisões importantes serão sempre partilhadas e discutidas com os representantes da comunidade.

Acolher pais de alunos de outras escolas da região e esclarecer nosso projeto pedagógico. Nos reunimos por cinco vezes à noite com a comunidade para tirar dúvidas sobre transferências para o CEU, uma vez que ele se tornou a instituição de ensino mais próxima da casa de muitas famílias.

Documentar e monitorar as ações das crianças e levar em consideração seu modo de vida para elaborar projetos e sequências didáticas. Nossos alunos são acompanhados em diversos aspectos, entre eles a frequência, a saúde e a aprendizagem. Registramos tudo numa planilha de atendimento à comunidade, organizada por mim. Esse documento é utilizado para verificar as necessidades e as reincidências de cada criança e afinar nossas ações aos propósitos educativos. Além disso, com base na observação e no maior conhecimento dos professores sobre as turmas, oriento-os a valorizar o contexto e o modo de vida dos alunos na hora de elaborar projetos e sequências didáticas, inserindo, por exemplo, brincadeiras que eles estão acostumados a fazer na vida familiar.

Espero ter inspirado vocês a pensar sobre a relação direta do espaço e das pessoas que habitam esse local com o processo educativo. Para mim, é muito importante ultrapassar os muros da escola, dialogar com a comunidade e garantir um processo de ensino e aprendizagem de qualidade para nossas crianças.

E você, tem pensado sobre essas questões com sua equipe escolar? Quais ações vocês estão articulando? Compartilhem conosco suas experiências e sugestões.

Um abraço!

Muriele