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Reintegração de posse: "encontrei os estudantes na delegacia"

Após desocupação de uma das diretorias de ensino em São Paulo, estudantes, familiares, advogados e representantes da Secretaria de Educação passam a manhã prestando esclarecimentos

POR:
Karina Padial
Estudantes secundaristas passaram o dia na delegacia após reintegração de posse de Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste, em São Paulo (Foto: Karina Padial)
Estudantes secundaristas passaram o dia na delegacia após reintegração de posse de Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste, em São Paulo (Foto: Karina Padial)

Na manhã desta sexta-feira, 13 de maio, o 23º Distrito Policial, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, estava cheio de estudantes. Não era passeio nem protesto. Eles tinham sido levados até lá após a reintegração de posse da Diretoria Regional de Ensino Centro-Oeste (Deco), que era uma das três ocupadas pelos secundaristas na capital, realizada pela Polícia Militar. Concentrados no estacionamento do DP, vigiados pelos guardas, aguardavam a liberação.

Me lembrei das notícias que tinha visto antes de sair de casa na internet. Elas davam conta de que a ação policial ocorreu sem nenhum mandado judicial, seguindo uma orientação da própria Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGR-SP), que defende o governo liderado por Geraldo Alckmin. Segundo o órgão, a partir de agora, as reintegrações de posse de imóveis ocupados por manifestantes podem ser feitas pelas secretarias estaduais sem que seja necessário recorrer à Justiça. Foi o que aconteceu.

O diretor regional de ensino, Nonato de Assis Miranda, diz que só soube da reintegração hoje, às 5h, quando foi avisado pela própria polícia que o prédio seria desocupado. Ele afirma, ainda, que comunicou os jovens da decisão. "Fui para lá e avisei que estava chegando bastante gente. Mas eles não quiseram negociar nem sair de forma pacífica". Essa versão, porém, não é compartilhada pelos estudantes. "Não fomos avisados de nada, fomos pegos de surpresa. Estávamos dormindo quando eles chegaram. Não deu tempo de pegar nada do que era nosso. Todos os pertences permanecem na Deco", diz Pink, de 15 anos, a porta-voz escolhida pela própria garotada para falar com a imprensa.

Estudante da EE Anhanguera, a jovem já tinha participado da ocupação no final do ano passado - sua escola foi a última a retomar as aulas regulares. Coube a ela explicar também a razão de terem ocupado a Deco. "Foi um jeito que arrumamos de falar: ?oi, nós estamos aqui, queremos ter voz e queremos que nossos direitos sejam respeitados?. Se ocupar as escolas não está resolvendo, vamos fechar a diretoria de ensino e travar os documentos para que eles nos ouçam". Ela também falou sobre a pauta de reivindicações dos manifestantes. Ouça aqui:

O travamento dos documentos é a principal reclamação de Nonato. Ele, que junto com os demais representantes da Secretaria de Educação, permaneceu todo o tempo afastado dos alunos, afirmou várias vezes que as demandas não tinham nada a ver com a sua diretoria e que eles impediram que algumas licitações fossem encaminhadas. Escute o que ele falou:

Ele também reclamou dos danos ao patrimônio. Disse que os jovens picharam as paredes e mesas e que tinham arrombado as portas das salas. Também alega que houve furtos, mas não soube especificar de quais os objetos. A versão é novamente contestada pelos alunos, que negam qualquer ato de vandalismo e afirmam terem tomado medidas para prevenir problemas como os relatados por Nonato. Ouça o que diz Pink sobre essa questão:

Advogados de defesa dos estudantes acompanhavam a movimentação, tentavam agilizar a liberação de todos - menores e maiores de idade - e garantir que eles conseguissem laudo do Instituto Médico Legal (IML) que comprovassem os ferimentos provocados em alguns deles durante a ação policial. Também discutiam como poderiam contestar a orientação da PGR-SP.

Pais e mães aguardavam a soltura dos filhos. Conversei com Guga Doria, pai de dois alunos que participavam das ocupações. Ele é jornalista e sociólogo e apoia o movimento, mas pondera que é preciso saber a hora de recuar:

A maneira extremamente organizada como os estudantes se comportavam deixava evidente o fato de já terem participado de outras ocupações anteriormente. Enquanto eu acompanhava o desenrolar da situação na delegacia, os vi apostarem em fóruns democráticos para a tomada de decisão e fazer várias assembleias. Umas delas, para decidir os seis alunos que acompanhariam a conselheira tutelar na retirada dos pertences que tinham ficado na Deco. Outra para traçar os próximos encaminhamentos e marcar a uma reunião geral do movimento. Também fizeram alguns jograis - uma forma de comunicação que ficou bem conhecida nas manifestações realizadas por eles, quando um fala e outros repetem para que todos escutem o recado.

Pouco antes de serem liberados da delegacia, mais um exemplo de organização. O porta-voz pediu para que ninguém provocasse os policiais e nem caíssem nas provocações deles - alguns estudantes alegam terem ouvido ofensas racistas e sido ameaçados no percurso do ônibus até a delegacia. Dessa maneira, ninguém poderia ser detido por desacato. "Até porque se um for preso, todos vão ficar aqui em apoio, e não é isso que queremos. Então, vamos manter a calma", diz o jovem. O combinado quase foi por água abaixo quando, entediados, os jovens resolveram brincar de polícia e ladrão, que eles logo renomearam de polícia e estudante, demonstrando que, apesar da postura militante e autônoma, ainda transparecem as características da idade. Mas logo um dos garotos lembrou: "Para, gente! Isso pode ser considerado desacato". Fim do pega-pega. Recomeço do papo sério. E assim eles seguem aprendendo, na prática, a hora de brincar e quando se concentrar no que é importante.

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