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O que a Polícia Federal diz sobre a venda de carne adulterada em merenda escolar

Operação Carne Fraca apontou irregularidades no fornecimento de salsichas para escolas do Paraná em 2014

POR:
Anna Rachel Ferreira

A investigação a Polícia Federal sobre a indústria da carne chegou às escolas. Entre as diversas acusações da Operação Carne Fraca, as autoridades indicam que um frigorífico teria fornecido produto adulterado para merendas escolares. Mas o que aconteceu exatamente  e qual o risco que os alunos correram?

O único caso envolvendo merenda escolar nas 353 páginas do processo está ligado ao Frigorífico Souza Ramos, em um contrato com a Secretaria Estadual de Educação do Paraná firmado em 2014. Segundo a Polícia Federal, havia divergência no material utilizado e, por isso, a entrega foi suspensa. Veja o que diz o documento (os grifos de todos os trechos reproduzidos são de GESTÃO ESCOLAR):

“Daniel [Teixeira, fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que foi afastado por aceitar propina para fechar o olho a irregularidades] noticiou também ter apurado irregularidades em fiscalização realizada junto às atividades da empresa Souza Ramos Ltda. Essa, associada a outras duas empresas para o fornecimento de merenda escolar no Estado do Paraná. Teria ocorrido o fornecimento de produtos em desacordo com as exigências contratuais (salsicha contendo carne de frango quando deveria ser composta por carne de peru), o que resultou na suspensão da entrega da merenda escolar e no processo administrativo MAPA 21034.003214/2014-24, ainda em apuração, não obstante os produtos da empresa possuírem certificado do serviço de inspeção federal no Estado do Paraná, sugerindo, portanto, irregularidades na fiscalização das atividades da empresa.”

Em outro trecho, a Polícia Federal cita outra irregularidade na produção das salsichas de peru que a Souza Ramos forneceria para merendas. No caso, o uso de aparas de desossa ao invés de carne mecanicamente separada (CMS), resultante da trituração de partes facilmente desossadas das carcaças dos animais:

“No período de janeiro a maio/2014 não receberam nenhuma carga de CMS de Peru e que a carne utilizada para fabricar a salsicha de peru foi retalho de peru advindas de aparas de desossa, fornecida pela CENTRAL DE CARNES PARANAENSE originárias do estabelecimento BRF S/A (CNPJ 01.838.723/0182-55, localizado na Rodovia GO341, km 2,5, Distrito Industrial de Mineiros/GO, com registro no MAPA sob SIF1010). As notas fiscais emitidas pela CENTRAL DE CARNES PARANAENSE para o FRIGORÍFICO SOUZA RAMOS referem-se à remessa para industrialização (prestação de serviço).”

De acordo com a nutricionista Vânia Luiza Cabrera, especialista em alimentação escolar, apenas essa mudança na composição da salsicha não diminuiria o valor nutricional do produto. “As aparas mencionadas são sobras de carne que permanecem nos ossos do peru, depois de desossados e, portanto, têm os mesmos nutrientes que o restante da carne”, explica.

Se não for descoberta outra irregularidade, a questão principal da fraude seria econômica, pois produtos à base de aparas têm valor de mercado muito mais baixo. O próprio documento da Justiça menciona isso: “Daí se extrai que as empresas AGL COMÉRCIO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS LTDA, FRIGORÍFICO SOUZA RAMOS LTDA e CENTRAL DE CARNES PARANAENSE LTDA estariam trabalhando em conjunto para burlar o objetivo da licitação, fornecendo alimentos fora do padrão de qualidade exigidos, no intuito de gastar pouco e lucrar muito, e forjando documentos para tentar comprovar a lisura inexistente dos alimentos fornecidos”. Em bom português, a empresa teria cobrado por um produto caro e entregado um barato, embolsando a diferença.

Procurada, a Secretaria Estadual de Educação  afirmou em comunicado oficial ter conhecimento do ocorrido, pois foi ela própria que levou a suspeita em relação à salsicha de peru ao conhecimento do Ministério da Agricultura. Como resultado, a empresa foi punida e não entrega mais produtos à Secretaria. A assessoria de imprensa do Frigorífico Souza Ramos foi procurada, mas ainda não respondeu à reportagem. De qualquer modo, como as salsichas fraudadas não foram entregues, os alunos paranaenses não teriam consumido merenda com carne adulterada.