Conflitos entre os pais
Quando as discordâncias chegam à escola, o melhor é orientar para o diálogo ou, se necessário, indicar ajuda
POR: Catarina IavelbergCatarina Iavelberg é especialista em Psicologia da Educação e escreve sobre orientação educacional.
Os atritos entre os pais de um aluno, quando chegam à escola, são difíceis de administrar. Há casais que discordam do modo como devem educar os filhos e trazem as desavenças para o professor ou o orientador educacional na expectativa de que a escola tome uma posição e aponte o detentor da razão. A mediação é mais delicada quando a tensão ocorre entre pais - separados ou não - que se comportam como rivais. As incertezas e divergências quanto ao melhor modo de educar variam conforme a faixa etária dos filhos. Há discordância sobre a melhor época de tirar a fralda e a chupeta e o que fazer quando a criança não quer ir para a escola. Diante de baixo desempenho, um acha que é preguiça; o outro, dificuldade. Um quer cortar as atividades esportivas e culturais; o outro crê que conversar é o caminho. E quanto aos castigos, então, quando o comportamento não é adequado?
As dúvidas são legítimas, o problema surge quando elas são acompanhadas de acusações do tipo:
- Quando ele fica o fim de semana com o pai não faz a lição de casa, não lê nada e não estuda.
- Ela diz que vai ajudá-lo a estudar, mas fica nervosa e perde a cabeça.
- Ela não coloca limite em casa, as crianças não a respeitam.
- Ele faz chantagem e ameaças o tempo todo quando fica bravo. Diz até que vai tirar nossa filha da escola.
Ou demandam um posicionamento da escola, via professor ou gestor:
- Diga a verdade: quem você acha que está com a razão?
- No meu lugar, o que você faria?
- Diga à mãe da minha filha que...
- A escola pode escrever um relatório para o processo de pedido de guarda dizendo o que ele fez?
O profissional que atende os familiares não pode deixar que o conflito conjugal se torne o foco de sua atuação. O centro da ação educacional é a formação do aluno. Diante de uma desavença, o educador deve orientar os pais sobre a importância de eles manterem o respeito mútuo e dialogarem sobre as questões que envolvem a formação integral do filho. Em situações em que os pais ultrapassam certos limites, colocando a si mesmos e aos filhos em risco - por exemplo, quando cometem violência física ou simbólica -, o caminho é indicar ajuda profissional (terapia de casal ou familiar) ou solicitar a intervenção do conselho tutelar.
O aluno é diretamente afetado pelos comportamentos incoerentes, contraditórios e descabíveis dos pais. Muitas vezes, ele é usado como pivô de discussões domésticas ou "moeda de troca" em processos judiciais. Quando as discussões sobre o aluno se tornam um pretexto para disputas conjugais, a criança e o adolescente ficam desamparados. A escola precisa estar atenta e sensível a essas ocasiões para acolher o aluno e explicitar que, além da família, existem instâncias na sociedade (escola, conselho tutelar, poder público) corresponsáveis por ele e que lhe fornecerão o apoio necessário. Entretanto, quanto mais preventiva for a nossa ação, melhor. Em vez de atuar apenas quando o aluno já tiver vivenciado uma situação de desrespeito, por que não incluir no currículo da escola uma formação que leve ao conhecimento e a uma reflexão crítica sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)?
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