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Atenção à sala e aos professores

Como transformar a sala usada pela equipe em um espaço de trocas e convivência

POR:
Sophia Winkel
Na sala dos professores da EMEF Dias Gomes, descanso e trabalho dividem espaço: os sofás garantem um momento de relaxamento, enquanto computadores permitem que os docentes usem o local para planejar aulas. Crédito: Luiz Eduardo Saldanha

"A sala dos professores foi o primeiro lugar a que me levaram", lembra Marta Ferreira Marques sobre sua chegada à EMEF Dias Gomes, em São Paulo. "A minha impressão foi de um espaço sem cuidados, que não era um ambiente agradável para se estar. Pensei nos professores que passavam o dia todo na escola. Quando me tornei diretora, senti vontade de transformar a sala!", conta a gestora.

A impressão que Marta teve em seu primeiro dia de trabalho é compartilhada por professores de todo o Brasil. "Desorganizada", "clima pesado" e "desagradável" são algumas das expressões usadas para se referir ao espaço no Facebook de GESTÃO ESCOLAR. "É comum encontrar salas de professores com cadeiras desconfortáveis, móveis e materiais didáticos amontoados, sem qualquer organização, sujas, entre outros problemas. Ou seja, o espaço não é utilizado pelos gestores em toda a sua potencialidade", afirma Nilson Guedes Silva, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Supervisor Educacional na rede de Campinas, em São Paulo.

TESTE: você dá atenção suficiente à sala dos professores?

Ao pensar na organização da escola, salas de aula, pátio, fachada e até a secretaria ganham prioridade: os gestores pensam em como a organização desses espaços pode melhorar o clima da escola e contribuir para que as crianças e os jovens aprendam mais. Nesse processo, não é raro a sala dos professores virar um cantinho esquecido. "Quando a verba termina, colocam materiais provisórios no espaço, mas que nunca são substituídos", diz Cláudia Mota, arquiteta e sócia do Ateliê Urbano, escritório especializado em projetos escolares. A especialista conta que alguns gestores, ao apresentarem as salas dos professores, dizem que os docentes não passam muito tempo lá, que deixam seus materiais somente, como se fosse um espaço de passagem. No entanto, ela defende: "Se as salas fossem bem estruturadas, talvez os professores aproveitassem o local".

Investir no espaço é fundamental. Além de um local de trabalho, a sala dos professores também serve para muitas outras atividades. Segundo Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, a sala dos professores vem se transformando com o passar do tempo. "Antes havia uma mesa no centro e água à disposição dos docentes. Com os anos, foi-se agregando mobiliários como sofá, permitindo que o professor possa relaxar e conversar. Também houve uma instrumentalização desse espaço, que ganhou computadores e materiais de consulta, permitindo que se tornasse um ambiente de trabalho", conta a especialista. Hoje, ela é vista também como lugar de descanso, espaço de trocas (pedagógicas, culturais, informativas) entre os educadores, ambiente para acesso a informações (notícias, artes, cultura, eventos etc.), para a realização de encontros e formação e também para lazer. Em outras palavras, deve ser um local agradável, mas informal e, ao mesmo tempo, fonte de riqueza pedagógica e cultural.

Na EMEF Dias Gomes, a equipe gestora discutiu como seria possível melhorar o ambiente em que os professores convivem. Os educadores falaram sobre a função da sala dos professores e como organizá-la de maneira mais eficiente. Crédito: Luiz Eduardo Saldanha

Transformando o espaço
A antiga sala dos professores da EMEF Dias Gomes tinha buracos no chão, pois o piso estava com irregularidades. O local guardava muitos objetos de pouca serventia na escola, como um depósito. Lá também estavam móveis em más condições e uma televisão muito antiga. Foi o aparelho, inclusive, que motivou as discussões que resultaram na reforma do espaço. "A TV estava caindo aos pedaços e foi um grande embate desde o princípio. Como havia professores trabalhando e descansando simultaneamente naquele espaço, o volume do aparelho incomodava e era fonte de distração indesejada para os outros. Além disso, alguns docentes discutiam por causa do programa ou de quem usava o controle remoto. Senti que aquele aparelho não estava colaborando para o ambiente e optei por tirar", conta a diretora Marta. Alguns professores, no entanto, não aprovaram a decisão e esse foi o assunto principal da reunião de formação que aconteceu em seguida. Nessa oportunidade, iniciaram uma conversa sobre qual era, afinal, a função da sala dos professores e se a permanência da TV fazia sentido. 

Alguns educadores colocaram quanto a televisão era importante em seu descanso, mas outros lembraram que a sala também servia como um ambiente de trabalho e atrapalhava a produtividade. Assim, juntos, decidiram que o aparelho eletrônico ficaria em outro local.

Marta e a equipe de gestão aproveitaram o momento e conversaram com os professores sobre outras melhorias que gostariam que fossem feitas. Nos dias seguintes, os docentes apresentaram ideias e trouxeram imagens encontradas na internet para inspiração da equipe. Como resultado, a escola investiu um valor na aquisição de cadeiras novas, enquanto professores e funcionários ajudaram a modernizar a mobília antiga. Também construíram juntos um banco de blocos e um sofá de pallets, além de implementarem um jardim vertical na varanda, que antes era um espaço mal aproveitado. Como a gestão havia se comprometido com a nova sala de televisão, o aparelho foi colocado em um cômodo próximo ao refeitório. "Sem a TV na sala dos professores, criou-se um ambiente mais propício ao diálogo. A mudança foi positiva", conta Isabel Bozzo Gregorutti, professora de História das turmas do 6º ao 8º ano.

Espaços mal aproveitados na escola podem ser utilizados pelos professores nos horários livres. Na EMEF Dias Gomes, uma varanda recebeu sofás, mesas e bancos e se tornou lugar de descanso e de encontros informais entre a equipe da instituição. Crédito: Luiz Eduardo Saldanha

O clima conta muito
Tão importanto quanto a estrutura física do espaço destinado aos professores é um convívio harmônico. No Facebook de GESTÃO ESCOLAR, leitores relataram alguns dos problemas mais recorrentes: "Infelizmente, esse espaço que deveria ser de trocas tem sido usado pra reclamar de aluno", "Lugar de muita panelinha", "Reclama-se de tudo: do aluno ao governo, da gestão à temperatura do dia. Há poucos colegas que reflitam como podemos ajudar ao aluno A ou B em suas dificuldades". Luciene Tognetta, professora da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, em Araraquara, no interior de São Paulo, avalia as consequências dos problemas de convivência comuns nesse espaço: "Por esses motivos, muitos não têm prazer em estar nesse ambiente. Precisamos lembrar que o clima da escola é resultado de um conjunto de percepções sobre todas as relações que são estabelecidas dentro dela. A sala dos professores é um local essencial porque é lá que os docentes acabam revelando o que de fato pensam sobre a Educação, a própria atuação e a aprendizagem dos alunos. Por isso, é um local-chave para a escola".

Sobre esse impasse, a saída pode ser pela construção de espaços de diálogo mais efetivos e canais de comunicações por onde os professores possam expressar suas queixas, suas angústias e suas opiniões. "É preciso descobrir uma maneira de levar as discussões da sala dos professores para os momentos de formação ou uma roda de conversa e discuti-las de maneira propositiva", afirma Maura Barbosa. Quando uma reclamação é recorrente, é importante que toda a equipe seja envolvida para encontrar uma solução. Vale estabelecer combinados em conjunto e monitorá-los.

Por fim, Maura ressalta como a presença dos gestores no local é fundamental. "Diretor e coordenador pedagógico precisam frequentar a sala dos professores, não para inibir, mas para participar, saber das questões que vão aparecendo e poder ajudar. A gestão precisa estar próxima dos professores também nesse espaço", conclui.

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