10 dúvidas sobre o relacionamento entre coordenador pedagógico e professor
Quando o coordenador assume o posto, logo percebe que é difícil lidar com as pessoas, respeitar as diferentes opiniões e sugerir mudanças sem ser autoritário. Pedimos aos internautas que enviassem suas questões sobre a parceria de coordenadores e, para ajudar a resolvê-las, ouvimos consultores especialistas no assunto
POR: Verônica Fraidenraich1 Como posso legitimar meu papel de formador junto aos professores? Afinal, até há pouco tempo, eu estava em sala de aula como eles.
Durante anos, você cuidou somente da sua sala de aula, tentando resolver os problemas de aprendizagem da turma e procurando a melhor maneira de ensinar. Mas aí surgiram um concurso, uma seleção interna da Secretaria de Educação para o cargo de coordenador pedagógico ou você foi convidado para liderar a equipe docente. Você, claro, aceitou o convite ou se inscreveu no processo de seleção.
Em uma posição hierarquicamente superior, logo percebe como é complicado lidar com a equipe, aprender a ouvir para compreender os problemas, respeitar os pontos de vista diferentes nas reuniões, usar as diversas opiniões para chegar a um consenso, mediar conflitos sem ferir suscetibilidades, liderar sem ser arrogante e sugerir mudanças sem ser autoritário.
A pesquisa O Coordenador Pedagógico e A Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradições mostra que dúvidas sobre como lidar com a equipe são comuns e 20% dos entrevistados apontam questões de gestão como um dos principais problemas enfrentados no dia a dia.
No entanto, são os seus conhecimentos didáticos que vão fazer com que a equipe o aceite como o parceiro mais experiente, do qual vai receber orientações e no qual pode confiar. Para isso, é urgente ir atrás desses saberes e se preparar para o cargo. É possível requisitar formação específica junto à Secretaria de Educação e procurar leituras que ampliem o seu universo nas didáticas de todas as áreas do conhecimento.
2 Como fazer para receber bem o professor novato e integrá-lo ao grupo?
Antes de mais nada, é preciso apresentá-lo aos futuros colegas, demais membros da equipe gestora e funcionários. Certamente, no início ele vai demandar mais atenção de você, por ser recém-formado, por ter mudado de segmento ou, ainda, por ter vindo de outra unidade e precisar de um tempo para se entrosar. Vale marcar uma reunião individual para falar sobre a instituição e apresentar o perfil dos alunos com os quais vai trabalhar. Nesse encontro, mostre o projeto político-pedagógico (PPP) e os planos de trabalho e deixe explícitas as metas da escola. Você pode sugerir ao novato que, logo na primeira semana, faça um diagnóstico da turma e utilize essas informações como apoio para elaborar o planejamento. Coloque-se à disposição para ajudá-lo nessa tarefa.
Outra medida interessante, quando se tem um grupo heterogêneo de professores, é articular para que os mais experientes ajudem na adaptação dos recém-chegados por um tempo, como se fosse um tutor, para tirar as dúvidas pontuais.
3 De que maneira posso ajudar o professor que tem dificuldade em comunicar um conteúdo?
Ele deve se sentir inseguro com o conhecimento que tem sobre os conteúdos ou a didática. Para um bom desempenho, ele vai precisar, além de dominar a disciplina, entender o aluno e o modo como ele aprende. Os momentos de formação continuada individuais na escola são o espaço ideal para trabalhar dificuldades específicas e buscar recursos para ampliar o quadro de referências e as estratégias de ensino.
Às vezes, porém, não é só um professor que tem de repensar a sua prática didática de forma a despertar o interesse da classe, mas todo o grupo. Aí vale levar o tema para os horários coletivos de formação.
4 Como lidar com a resistência de alguns professores às mudanças propostas?
Primeiro, vamos procurar entender o outro lado: os professores se queixam de que se veem obrigados a aceitar rupturas metodológicas bruscas, tendo de deixar de lado tudo o que acreditam para adotar uma nova linha de trabalho. Você, por sua vez, sabe que é uma das peças-chave para a implantação das políticas públicas da rede, que costumam mudar à velocidade com que um novo secretário assume a pasta. Seja qual for a situação, nem sempre é fácil fazer com que um professor deixe de lado a maneira como sempre ensinou e aceite as mudanças imediatamente.
Agora a sua parte: é fundamental não ter pressa. Implante, aos poucos, um processo de estudo permanente na escola, no qual se constroem coletivamente as respostas para os problemas que forem surgindo. Só assim as transformações farão sentido e não representarão uma mera imposição - ou mesmo ameaça - ao trabalho que já é realizado. ''Quando a equipe toda pensa e reflete em conjunto, é mais fácil assumir novos conhecimentos'', afirma Ecleide Cunico Furlanetto, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid).
5 Um professor vive encaminhando os alunos indisciplinados para mim. O que devo fazer?
Na ausência de um orientador educacional na escola, é comum que o coordenador assuma essa função. Se é esse o seu caso, deixe claro ao docente que ele não pode simplesmente achar que não tem nada a ver com isso e que o papel dele é ajudar a identificar as causas dos comportamentos inadequados e como lidar com eles. ''Se o problema persistir, vale organizar uma reunião com as equipes gestora e docente para que, juntas, pensem na melhor forma de solucionar a questão'', afirma Sofia Lerche Vieira, da Universidade Estadual do Ceará (UEC).
6 Como fazer para integrar um professor que não tem um bom relacionamento com os colegas?
Cada escola tem uma cultura, com regras que devem ser seguidas por todos, mas que nem sempre são suficientemente divulgadas. Se o grupo é coeso e se conhece há bastante tempo, será mais exigente para aceitar alguém, principalmente quando ele tem atitudes e comportamentos diferentes dos demais. Pode ocorrer ainda de os conflitos serem fruto da insegurança de um educador. O principal é que o coordenador desenvolva rapidamente uma relação de confiança entre os docentes para que todos se sintam à vontade para partilhar suas experiências e dúvidas.
7 O que fazer para evitar a alta rotatividade dos professores?
Vários são os motivos para um docente mudar de escola: o salário, a localização, os recursos disponíveis, o perfil da instituição etc. Essa movimentação - quando excessiva - causa mesmo desânimo nos coordenadores, que ficam com a sensação de começar do zero sempre. ''Até que a coordenação consiga se aproximar e estabelecer uma relação de confiança, muitos professores já se foram'', comenta Ecleide. Tornar a escola um espaço acolhedor e favorável à aprendizagem é uma boa maneira de atrair e fidelizar o educador. Se ele vê que a equipe gestora é engajada e que ali existe um projeto diferenciado, sentirá mais segurança e interesse em permanecer.
8 O que fazer com os docentes que faltam muito?
É importante conhecer os motivos das faltas. Para isso, só há um jeito: conversar com o professor. Se ele estiver com problemas de saúde, aconselhe-o a procurar o atendimento médico. Mesmo assim, é bom ficar atento para detectar se as condições de ensino não têm relação com o mal-estar ou com a desmotivação.
Se a causa não for facilmente perceptível, vale lembrar o professor sobre a importância dele na sala de aula e o problema que causa quando não comparece à escola, pois mexe com toda a organização e a rotina. Além do mais, é bom recordá-lo de que, se ele não tem assiduidade, não chega no horário e não cumpre com suas obrigações, não poderá cobrar isso dos alunos. É, aliás, um momento oportuno para discutir com a equipe os direitos e deveres de cada um.
9 Gostaria de acompanhar o trabalho em sala de aula para ser um bom formador, mas não quero parecer um fiscal. Como agir?
É fundamental ter consciência de que você é o parceiro mais experiente e tem o dever de intervir quando necessário. Isso o faz corresponsável pelo trabalho do professor - que, por sua vez, precisa saber que você está ali para contribuir com o trabalho dele. Assim, fica mais fácil compreender que a sua intervenção é sempre para ajudar - e não para fiscalizar. "O compromisso de todos tem de ser com os alunos, que precisam aprender", diz Ecleide Furlanetto.
O principal é que o coordenador tenha clareza de sua obrigação com a escola, com o projeto político-pedagógico e com a aprendizagem, não se deixando se intimidar por cara feia ou resistência da equipe.
10 O que fazer com os docentes que só reclamam do trabalho?
Sinais de carência, como queixas e desabafos constantes, revelam, muitas vezes, a falta de confiança no trabalho realizado. ''A expectativa de que o coordenador sirva como um ombro amigo, seja compreensivo e ajude a resolver todos problemas pode ser um indicador de que o docente está se sentindo sozinho'', diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Num primeiro momento, o melhor é se mostrar acolhedor e ouvir o que o outro tem a dizer.
Ao mesmo tempo, é importante fazer o acompanhamento do trabalho em sala de aula, sugerindo que o docente localize o que o deixa inseguro, se tem a ver com o conhecimento sobre conteúdo, com o planejamento - ou a falta dele - da aula ou se são dificuldades de relacionamento com os alunos, os pais ou mesmo os colegas.
Outra medida válida é promover a troca de experiências entre os colegas para mostrar que todos enfrentam dificuldades, criando, assim, uma relação de proximidade. Também é preciso levar em conta que talvez a formação não esteja atendendo às necessidades da equipe. É hora então de rever o seu trabalho e até pedir ajuda a supervisores da Secretaria.
Leitores que enviaram perguntas para esta reportagem:
Pelo Facebook
Ronan Gomes, Inês Sagula, Nadja Almeida, Vera Boechat
Pelo site
Aline Camilla Batista de Assis, Aparecida Leal dos Santos, Benedita Jocilania Filha da Silva, Conceição de Maria Azevedo Silva, Janaína Chicoli, Janice Maria de Lima Martins, José Roberto da Silva, Luciana Angela Espíndola, Luciana de Oliveira Valeton, Mariana da Silva Albuquerque, Maria Euneide Ferreira de Lima, Maria Inez Rodrigues Pereira, Marizete de Souza Lima Basalia, Milena Rosa Senhorinha, Raquel de Oliveira, Rita de Cássia Horta de Lima, Rita de Cássia Santos Silva, Rubia Cristina Alcino Almeida, Viviane de Jesus Feitosa
Por e-mail
Ana Cecília Tubiane, Cintia Pradines de Menezes
Quer saber mais?
CONTATOS
Ecleide Cunico Furlanetto
Laurinda Ramalho de Almeida
Sofia Lerche Vieira
BIBLIOGRAFIA
O Coordenador Pedagógico e o Atendimento à Diversidade, Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Maria Nigro de Souza Placco (orgs.), 168 págs., Ed. Loyola, tel. (11) 3385-8500, 26,40 reais
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