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Ideb da minoria

Cidades com maioria das unidades no campo têm o Ideb calculado apenas sobre as poucas escolas urbanas

POR:
Gustavo Oliveira

Iraquara, município com 21 mil habitantes, a 450 quilômetros de Salvador (BA) tem 5.600 alunos na Educação Básica da rede municipal. A maioria deles (4.800) acorda muito cedo e vence longas distâncias para conseguir chegar a uma sala de aula. Das 42 escolas, apenas cinco estão na área urbana. As mais distantes ficam a até 35 km da sede do município.

Em novembro de 2007, quando foi aplicada a segunda edição da Prova Brasil no país, somente os alunos de três escolas fizeram o teste. O Ideb da cidade foi 3,5 para os anos iniciais do Ensino Fundamental e 3,7 para os anos finais. O suficiente para que Iraquara não entrasse no grupo de 208 municípios prioritários do Estado, que vão receber ações emergenciais do governo federal. "Temos que ver a Educação como todo. Como calcular um índice que mede a qualidade só com base em três escolas quando temos mais de 40?", questiona a secretária de Educação do município, Cláudia Fernandes Rocha.
A realidade de Iraquara se repete nas estatísticas na Bahia.

Das 21.500 escolas de Educação Básica do estado, 13.900 (65%) são rurais. Estão, portanto, excluídas da Prova Brasil. O Nordeste é a região de maior percentual de escolas rurais (62%). No Maranhão, o campeão da ruralização, 77% das escolas estão no campo.

Em Curionópolis (PA), na zona do garimpo paraense, as escolas urbanas e rurais quase empatam em quantidade. São 13 estabelecimentos no campo (750 alunos) e 15 na cidade (2.600 alunos). O principal problema de quem estuda nas áreas rurais é o transporte. "Quando chove, o acesso fica muito difícil por causa da má qualidade das estradas. Tem escola que fica a duas horas da sede do município. Não conseguimos chegar até lá para oferecer algum suporte. A verba para transporte escolar ainda é muito pequena", reclama a coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação, Adriana Pelufia.

A baixa escolarização dos pais e a falta de acesso à leitura são outros obstáculos que a coordenadora enfrenta na zona rural da cidade. "Em casa, os alunos quase não vêem a palavra escrita e nossas escolas rurais não têm bibliotecas. Tentamos enviar alguns livros, mas não funciona tão bem como na zona urbana", conta. Ao olhar para a formação dos professores rurais a situação também não é boa. A maioria tem apenas o nível médio.
O Ideb do município foi 3,3 para as séries iniciais e 3,5 para as finais. Alto demais para que fosse um dos 86 prioritários do Pará, nas ações do MEC. "Tenho certeza que o Ideb de Curionópolis seria pior se as escolas rurais estivessem no cálculo. Temos muitas escolas multisseriadas, onde se misturam alunos com vários níveis de conhecimento e o professor não consegue dar atenção individual", afirma.

No município de colonização polonesa Dom Feliciano (RS), as escolas rurais são maioria. Das nove unidades, apenas uma é urbana e dos 14 mil habitantes, 11 mil são agricultores. O transporte é principal problema. "Os alunos têm que percorrer grandes distâncias para chegar às escolas. Em alguns locais, a viagem passa dos 110 quilômetros. Eles acabam saindo cedo de casa e chegando só à noite", conta Lélia Maria Ftelmaszcvyk, secretária de Educação.

Há, também, muita resistência por parte dos pais. "Numa comunidade quase totalmente rural, temos muitos pais analfabetos, que acham que porque não foram à escola, os filhos também não precisam ir", diz a secretária. Na infra-estrutura, ela diz que as escolas rurais também deixam a desejar. "Precisamos melhorar os prédios e construir laboratórios e salas de arte, que nunca tivemos por aqui", revela.

O Ideb de Dom Feliciano em 2007, foi de 3,7 para as séries iniciais e 3,4 para os anos finais, o que a exclui dos 24 municípios prioritários do Rio Grande do Sul. O índice do município é definido pela única escola urbana da cidade. Ou seja, apenas os 603 alunos que nela estudam, de um total de 2.553 em todo o município, existem para efeito de cálculo do índice.