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Livros em movimento na biblioteca

Destinado à formação de leitores, o local deve promover a autonomia dos alunos e o desenvolvimento de ações pedagógicas e culturais

POR:
Raissa Pascoal
Livros em movimento na biblioteca. Bruno Algarve

O modelo de biblioteca escolar formal, silenciosa e até um pouco desconfortável, não faz mais sentido. O perfil precisou mudar para contribuir de fato com a aprendizagem e a formação de leitores competentes, além de funcionar como um ambiente de pesquisa e de promoção de atividades culturais. "A biblioteca não é um simples lugar de estoque de livros. Hoje, os alunos não vão só aprender nela, vão aprender com ela", diz Bernadete Campello, coordenadora do Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar (Gebe), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas como dar conta de toda essa responsabilidade? A resposta está na atenção a quatro aspectos fundamentais: espaço físico, acervo, mobiliário e recursos humanos.

Com esse foco, a EMEF Aristóbulo Barbosa Leão, em Vitória, por exemplo, aproveitou cerca de 150 metros quadrados disponíveis para estruturar um ambiente agradável capaz de atender aos 900 alunos do 1º ao 9º ano. A bibliotecária Marcela Lopes Mendonça Coelho é a responsável pelo funcionamento e organização do local e conta com uma boa estrutura garantida pela equipe do diretor Arnaldo Pereira Lopes. "A sala é climatizada e possui mobiliário em bom estado de conservação, com televisão e DVD, mesas redondas para facilitar o trabalho em grupo, estantes, flipchart e um computador com internet para o planejamento e o desenvolvimento de atividades", descreve o gestor. Formado com recursos da própria instituição e com o apoio de programas federais, o acervo atual tem 10 mil obras, com livros sobre a maioria das áreas de conhecimento e também títulos selecionados de literatura infantil e infantojuvenil.

Essa realidade, no entanto, não é encontrada em todo o Brasil. Segundo dados do Censo Escolar 2013, 65% das escolas do país não possuem sequer uma biblioteca. É importante saber que para mudar esse quadro não é necessário dispor de uma estrutura grandiosa. Segundo Bernadete, o Conselho Federal de Biblioteconomia e o Gebe definiram que a área mínima é de 50 metros quadrados, correspondente a uma classe para cerca de 30 alunos. O espaço deve ser suficiente para abrigar as obras e realizar empréstimos e outras atividades. A sala não pode ficar em um ponto escondido da escola e precisa permanecer aberta durante todo o período de aula, inclusive nos intervalos.

Para compor o acervo, a exigência é de, no mínimo, um livro por estudante matriculado, de acordo com a Lei nº 12.244. É recomendável que o material seja variado, com publicações de literatura, enciclopédias, jornais, revistas e DVDs. "O princípio básico é ter uma coleção adequada à comunidade, ao projeto político-pedagógico (PPP), às diretrizes curriculares e ao gosto e à capacidade dos alunos", diz Bernadete.

Na EM Padre Francisco Carvalho Moreira, em Belo Horizonte, os livros foram adquiridos com a verba da Secretaria Municipal de Educação e complementados com a ajuda do Programa Nacional da Biblioteca Escolar (PNBE). "Prezamos mais pela diversidade do que pela quantidade. Toda a comunidade tem a oportunidade de opinar", diz a bibliotecária Lília Virgínia Martins Santos. Geralmente, os professores dizem que livros ajudarão no trabalho em sala e os alunos dão as sugestões do que querem ler.

Organização a favor da leitura

Ter um espaço adequado e permitir o acesso às obras, no entanto, não garante que as crianças leiam mais. É indispensável contar com mediadores que façam a interlocução entre as publicações e os estudantes. Esse papel pode ser desenvolvido por um docente que identifique o gosto e as necessidades do público ou pelo bibliotecário. "Além de organizar a biblioteca tecnicamente, esse profissional deve atuar no vazio existente entre os repertórios culturais e o público, que não tem as referências necessárias para penetrar naquele outro mundo", diz Edmir Perrotti, professor da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do grupo Colabori, formado por pesquisadores de diversas áreas que se preocupam com a relação entre dispositivos de informação e aprendizagem. A configuração do local também faz a mediação: "A organização é um fator de criação de vínculos e que favorece a autonomia dos leitores com o acervo. Portanto, a biblioteca deve convidar e acolher os leitores", afirma.

O planejamento é importante porque o ambiente também precisa ser funcional, afinal é usado para leitura e para contação de histórias, rodas de conversa, exibição de filmes e encontros com autores. Na EM Padre Francisco Carvalho Moreira, por exemplo, além das mesas redondas para o trabalho em grupo, existe um espaço com pufes, organizado para o público jovem que deseja ler despretensiosamente.

Perrotti acredita que o mobiliário modular é a melhor opção, uma vez que permite diferentes configurações de acordo com a necessidade. As mesas e cadeiras precisam ser movidas com facilidade e as estantes devem ficar na linha da parede e preferencialmente ser fixadas, para evitar quedas. Para que os alunos alcancem os livros, sem depender do professor ou do bibliotecário, é interessante que as prateleiras tenham a altura ajustada à faixa etária de quem as utiliza. O modo de apresentar o acervo disponível também faz toda diferença. Em salas destinadas aos pequenos da Educação Infantil, por exemplo, as obras podem ser expostas com a capa virada para a frente, valorizando o apelo visual.

Outro fator que influencia na independência dos estudantes é o domínio do sistema organizacional da biblioteca. O ideal é catalogar os títulos de acordo com o padrão internacional, conhecido como classificação decimal de Dewey (CDD) e inicialmente orientar os alunos para que se familiarizem com esse modelo. A divisão por cores, por exemplo, apesar de bonita, não ajuda a preparar a criança para lidar com acervos de outros lugares. Afinal, a escola é apenas um dos espaços em que se deseja que o contato com a leitura aconteça.