Antes de começarmos a abordar o tema do nosso post de hoje, sugerimos que você ouça a música “Comida”, da banda Titãs.
Na canção, os compositores nos convidam a refletir sobre nossa fome e sede. “Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?”, perguntam. Em seguida, dão a resposta: comida e bebida são importantes, assim como a diversão, a arte, o balé… Quer dizer, as necessidades básicas são colocadas em pé de igualdade com outras, que podem ser vistas como supérfluas (mas que não são!). A leitura, afinal de contas, precisa ser entendida como um direito.
Se a leitura é um direito, precisamos agir para formar bons leitores. Cada vez que escuto uma criança ou jovem dizer “eu não gosto de ler”, meu estômago revira, sinto uma pontada forte no peito e minha cara não deve negar o meu assombro. Pode parecer exagero para aqueles que têm outras fomes, outras sedes. Mas, para mim, leitura é indispensável. Então, como mudar essa visão que muitas crianças e jovens têm?
Primeiro, é preciso ouvi-los para entender o que querem dizer com a frase “não gosto de livros”. Quando pequenos, é muito comum que adorem ouvir histórias, então o que acontece para que parem de gostar? Os livros ficam chatos?
Hoje, depois de muitas conversas com muitos alunos, entendo que, na verdade, o que os alunos querem dizer é:
- “Gosto de histórias, mas acho difícil ler.”
- “As histórias que conheço são chatas, não têm significado.”
- “Não entendo os livros.”
- “Não tenho tempo para ler.”
- “Ler é cansativo.”
Quando pequenas, as crianças estão acostumadas a ouvir as histórias lidas por pais ou professores. Mas é comum que, assim que aprendem a ler, os adultos parem de lhes contar histórias, como se a alfabetização já estivesse concluída. Mas não é bem assim. Se eu mesma reconheço, a cada nova leitura, que minha alfabetização ainda não chegou ao final, então o que dizer de um aluno de 8, 12 ou 16 anos?
As crianças e os jovens precisam, portanto, de leitores experientes que os ajudem a desbravar o mundo dos livros, mesmo depois de já estarem familiarizados com nosso sistema de escrita. É possível fazer isso de diversas maneiras:
- Ler em voz alta histórias que os alunos sozinhos não conseguiriam.
- Selecionar e apresentar livros de qualidade, que possam lhes apresentar um mundo novo, novas emoções e conhecimento.
- Ajudá-los a interpretar o que está nas entrelinhas, mostrando o tesouro escondido. Bons livros dão margem a múltiplos significados, não tão explícitos para leitores pouco experientes ou com pouco conhecimento sobre seu autor, contexto histórico e vocabulário. Boa parte do prazer da leitura está em encontrar esse tesouro.
- Ser um desbravador do novo mundo, compartilhando livros que você mesmo gostou de ler e apresentar constantemente novos autores, gêneros, editoras e coleções, a fim de abrir passagem para que o caminho depois possa ser atravessado pelos alunos de forma mais autônoma.
- Apoiar os alunos na dificuldade em achar tempo para ler e conversar sobre o assunto, buscando soluções.
- Incentivar os alunos para que sejam corajosos, porque é preciso de coragem para enfrentar alguns livros, seja pela densidade do enredo, seja pela complexidade da forma.
Esses são alguns caminhos para despertar o interesse dos alunos pela leitura. Agora, queremos saber: como você contribui para formar bons leitores em sua escola? Afinal, “é a parte que te cabe neste latifúndio”, como diz Severino no livro Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.
Boa semana, educador. Boa semana, educadora!