Passadas as celebrações de fim de ano, é natural que comecemos a retomar nossa “vida normal”: nossos pensamentos e nosso corpo voltam ao ritmo, resgatamos nossos horários, nossa alimentação, as atividades físicas…
Nessa busca por reorganizar tudo, começam os lampejos da volta à escola, às aulas, aos alunos. Não adianta negar! Ainda que na praia, à sombra de um guarda-sol, ou nas montanhas, entre um banho de cachoeira e outro, surgem lembranças e situações que trazem a vida na escola até nós. Isso é ruim? Claro que não! Apenas comprova o quanto a Educação é e faz parte de nossas vidas.
Na recepção dos alunos, algumas atividades já são clássicas: apresentar rapidamente os conteúdos do ano, explicar do que trata cada disciplina, mostrar a função dos membros da comunidade escolar e as dinâmicas de sala de aula – horários, tarefas, formas de avaliação…
Mas vejam que interessante: muitas vezes, esses primeiros contatos com os estudantes – que são a grande motivação de nosso trabalho – ficam restritos a uma relação que nos distancia deles e tende a se prolongar durante todo o ano letivo. Ao nos encontrarmos com a garotada, precisamos nos lembrar: somos humanos, constituídos por diversos outras dimensões que não apenas a profissão.
Já perceberam como as crianças e os jovens se espantam quando conhecem algo de nós que foge do cenário em que nos relacionamos? Os pequenos se assustam quando falamos que temos pais, e os mais velhos não escondem sua surpresa quando nos encontram num show, fazendo uma caminhada, ou mesmo dando risadas com os amigos em volta de uma mesa de restaurante.
Aonde quero chegar, afinal de contas?
Na ideia de que, ao retomarmos nossa rotina de trabalho, pensemos sobre todas as características que nos humanizam: nossos projetos de vida, nossos medos, as coisas que nos alegram e nos enfurecem (como pessoa e não só como educador) e deixemos que nossos alunos reconheçam logo de início que, antes de sermos professores, somos seres humanos. Simples assim!
A partir desse entendimento, é possível refletir sobre como todos temos nossas particularidades, nossas limitações e contribuições a dar. Esse é o ponto de partida para que boas relações interpessoais sejam construídas na escola, pois privilegiam o entendimento de que todos são dignos de respeito.
Uma conversa informal sobre o assunto pode ser um bom começo para se criar essa nova visão. Não um “Sermão da Montanha”, mas uma breve apresentação, em que cada um mostre quem é como pessoa.
Fizemos isso ano passado na escola onde trabalho. Primeiramente no encontro pedagógico de início do ano. Entre nós, adultos, quanta descoberta! Acreditam que, embora estivéssemos entre colegas com anos e anos de convivência, nos surpreendemos, demos risadas, nos emocionamos e compartilhamos fatos de nossas vidas que desconhecíamos uns sobre os outros e que tinham tudo a ver com quem somos?
Logo após essa reunião, combinamos que no primeiro dia de aulas cada um de nós usaria essa outra forma de se apresentar para as turmas, deixando que os alunos espontaneamente, também se apresentassem. Assim, no final do dia, eles não tinham sido simplesmente apresentados aos seus professores, mas compartilhado um pouco de si com quem iriam conviver ao longo do ano. Trata-se de humanizarmos nossas relações.
Fica aqui essa sugestão. Começar o ano dizendo: Bem-vindos, alunos! Muito prazer! Eu sou…
Gostou da proposta? Tem outras sugestões? Compartilhe nos comentários! Será um prazer ler a sua opinião sobre o tema.
Aliás, quero agradecer às boas vindas dos colegas que deixaram seus comentários na semana passada. Senti-me acolhida e ainda mais entusiasmada com a possibilidade de nossas trocas.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!
Atualização (16 de janeiro de 2014):
Na semana passada, saibam que deixei de mencionar um dado importante. Lastimável da minha parte. Queiram me perdoar! O fato é que cada sugestão ou comentário que traremos para esse nosso espaço de trocas, é sempre pautado num aporte teórico. Portanto, gostaria de ressaltar que foi a leitura do especialista francês Eric Debarbieux (Violência nas escolas: dez abordagens européias, disponível aqui) que disparou uma reflexão acerca de como nos apresentamos aos nossos alunos e colegas de trabalho. Fica aqui meu compromisso de jamais omitir os pesquisadores que sustentam nossas ideias!
Cumprimentos mineiros!
Flávia