Há bem pouco tempo tivemos uma repercussão nacional com a publicação na revista Nova Escola, do artigo “Educação sexual: precisamos falar sobre Romeo”. Foram milhares de comentários e reflexões sobre as questões de gênero ainda tão presentes e desafiando os direitos dos seres humanos de viver plenamente. Também aqui, no blog, já abrimos espaço para essas reflexões no post Escola: lugar de meninos e meninas? Não! Espaço de pessoas. Em ambos os textos, o foco foi o peso que as construções sociais – no caso a violência de gênero – têm sobre as pessoas e a sociedade. Entretanto, me deparando com a manchete “Homens em creches causam revolta dos pais no interior de SP”, da Folha de S. Paulo, abre-se outro debate que, embora de mesma natureza, trazem novos elementos para a reflexão: os homens na Educação Infantil. É fato que há em nosso país uma prevalência absoluta de mulheres na função de educadoras e professoras dos pequenos. Mas, tal constatação justifica uma desaprovação ou insegurança por parte das famílias acerca dos homens ocuparem esses papéis? Há algum motivo para que a Educação dos pequenos seja exclusividade das mulheres? Por que não há questionamentos acerca de professores homens atuarem no Fundamental II, no Ensino Médio e nas universidades?
Muito provavelmente pela influência cultural de que ‘o homem, movido muito mais pela razão, estaria mais adequadamente inserido na Educação de alunos mais velhos, em que o raciocínio mais evoluído permite uma relação menos afetiva do que aquela estabelecida com os menores’. Certo? Errado. A verdade está novamente no excesso de estereótipos sociais que cada gênero carrega eternamente, como um fardo. Mas, até quando isso vai durar? No mínimo enquanto os espaços de debate ainda forem mais restritos e/ou tendenciosos. Portanto, pensemos juntos.
A escolha sobre em que segmento da Educação irá atuar deve se pautar na formação necessária dos profissionais. É nisso que cabe cuidado e atenção; não se trata de homem ou de mulher. Acreditar que o gênero determina o público-alvo com o qual o sujeito deve trabalhar e conviver é alimentar uma ideia preconceituosa e persistente de que determinadas profissões são restritas aos homens e outras às mulheres. Novamente uma postura descabida para uma sociedade que discursa insistentemente contra qualquer tipo de violência e desigualdade.
Mas o que me chamou a atenção na reportagem foi os comentários dos pais revoltados e o fato de eles trazerem à tona outros aspectos da questão. Enquanto a chamada aponta para uma possível postura preconceituosa contra os homens no trabalho com crianças pequenas, a reclamação das famílias parece destacar a falta de formação dos profissionais, uma vez que aos concursados não foi exigido nada além do Ensino Médio. Os depoimentos dos responsáveis trazem aspectos relevantes a serem considerados com o tipo de trabalho proposto aos profissionais homens, concursados para os cargos de “cuidador” e “auxiliar”. Ambos os cargos pressupõem conhecimentos específicos acerca do desenvolvimento humano que certamente não são construídos no nível de escolaridade exigido pelo edital dos concursos. Sendo assim, é indiscutível o comentário de uma das mães – “A falta de formação em Educação é um absurdo”. Mas está ali no mesmo ‘balaio’ a fala de outra – “Colocar homem para também fazer a higienização das crianças é complicado”, o que fortalece a crença de que é arriscado confiar aos homens crianças pequenas e indefesas. Trabalhar com a higienização, alimentação, formação de valores e todos os aspectos que constituem uma Educação responsável e compromissada independe do sexo da pessoa. Uma formação sólida concede segurança e total habilidade ao profissional para lidar tanto nos momentos considerados pelas famílias como mais delicados – como as trocas higiênicas das crianças com deficiência, ou a higienização dos pequenos que ainda precisam da ajuda do adulto – quanto nos mais triviais da rotina escolar.
A insegurança de pais em relação aos filhos é sempre legítima por serem eles nosso maior tesouro. No entanto, o que estará em jogo sempre serão a competência e o conhecimento do profissional. Esses sim são aspectos que devem ultrapassar as questões de gênero e serem conclusivos nos processos de contratação de quaisquer que sejam os profissionais.
E você, o que pensa sobre homens trabalhando nas creches e na Educação Infantil? Vamos ampliar o debate! Deixe seu comentário.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!