Quanto mais estudamos sobre a convivência ética mais nos deparamos com desafios para torná-la uma realidade! Apesar disso, a oportunidade de estarmos na escola enquanto nos aprofundamos nos estudos nos permite reconhecer na instituição os aspectos sobre os quais podemos intervir.
Em um encontro recente para discutir a questão da indisciplina, realizado com as equipes das escolas nas quais estamos implantando o plano de convivência, o professor Joe Garcia, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), levantou a reflexão sobre os tipos de relação presentes na vida dos alunos que podem disparar episódios de conflitos e, assim, comprometer o ambiente respeitoso e construtivo que almejamos.
Os problemas de convivência estão fortemente relacionados a uma tríade composta por: relações depreciativas, relações inconsistentes e relações coercitivas. Embora elas estejam frequentemente presentes na vida familiar de nossos alunos, é nosso dever pensar sobre o tema no âmbito escolar. Então, vamos a elas:
As depreciativas dizem respeito à maneira como os alunos tratam e são tratados pelas pessoas com quem convivem. Costumamos perceber isso pelo uso regular e banalizado que os estudantes fazem de expressões grosseiras e desrespeitosas. É importante estarmos atentos, no entanto, para o fato de que esse tipo de relação também se dá entre os estudantes e os adultos da escola, justamente aqueles que devem inspirar condutas éticas e respeitosas. Com frequência vemos os adultos/as autoridades protagonizando episódios em que expressam desdém e rebaixamento.
Já as inconsistentes demonstram a incoerência entre discurso e prática, ou seja, a divergência de postura dos diferentes agentes da escola. Os alunos são altamente sensíveis a isso e reconhecem nas incoerências a oportunidade para transgredirem, desrespeitarem e, até mesmo, boicotarem o trabalho da instituição. Sabemos que não há uniformidade total entre ideias, mas os princípios do trabalho formativo – respeito, justiça, cooperação etc. – devem nortear as condutas porque são eles que vão minimizar o contraste trazido por essas relações.
Por fim, as coercitivas são aquelas pautadas pela imposição. Essa relação pode ser identificada entre um adulto e um aluno ou entre pares e inclui tanto ameaças de punição, como propostas de recompensas – de maneira que sempre se faz uso de reguladores externos para controlar a situação. É comum, portanto, expressões como: “Se você fizer (ou não fizer)…”, “Quando você parar…”, “Já falei, pare de …”, “Faça…”, “Entregue…” etc.
Torna-se necessário, então, reconhecer o distanciamento que cada uma dessas relações provoca no trabalho voltado para a construção da autonomia. Afinal, nelas estão presentes mecanismos que impedem o aluno de refletir e tomar consciência daquilo que é preciso na manutenção da convivência respeitosa e justa. Ao mesmo tempo, elas impulsionam posturas movidas por questões individuais, como atitudes de defesa ou ataque ou impulsionadas por interesse, quando se tem um ganho ou para escapar de uma punição. Outra consequência é a não conservação dos valores necessários à convivência e que se adequem aos diferentes espaços.
O que vocês podem estar pensando agora é que “tudo isso é muito óbvio!”. Sim, é óbvio que tais relações não nos auxiliam em nosso objetivo maior de formação e desenvolvimento do ser humano. Mas nem tudo o que é óbvio é fácil de ser colocado em prática. Está aqui o nosso desafio.
O que você acha sobre o tema? Acrescente e contribua para nossas reflexões.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi