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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Cola na prova: quando uma das partes se sente injustiçada

POR:
Flávia Vivaldi

Foto: Shutterstock

Certa vez, fui procurada por uma mãe que queria conversar sobre o que tinha ocorrido com o filho dela no dia anterior. Ela falou: “Nem ele, nem eu achamos justo!”. Antes de comentar a declaração da mãe, vou contar o que aconteceu. Estava na minha sala, quando a professora de Matemática, visivelmente chateada, entrou acompanhada de três alunos. A história era que dois dos meninos pressionaram o terceiro para que ele passasse as respostas da avaliação de Matemática, ou seja, que desse cola para eles.

A fala da professora mostrava claramente sua decepção em relação à atitude dos três estudantes, dos que colaram e do que cedeu à pressão. Com base nisso, fiz a mediação da conversa, indagando qual o princípio que foi ferido naquela situação. Os meninos logo perceberam que tinha sido a confiança eo diálogo girou em torno do quanto a verdade e a confiança podem favorecer as relações. Pontuamos que a nota baixa poderia ser melhorada por meio de outras atividades e de mais dedicação. Só então os alunos passaram a considerar a decepção que causaram com seus atos e a desconfiança que poderia passar a fazer parte da relação que tinham com a professora, com quem, por sinal, se davam muito bem. Percebendo o arrependimento dos três garotos era hora de buscar uma solução para a situação.

Como a intenção inicial da professora não era a de castigar, perguntei o que eles poderiam fazer naquele momento para resgatar a relação com ela. Ela afirmava que desejava ter o resultado real da avaliação (não por conta da nota, mas para que pudesse também avaliar o próprio trabalho), então um dos meninos propôs que refizessem a prova. Juntos, ponderamos sobre a ideia – se era justa; quando seria colocada em prática; se eles mereciam mais tempo para estudar sendo que o restante da classe não teve etc. Depois disso, chegamos a um acordo: uma nova avaliação seria feita naquele momento, na minha sala e com a minha presença. Somente assim, se verificaria, de fato, o conhecimento de cada um e, ao mesmo tempo, nenhum deles seria privilegiado com mais um dia de preparação. Claro que os meninos que colaram demonstraram certa insegurança quanto ao resultado que obteriam, mas a preocupação em corresponder à expectativa da professora foi maior. Assim, enquanto o aluno responsável por passar as informações afirmou que não participaria mais de episódios em que a confiança e a verdade pudessem ser comprometidas, os outros dois fizeram a avaliação – e, como era de se esperar, o resultado não foi dos melhores.

Voltando ao atendimento da mãe, pedi que me explicasse o queela e o filho não tinham achado justo. Ela destacou o fato do menino ter feito a prova no susto, sem ter se preparado adequadamente. Como assim? A avaliação tinha sido marcada com dias de antecedência! Com muita tranquilidade e segurança, convidei o aluno para participar da conversa, já que não só ele era a parte interessada, como tinha concordado com o combinado.  Pedi, então, que o garoto repetisse para a mãe os aspectos discutidos com a professora e apontasse o que, no dia anterior, tinha sido considerado realmente como injusto por todos. E ele falou: seria injusto eles terem uma nota que não fosse a correspondente ao conhecimento deles; seria injusto ficarem com zero por terem colado; e seria injusto, com os demais alunos, se os que colaram tivessem ainda mais dias para se preparar para a avaliação.

Levando em conta esses aspectos, até então desconsiderados pela mãe, retomei, com a ajuda do aluno, qual era o papel da escola – formar um ser humano digno, respeitoso e justo. Finalizei esclarecendo que nem sempre a justiça provoca ganhos concretos. Muitas vezes ser justo significa abrir mão dos próprios interesses. E na escola, o exercício da justiça e do respeito deve estar acima das expectativas individuais, principalmente quando elas ferem o direito dos outros. Mediante os argumentos, a mãe se desculpou por ter sido tão protetora, agradeceu os esclarecimentose foi embora. O filho, meio constrangido, também se desculpou e voltou para a sala, dessa vez mais atento quanto à diferença entre justiça e satisfação pessoal.

Esse, e outros muitos episódios, podem servir de ilustração para o trabalho com valores. O objetivo de compartilhá-lo com você, leitor, é destacar que nem sempre os alunos e as famílias se sentirão satisfeitas e confortáveis com a resolução de um conflito. Entretanto, nosso foco deve estar nos princípios morais que norteiam as ações. Destacá-los é, também, torná-los presente na vida dos alunos a tal ponto de serem resguardados e respeitados.

E você, já passou por momentos em que os alunos se sentiram prejudicados ou injustiçados com a maneira como um conflito foi resolvido? Compartilhe conosco.

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!

Flávia Vivaldi