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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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Onde está o aluno?

No retorno às aulas, as atividades rotineiras não devem desviar a atenção do que realmente importa: o desenvolvimento de cada um

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

Após as férias de fim de ano, é comum que duas ideias convivam: "começar de novo" e "daqui pra frente, tudo vai ser diferente", como dizem os compositores e cantores brasileiros Ivan Lins e Roberto Carlos. A ideia de recomeço parece guardar apenas o sentido de repetição: de tornar a fazer a mesma coisa. Contudo, ela traz também uma proposta de originalidade, pois começar de novo é fazer algo que já se costuma realizar, mas que se apresenta de forma diferente e que de agora em diante terá feições diversas, recriadas e inventadas.

Falamos dos novos professores, dos alunos que chegam para se juntar aos antigos. Porém, devemos pensar que, no retorno às atividades, todos são pessoas novas, diferentes. Ressalto, assim, a importância de os gestores terem outro olhar para percebê-los e trabalhar com eles na construção da Educação da melhor qualidade. Talvez o maior desafio, então, seja o reconhecimento de algo que é antigo e, por isso mesmo, às vezes acaba passando despercebido: a presença do estudante.

Pode parecer estranho chamar a atenção sobre a necessidade de conhecimento - e reconhecimento - do aluno no contexto escolar, mas vale refletir sobre as implicações da desconsideração do significado de sua presença. Explico, recorrendo a afirmações dos próprios gestores: há muita coisa a ser considerada no dia a dia do trabalho na escola. São muitas as exigências burocráticas do sistema educacional, as demandas das famílias, os encargos administrativos, as avaliações externas... Costuma-se dizer que tudo isso tem a ver com o aluno. Porém, no meio da confusão, há o risco de se perder o foco do que é essencial.

Ouvindo essas considerações, fico pensando nos livros da série Onde Está Wally?, de Martin Handford, ilustrador inglês, em que o desafio é encontrar o garoto de óculos, camisa e gorro listrados de vermelho e branco, em situações diferentes, mas sempre no meio de um monte de gente, animais e objetos. Na escola, os gestores têm tanto com o que se preocupar que fica difícil, às vezes, no embaralhado das situações, conhecer o aluno que chega e ter um novo olhar para aquele que retorna do ano anterior. Conhecer e reconhecer: considerar cada pessoa, com características próprias, portadora de direitos, em uma identidade que se confirma na alteridade.

Ao fazer a analogia, não pretendo, absolutamente, construir uma caricatura. Levo em conta os princípios da ética, que nos convida a refletir sobre situações complexas e contraditórias. E uma delas é a disparidade entre o discurso, que realça o significado da presença do aluno como o elemento mais importante da escola, e as práticas alienantes e discriminadoras vividas em alguns momentos. Neste recomeço, vale um novo olhar para cada estudante. Olhar não só com os olhos, mas com todos os sentidos. Um olhar-atitude. Para que a escola, renovada, ganhe cada vez mais sentido para aqueles que a buscam e ajudam a construí-la.