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O aluno sugeriu um faz de conta de cadeia. E agora?

O que fazer quando uma proposta como essa entra na roda de conversa para montar um canto de brincadeiras na escola

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Crédito: Thinkstock

Os cantos de faz de conta devem estar presentes em todas as salas de Educação Infantil e são inúmeras as possibilidades de temas: cozinha, casa, quarto de bebê e mercadinho são algumas delas.  Eles são muito importantes porque, ao fantasiar e imitar um comportamento visto anteriormente, a criança pode compreender, a seu modo, o mundo social que a rodeia. Brincar de ser a mamãe, o papai, a princesa ou o mecânico permite experimentar e entender convenções e acontecimentos.

Trocar a temática do canto nesse recomeço do ano letivo é bem propício. Vale trocar entre as salas de aula os materiais e equipamentos, assim como fazer uma campanha com as famílias para conseguir mais objetos. Geralmente as próprias crianças demonstram interesse por alguma brincadeira específica ou fazem novas propostas

Há um ano, consultando a turma, uma professora que conheço viveu uma verdadeira saia justa. Em uma roda de conversa, ela compartilhou com os pequenos que iriam trocar o canto do faz de conta e perguntou do que eles gostariam de brincar. Algumas crianças sugeriram uma oficina de carros com pista de corrida enquanto outras preferiam uma casinha igual da outra turma. No meio dessa conversa, um aluno, cujo pai estava preso, disse que gostaria de brincar de cadeia. Ele se empolgou tanto que logo deu ideias de como fazer as grades e engajou outros pequenos que já pensavam na roupa da polícia e do ladrão e na corda para amarrar os presos. Frente a essa situação, a docente decidiu prosseguir no bate-papo, mas minimizando a montagem do canto de faz de conta. Assim, ela foi questionando sobre porque alguém vai para a cadeia e outras questões referentes a esse tema. O encontro terminou sem uma definição sobre a montagem do canto.

Sem saber o que fazer, a educadora comentou a situação com sua equipe gestora que lhe advertiu sobre a impossibilidade de criar o canto sugerido pelo aluno e repreendeu por não ter cortado o assunto no início. Incomodada com o que ouviu, ela ainda compartilhou com as colegas. Essas falaram que não costumam perguntar às crianças, pois muitos cantos já têm os materiais e acessórios disponíveis na escola e fica mais prático elas mesmas escolherem.

A professora seguiu angustiada. Ela queria acolher a proposta da turma, mas também achava complicado montar o canto da cadeia. Algumas famílias inclusive poderiam reclamar na escola. No encontro seguinte, ela optou por levar 3 opções de canto e quando os pequenos perguntaram da cadeira, a docente os instruiu a brincar de polícia e bandido na hora do pátio. Lá, eles poderiam fazer de conta que um dos brinquedos é a prisão. As crianças foram convencidas com facilidade, mas ela ainda não se sentiu plenamente satisfeita e ainda hoje se questiona sobre o encaminhamento que fez.

Ouvi seu relato e achei que ela encaminhou muito bem o ocorrido tanto por que permitiu e incentivou a conversa sobre o assunto como por contornar a situação propondo que poderiam continuar brincando no pátio.  Depois, fiquei refletindo o quanto as brincadeiras simbólicas são importantes para a compreensão do mundo que nos cerca, pois certamente era isso que o garotinho que propôs estava precisando.

Você já vivenciou uma situação que te deixa sem saber o que fazer?  Compartilhe conosco.

Um abraço,

Leninha Ruiz