O que querem os jovens
As manifestações populares trouxeram uma oportunidade imperdível para a escola entender melhor os anseios da nova geração
POR: Catarina IavelbergCatarina Iavelberg é especialista em Psicologia da Educação e escreve sobre orientação educacional.
Este ano certamente ficará marcado na história do Brasil. Em diversas cidades, a população ocupou os espaços públicos exigindo mudanças na política, no transporte, na saúde e na Educação. Por meio de diferentes veículos de comunicação, presenciamos jornalistas, cientistas políticos e economistas, em sua maioria, atônitos. Ninguém entendia o que estava acontecendo nem conseguia explicar como e por que, de um dia para o outro, as pessoas resolveram sair da zona de conforto dos sofás e das redes sociais e ir às ruas reivindicar uma sociedade mais justa.
Grande parte dos manifestantes era de jovens, que estão - ou, até há pouco tempo, estavam - na escola. A mídia parece ter esquecido de perguntar a opinião de professores e gestores sobre as atitudes e os comportamentos deles. Se isso tivesse acontecido, teríamos algo a dizer? Pergunto se realmente conhecemos nossos alunos: quais são suas crenças, seus interesses e seus medos? Como eles entendem o mundo em que estão inseridos?
Há muitas maneiras de se aproximar deles. Relato aqui uma experiência que tive com uma turma do 1º ano do Ensino Médio, com o objetivo de debater as representações culturais sobre a juventude na contemporaneidade e provocar o posicionamento crítico diante delas. Na primeira etapa, o grupo leu e analisou entrevistas com especialistas, reportagens e pesquisas que traçavam o perfil do adolescente. Um dos materiais de domínio público acessados foi o Dossiê Universo Jovem MTV, que mapeou o consumo de mídia - o uso do celular, as atividades realizadas na internet, os hábitos de leitura etc. - de brasileiros de 12 a 30 anos. Foi exibido também o vídeo We All Want to Be Young (Todos queremos ser jovens, em tradução livre), disponível em versão legendada na internet. Produzido por uma empresa norte-americana de pesquisa especializada em tendências de comportamento, o curta busca definir a geração Y - pessoas de 18 a 24 anos que nasceram e cresceram em um ambiente de independência e de intenso contato social. As reflexões foram riquíssimas.
Na última etapa, os estudantes escolheram cinco produções culturais - entre letras de música, imagens fotográficas, vídeos, poemas, grafite, pinturas etc. - que retratassem algum aspecto do universo adolescente. O resultado foi surpreendente: ao compartilharem as escolhas, alguns reafirmaram os conceitos apresentados pelos materiais estudados, enquanto outros os desconstruíram. Um rapaz disse não ter encontrado uma produção que o representasse e perguntou se poderia criar uma própria. Intrigados com os diferentes tratamentos dados a temas como consumo, redes sociais, trabalho, drogas e sexualidade, os alunos concluíram que há muitas maneiras de viver a juventude, refutando, assim, os estereótipos.
O trabalho teve continuidade e os subtemas foram desenvolvidos ao longo do ano letivo por meio de uma parceria entre a Orientação Educacional e a equipe de professores. A realização de iniciativas como essa pode nos ajudar a melhorar a relação com os jovens e a intervir de forma reflexiva na construção das identidades deles. Afinal, um dos grandes desafios que os protestos de rua evidenciaram é compreender e responder de forma ética às novas demandas da sociedade.
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